Enquanto humanidade composta por tão rica diversidade, o que justifica a pecha de exótico atribuída a determinados povos e culturas? Quais são os critérios exotificantes? Como se constrói a exotificação do outro? Essas questões nortearam a criação de “Exóticus”, dramaturgia de Túlio Paniago com encenação do Theatro Fúria. O palco de estreia é o Cine Teatro Cuiabá, que receberá duas apresentações, nos dias 02 e 03 de fevereiro, ambas às 20h. A entrada é um quilo de alimento não perecível e os ingressos são limitados.
Com 25 anos de história, o Theatro Fúria é uma das companhias mais tradicionais de Mato Grosso. Dos mais de 20 espetáculos montados durante esse período, este será o primeiro cujo texto não é assinado por Péricles Anarckos. “A experiência de montar pela primeira vez um texto que não é meu, no Theatro Fúria, está sendo estimulante porque as ideias contidas nele são coerentes com os meus pontos de vista em relação ao que é exótico”, comenta Péricles, que é ator, diretor e dramaturgo.
A encenação propõe uma experiência para além da contemplação passiva do espetáculo. “O processo de construção da encenação tem como lastro uma das frases do texto: ‘Todos são exóticos, mas uns são mais exotizados do que outros’. O público vai perceber que o espetáculo fala dele. Não será uma peça para o público que se autodefine como comum. É uma peça para um público ativo, que tem tesão em aceitar e propor convites”, adianta Péricles.
A ideia é criar um ambiente festivo, mas não de uma celebração comum. “Uma pesta de teatro, que é uma mistura de peça com festa. Uma festa estranha com gente esquisita. Aliás, a Cervejaria Cuiaverá está fermentando uma cerveja original especialmente para este espetáculo”, revela Carolina Argenta, atriz que divide o palco e a vida com Péricles.
Quem é exótico?
Exótico, do grego Exótikós, significa “alguém de fora, estrangeiro”. Já a palavra “estrangeiro” se origina do latim “extraneus” (estranho). A conotação de exótico, portanto, está relacionada à ideia de estranhamento e repulsa ao que vem de fora, que não é familiar, que é incompreensível.
A própria cultura mato-grossense (e toda a diversidade que se estende para além do eixo Rio-São Paulo) tende a ser classificada como exótica. “É uma concepção colonial. Uma cultura que se julga hegemônica define uma estética vigente e tudo que escapa à lógica é exótico, portanto inferior. Sob essa perspectiva, manifestações populares não são necessariamente culturais, e sim folclóricas. Quem produz arte regional não é artista, é artesão. Não se trata de uma disputa semântica, mas da construção de sentidos no imaginário coletivo. Citando Gilberto Gil, ‘não existe folclore, existe cultura’”, comenta Túlio Paniago.
“Exóticus” foi um projeto contemplado pelo Edital Viver Cultura, promovido pela Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT).
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Fonte: unicanews