O Bicho-Pau da Ilha de Lord Howe (Dryococelus australis), conhecido também como “Lagosta das Árvores”, é um dos insetos mais raros do mundo. Tão raro, que acredita-se que existam somente de 20 a 30 espécies vivendo na natureza. Uma população de animais tão frágeis, que durante muito tempo, acreditava-se na verdade que já se encontrava extinta.
Por aproximadamente 80 anos, cientistas e entomólogos ao redor do mundo já tinham se dado por vencidos quanto à existência desses animais. Sendo originários da homônima ilha de Lord Howe, a 600 km ao leste da costa Australiana, sua última aparição havia sido em 1920, sendo declarados oficialmente extintos em 1986.
Em 1918, uma invasão de ratos naufragados tomou a Ilha de Lord Howe, e encontraram nos bichos pau sua principal refeição, levando ao seu desaparecimento completo da ilha.
Mas, de forma surpreendente, eles estão de volta. Durante a década de 60, rastros de fezes e mudas (trocas da casca) desses animais indicavam a possível existência de alguns espécimes em um local próximo à ilha, cuja confirmação veio somente anos depois.
Em 2001, durante uma escalada à agulha vulcânica conhecida como Pirâmide de Ball, um grupo de alpinistas descobriu aqueles que viriam a ser os últimos exemplares vivos desses animais.
Prontamente em 2003, uma equipe de resgate foi enviada para coletar cuidadosamente quatro desses indivíduos para iniciar um processo de preservação e um programa de reprodução.
Isso porque, apesar de sua importante e surpreendente redescoberta, eles ainda são animais criticamente ameaçados de extinção, ainda mais levando em consideração onde foram encontrados.
A Pirâmide de Ball é um afloramento vulcânico localizado a 20 km da Ilha de Lord Howe. Situado no mar de Tasman, em pleno Oceano Pacifico, o afloramento é alvo de eventos climáticos extremos, como tempestades, e deslizamentos de Terra. e uma agulha vulcânica extremamente inclinada da Ilha de Lord Howe.
Não basta a necessidade de se agarrar a um terreno extremamente complicado, os bichos paus ainda precisavam enfrentar outro desafio. Esses animais se alimentam de uma única planta, a Melaleuca howeana. O problema é que essa planta está sendo continuamente estrangulada por uma espécie de videira invasiva na região.
Sobreviver em um local tão desolado e em condições tão adversas só foi possível graças a uma habilidade bastante peculiar das fêmeas. Elas são capazes de realizar a partenogênese.
A partenogênese é um tipo de reprodução assexuada, onde as fêmeas conseguem produzir descendentes sem a necessidade da fecundação pelos machos. Na prática, elas conseguem gerar embriões, cujos animais são clones da própria fêmea.
Com tantos desafios para se manter na natureza, alguns zoológicos passaram a desenvolver programas de reprodução para esses animais. Com a pesquisa dos zoológicos de San Diego, Bristol, e Melbourne, hoje é possível encontrar milhares de indivíduos dessa espécie de bicho-pau.
“Permitir que nossos visitantes se aproximem dessa espécie rara e icônica é uma ótima maneira de conscientizar sobre os animais menos conhecidos que mantêm o mundo em funcionamento”, explica em nota ao zoológico de San Diego, a entomologista Paige Howorth.
Os cientistas nos zoológicos esperam, agora, poder reintegrar esses animais à sua ilha de origem, assim que o problema dos ratos por lá for resolvido. Desde 2019, cachorros caçadores de ratos auxiliam as autoridades e pesquisadores a detectar e eliminar os ratos da ilha.
Desde então, um renascimento ecológico vem sendo observado, com diversas outras espécies animais e vegetais ressurgindo. Para Nicholas Carlile, ecologista do governo do estado de australiano de Nova Gales do Sul, logo, o bicho-pau de Lord Howe será o próximo.
“Esta espécie era uma vez uma importante convertedora de matéria vegetativa e desempenhou uma função importante na ecologia da ilha como um engenheiro ecossistêmico, aumentando a riqueza e acelerando a reciclagem de nutrientes.”
Você pode assistir a toda a saga de desaparecimento e retorno desse bicho em animação através deste link aqui.
Fonte: abril