As carreiras mais tradicionais e mais bem pagas do funcionalismo do Poder Executivo tiveram aumentos até 60% superiores à inflação, de acordo com um estudo encomendado pelo Movimento Pessoas à Frente, ONG com o objetivo de municiar o governo sobre a evolução da remuneração no poder público. Em média, essa elite teve ganhos 40% acima da inflação.
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A análise, intitulada Propostas de Modernização do Sistema de Carreiras do Governo Federal, compreendeu dados de 1998 a 2022 e identificou perdas para os cargos com menor remuneração. Essa distorção ocorre em razão da falta de critérios técnicos para os reajustes, informou a entidade à Folha de S.Paulo.
Segundo o estudo, há, no governo, 117 carreiras e 43 grupos de trabalho, com elevado número de tabelas salariais organizadas em diferentes padrões. A pesquisa tomou como base as tabelas adotadas pela União em 1998, reconstruindo o histórico de valorização dos salários iniciais e finais das carreiras e cargos comissionados que prevaleceram até 2022.
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“Como o governo brasileiro não tem um método técnico para auferir quanto o servidor deve ganhar nem metodologia de classificação de cargos, o estudo também mostra que os maiores reajustes e ganhos foram para categoria capazes de fazer mais pressão”, disse à Folha o economista Felipe Drumond, que coordenou o diagnóstico.
As carreiras mais privilegiadas com os aumentos ao longo dos anos pertencem ao grupo de gestão, como analistas de orçamento, de planejamento, do Tesouro Nacional e especialistas em política pública e gestão governamental.
Esses cargos acumularam aumento de 60% em termos reais e conseguiram elevar o teto de R$ 17,5 mil para R$ 28,1 mil. Esse salário fica atrás apenas da remuneração de auditor fiscal da Receita Federal, que teve reajuste de 45,4% no período, levando o teto de R$ 21,4 mil para R$ 31,1 mil.
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O cargo de advogado da União é outro destaque de carreira que conseguiu alavancar aumento generoso no período — de 19,6% — e alcançou teto salarial de R$ 28 mil. No entanto, o grupo conquistou autorização para receber sucumbência, honorário pago ao advogado por quem perdeu a ação judicial, que costumava ser um direito no setor privado, não no público. Segundo o estudo, com esse adicional, os ganhos como um todo avançaram 38,2% no período.
De 1998 a 2022, o salário mínimo teve alta de 105,8% acima da inflação, passando de R$ 130 para R$ 1.212. Porém, apesar do avanço, permanece a disparidade com as carreiras públicas. Em 1998, o salário mínimo correspondia a 2,75% do teto salarial do auditor fiscal. Em 2022, chegou a apenas 4%.
O Movimento Pessoas à Frente, responsável pelo estudo, reúne entidades como o Instituto Humanize, o República.org e a Fundação Lemann, além de especialistas na área, parlamentares, sindicatos e ONGs com visões políticas, sociais e econômicas plurais.
O levantamento da entidade sobre os salários do não incluiu o diplomata nem o oficial de chancelaria, porque a remuneração fora do Brasil tem outro cálculo e em dólar para quem mora fora do país.
Fonte: revistaoeste