Encontrar a escola ideal é desafiador para todos os pais, porém, para os pais de pessoas atípicas, esse desafio é maior, afinal, como reconhecer uma escola inclusiva para crianças atípicas? 🤔💭
A lei brasileira de inclusão garante o direito a educação inclusiva a todos os cidadãos, e nenhuma escola pode (na teoria) rejeitar a matrícula de um aluno com deficiência. Mas se você já navegou rapidamente por este universo atípico, deve saber que na prática não funciona bem assim, infelizmente.
Como pais e responsáveis, é preciso entender a diferença do aluno incluído e do aluno integrado. Esse é um ponto fundamental para compreender se a escola está apta para atender as necessidades da sua criança. Isso porque muitas escolas matriculam os alunos e os integram, mas no final das contas não estão promovendo a inclusão.
Integração ou inclusão?
Mas qual seria a diferença prática entre integração e inclusão?
Há uma frase que diz “Integração é quando você chama a pessoa para uma festa. Inclusão é quando você convida essa pessoa pra dançar”.
Na escola, com a inclusão das crianças com deficiência, precisamos entender que é preciso “chamar as crianças atípicas para dançar”. É claro que cada criança vai responder aos estímulos de uma forma diferente e precisamos respeitar as limitações de cada um (assim como as crianças típicas também têm as suas). Mas é preciso que haja esse compromisso com a alfabetização de fato, para que o aluno não seja subestimulado.
Há um senso comum em grande parte das escolas de que a participação do aluno é algo positivo apenas para a socialização da pessoa e não tem um real compromisso com a educação e alfabetização dos pequenos. Estas escolas estão mais focadas em estimular a capacidade do aluno copiar uma atividade do que o tornar capaz de fazer o exercício sozinho. Uma criança copista não é uma criança alfabetizada – e isso os pais somente serão capazes de perceber se acompanharem de perto o desenvolvimento estudantil do filho. Uma tarefa árdua que precisa ser realizada durante toda a sua vida escolar.
Como uma escola inclusiva realmente deveria ser?
Antes de falarmos sobre o que você precisa ter em mente na hora de conhecer uma escola, vamos pensar sobre o universo ideal de uma escola inclusiva:
- Cultura de aceitação e compreensão: uma escola inclusiva deve começar por nutrir uma cultura de aceitação e compreensão. Isso não se limita apenas à aceitação passiva, mas também à celebração das diferenças. É vital que a escola tenha uma mentalidade que promova a diversidade e encoraje a compreensão mútua entre os alunos, professores e funcionários.
- Adaptações curriculares e estruturais: a escola deveria trabalhar constantemente em uma abordagem flexível de ensino e aprendizagem, que pudesse ser ajustada de acordo com as necessidades individuais de cada aluno a qualquer momento.
- Suporte individualizado: o suporte individualizado é essencial para crianças atípicas. Isso pode variar desde terapeutas especializados, professores de apoio, até um plano de educação individualizado (PEI), que vise atender às necessidades específicas de aprendizagem de cada criança.
- Envolvimento familiar: escolas inclusivas são aquelas que reconhecem a importância do envolvimento dos pais no processo educacional de seus filhos. Elas procuram estabelecer uma parceria ativa com os pais, buscando compreender suas preocupações, compartilhando informações relevantes e promovendo uma comunicação aberta e constante.
- Programas de sensibilização e educação para todos: uma escola inclusiva investe na sensibilização de todos os alunos, professores e funcionários, proporcionando programas educacionais sobre diversidade, inclusão e aceitação. Isso cria um ambiente em que todos os estudantes são capacitados a entender e respeitar as diferenças.
- Promoção da integração social: facilitar a integração social é crucial para uma escola inclusiva. Isso deve incluir atividades extracurriculares adaptadas, grupos de apoio entre os alunos, eventos que promovam a interação e o entendimento mútuo, e a criação de um ambiente onde a amizade e a camaradagem possam prosperar. Isso significa envolver todos os alunos (típicos e atípicos) no processo de inclusão, fazendo com que a consciência de que a sociedade é diversa seja naturalizada por todos.
Como encontrar uma escola inclusiva?
Encontrar uma escola que não apenas aceite, mas celebre e atenda às necessidades individuais da sua criança parece um sonho distante. Por isso, separamos neste artigo algumas dicas para ajudar você a fazer a melhor escolha para a sua criança!
✨ Características físicas
O primeiro aspecto a ser observado é a questão do espaço físico. Verifique se a escola dispõe de rampas de acesso e banheiros acessíveis. Visite a maior quantidade possível de dependências da escola. A depender da idade da criança, verifique o estado de higiene do espaço da soneca. Muitas crianças deficientes são imunossuprimidas e, com isso, mais suscetíveis a doenças respiratórias infecciosas ocasionadas pela presença de mofo, ácaro e a má circulação de ar.
Já na fase de alfabetização, a sala de recursos é fundamental para que o aluno tenha espaço adequado para uma assistência personalizada no contraturno e em momentos específicos, como para realização de provas e testes assistidos. A presença de tecnologia assistiva também é desejável. Não estamos falando apenas a computadores e softwares, mas recursos de Comunicação Alternativa Aumentativa (CAA), Braile, entre outros.
