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Grafite gigante transforma prédios na periferia de SP: Artista de rua traz cores e vida à comunidade

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Os paredões de um conjunto habitacional no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo, acabaram de ganhar um colorido especial! A artista de rua Mimura Rodriguez transformou os prédios da periferia em uma verdadeira exposição, com um grafite gigante, de 236,25m².

Intitulada “Enraizadas”, a obra revitalizou as paredes, que antes eram monocromáticas e de pintura mal conservada, dando nova vida ao espaço que abriga muitas famílias. Como num museu de rua, o trabalho leva, ainda, um pouco de arte urbana, ancestralidade e representatividade à periferia.

“De mãos paradas minha cabeça fica cheia, preciso estar constantemente movimentando e mudando o que vejo, sinto e percebo do mundo de lugar. Seja com tinta, tecido, linhas. O importante é estar em movimento”, afirma a grafiteira, em entrevista ao Só Notícia Boa.

O mural e a arte

O grafite criado por Mimura mostra três mulheres fortes, batalhadoras, mesmo que em diferentes momentos da vida.

A primeira é uma avó com as marcas dos anos vividos em seu rosto. A segunda, uma mãe que amamenta o filho como pode e a terceira, é outra que carrega o bebê a tiracolo em meio ao dia de labuta.

No fundo, galhos e raízes de árvores que contam uma história sobre o ciclo perene de famílias lideradas por mulheres, nas quais filhas encaram a maturidade de virar mães, que depois tornam-se avós.

Esta é a imagem que passou a estampar os três paredões do conjunto habitacional da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). O grafite gigante, que retrata gerações de mulheres matriarcas, foi inaugurado, no último dia 12.

“Enraizadas apresenta a árvore em suas raízes, seu fruto e sua flor. Com uma poética que sugere não somente a beleza, mas também a dureza e secura de muitas partes desse processo. O ciclo. O eterno retorno. Cada criança que nasce é um ancestral que retorna. Estou aqui porque já estive em todas as partes”, detalhou Mimura.

Reconhecimento do MAR

O grafite começou a ser pintado no dia 4 de dezembro e levou aproximadamente uma semana para ser finalizado.

O desenho foi selecionado pelo projeto Museu de Arte de Rua (MAR), da Secretaria Municipal de Cultura, da Prefeitura de São Paulo. Com nota 106,3, a obra “Enraizadas” foi classificada em 7° lugar, na categoria “Altura”, com o tema “Maturidade”.

Mimura explica que o local escolhido para a pintura também se conecta diretamente com a proposta poética da obra, já que os paredões do conjunto habitacional abrigam histórias duras de diversas mulheres periféricas que ali vivem e encaram uma rotina como matriarcas.

Fruto de um relato pessoal, o desenho se conecta ainda com a história de sua criadora, que é mãe e valoriza a potência das mulheres em seus trabalhos artísticos.

Atuante no mundo das artes desde 2012, Mimura se tornou mãe em 2020, aos 31 anos e em meio à pandemia. Ao viver o maternar da filha e se conectar com a avó, Mimura passou a ter as “mulheres” como o foco das obras dela.

“Tenho aprendido muito sobre a potência das mulheres e como sustentamos nossa comunidade em diversos aspectos, mesmo que estes não sejam tão valorizados quanto deveriam. Tento trazer a força da ancestralidade, essa que não é apenas sobre parentes que viveram há muito tempo, mas também sobre os que estão aqui conosco”, comentou a grafiteira, explicando que, em a arte dela, é busca dar visão e voz a esses elementos.

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Vida de artista de rua

Mestiça – filha de mãe japonesa e pai uruguaio -, Mimura é periférica, nascida no bairro do Jabaquara, zona sul de São Paulo. Aos 34 anos, mora na cidade de Guarulhos, na Região Metropolitana.

Além de ter a força das mulheres de sua família como inspiração, ela também enfatiza que o ambiente em que cresceu é sua raiz e seu norte em tudo o que faz na arte.

Além de grafiteira, Mimura é graduada em cenografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ela tem no currículo aproximadamente 50 pinturas na carreira. Como grafiteira, tem admiração pelos artistas de rua que abriram caminho para que a arte urbana passasse a ser considerada uma profissão real.

Além do prazer de pintar, a rua trouxe à artista a vontade de “criar grande pra geral ver”, além da “satisfação imensa” em saber que é algo público e não privado.

Temas relacionados à ancestralidade, vivenciada através da maternidade e de sua espiritualidade, compõem a poética de Mimura, que, além da capital paulista, também realizou pinturas em muros no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Jacareí, Guarulhos e Cubatão, e tem trabalhos de xilogravura e tapeçaria expostos em São Paulo e em Berlim, na Alemanha.

Confira o Instagram da artista para conhecer outras obras: @mimurarodriguez.

 

Fonte: sonoticiaboa

Sobre o autor

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Fábio Neves

Jornalista DRT 0003133/MT - O universo de cada um, se resume no tamanho do seu saber. Vamos ser a mudança que, queremos ver no Mundo