✨ Características e métodos pedagógicos
O sonho de todo pai e mãe atípico é que a escola tenha um plano de ensino pensado na diversidade, materiais didáticos específicos e uma abordagem de ensino flexível. Esta demanda, ainda que seja justíssima e coerente, em muitos locais do país está reservada apenas para uma minoria da população, já que a quantidade de profissionais dedicados é muito pequena em relação a grande quantidade de alunos.
Por isso, ainda hoje encontramos poucos professores que terão uma formação específica em AEE (atendimento educacional especializado). O atendimento dedicado ao aluno com deficiência vai ocorrer, na maior parte das escolas, no contraturno onde, na rede pública, o aluno poderá contar com uma sala especializada e um profissional orientado para o ensino da pessoa com deficiência. Esse professor, portanto, deverá ter a capacitação adequada e adaptar o material didático para as necessidades do aluno. Independente da deficiência da sua criança, as escolas de maneira geral seguem diferentes linhas pedagógicas para a condução do aprendizado no ambiente escolar (Montessori, Waldorf, Paulo Freire, Vygotsky, etc).
Procure informar-se sobre cada uma delas para entender se essa metodologia se alinha com a sua expectativa de ensino.
✨ Características docentes
Um outro desejo das famílias é a presença de um auxiliar de classe exclusivamente dedicado para as crianças com deficiência. Embora a maioria dos pais faça um relato de que a rede pública é mais inclusiva que a rede privada, não podemos esperar por este profissional exclusivo para cada aluno nestas escolas. Por isso é comum que alguns pais manifestem o desejo de acompanhar o filho em sala de aula ou até mesmo pagar pela presença de um profissional para fazê-lo, mas esta prática não conta com a adesão das escolas.
Na rede estadual de São Paulo, por exemplo, a depender da demanda de alunos com deficiência na unidade, a secretaria de educação pode designar um AVE (auxiliar de vida escolar) para a instituição. Este profissional será a pessoa de suporte para o aluno com dificuldades de locomoção, aqueles que necessitam de auxílio na higiene e trocas de fraldas e também no momento da alimentação. Do ponto de vista dos professores na sala de aula regular, a boa vontade e acessibilidade do profissional é ainda mais importante que o treinamento. Porém, cabe aos pais fiscalizar e saber se o profissional está realmente alocado na referida escola.
Faça questão de uma conversa com os professores, tanto de sala de aula quanto da sala de recursos. Eles serão seu principal ponto de apoio na educação da criança. Quando a equipe está interessada em crescer junto, e abre o espaço para o diálogo, a criança é a principal beneficiada nisso tudo.
✨ Capacidade de acolhimento e escuta
Algumas escolas podem não ter experiência com crianças com deficiência ainda, e talvez você tenha poucas opções de escolas à sua volta. Não veja isso pelo lado ruim: tão importante quanto a experiência da escola, é a vontade de acertar e a boa comunicação entre família e escola. No momento da visita, questione o formato de comunicação que será estabelecido entre escola e pais/responsáveis. A escola precisa estar aberta a receber e trocar informações com você de forma rápida e sem burocracia.
Entender a dinâmica e realidade da criança em ambientes extraescolares faz toda a diferença para que o professor possa compreender melhor o universo de cada aluno. Não deixe de fazer perguntas. Se precisar, leve um papel com todas as dúvidas que você tiver, para se certificar de que nada fique de fora.
Você terá acesso a equipe multidisciplinar, ou haverá apenas uma pessoa para contato com a família? Essa comunicação vai ser direta ou burocrática? Estes são pontos importantes a serem observados. A presença de uma pedagoga qualificada para falar sobre as dúvidas e expectativas dos pais é um ponto positivo. A escola tem outros alunos com deficiência? Faça perguntas específicas sobre como a escola lida com a diversidade e a inclusão. Estes são alguns exemplos de perguntas que valem a pena ser feitas. Sugerimos uma reflexão após esta leitura para que você mesma(o) possa pensar em outras mais que sejam pertinentes à realidade da sua criança.
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Sempre alerta 👀
A lei brasileira de inclusão impede que uma matrícula seja rejeitada por conta da deficiência, mas existem escolas que encontram meios de recusar a matrícula alegando outras razões. Por isso, é importante que os pais conheçam profundamente a lei, seus direitos e direitos dos filhos, antes de fazer a visita. Alguns pontos importantes da lei, de 06 de julho de 2015, é que não há limite de alunos com deficiência em uma mesma sala de aula. Se este fato for apresentado como motivo da recusa, a escola pode ser autuada. Entretanto, vale lembrar que uma instituição com esse tipo de conduta pode não ser um bom local para a convivência e aceitação das necessidades específicas da sua criança.
O vocabulário utilizado para se referir a deficiência da criança por parte da pessoa que apresentará a escola é algo a ser observado. Termos como “downzinho”, “criança especial” e afins são um indicador de que a equipe não tem o mínimo preparo para lidar com o público PCD. Lembre-se que incluir não é apenas aceitar a matrícula da criança na escola, é também saber o que fazer para que ela se desenvolva. Cada criança é única, e encontrar o ambiente educacional certo pode fazer toda a diferença em seu desenvolvimento e felicidade.
Escolas inclusivas não apenas proporcionam educação de qualidade, mas também promovem um senso de pertencimento, aceitação e respeito mútuo, construindo um futuro mais inclusivo para todos! 🫂❤️
Fonte: leiturinha