No início da primeira intifada dos palestinos, em 9 de dezembro de 1987, Mosab Hassan Yousef tinha 9 anos de idade. Nasceu em Ramallah sob a atmosfera de ódio a Israel. O menino então era um dos que atiravam pedras em militares israelenses, em Jabalyah, contra a presença deles na região.
No ano seguinte, o pai dele, xeque Hassan Yousef, foi um dos fundadores do Hamas. A partir de então, o jovem Yousef foi preso diversas vezes, antes de, aos 18 anos, se arrepender e se tornar um informante das Forças de Defesas de Israel (FDI). Assim ele salvou muitas vidas que, antes, no radicalismo que cega desde a infância, queria destruir.
Para contar sua história, Yousef estará em São Paulo, a convite da StandWithUs Brasil, em evento no Clube Hebraica, no sábado 25.
Depois da prisão já na primeira intifada, seguiram-se para Yousef, filho mais velho entre cinco homens e três mulheres, outras várias detenções.
Em 1999, já fora do Hamas, ele se converteu ao cristianismo. Em 2007 mudou-se para os Estados Unidos. Em 2010, lançou sua autobiografia O Filho do Hamas.
O seu pedido de asilo político nos Estados Unidos, depois de negativa e uma ampla análise de seus antecedentes, foi aceito. Nos Estados Unidos e em Israel, as palavras de Yousef têm crédito. Ainda mais por ele ter visto de perto o que denuncia.
“O que ele diz é autêntico”, afirma a Oeste o cônsul de Israel em São Paulo e Região Sul do Brasil, Rafael Erdreich. “Esse discurso dele é valioso, para a segurança de Israel e como um exemplo de que é possível modificar conceitos a partir de uma realidade.”
Em declaração ao New York Post, Yousef explicou como ocorreu sua transformação. Sua visão de mundo começou a mudar em meados dos anos 1990, na prisão de Megiddo. Lá ele testemunhou presos do Hamas torturando palestinos que consideravam traidores.
“Durante esse período, o Hamas torturou e matou centenas de prisioneiros”, observou Yousef. Ele conta que em suas memórias estão cenas de agulhas inseridas sob as unhas e de corpos carbonizados com plásticos queimados.
Testemunha de torturas
Além da brutalidade da tortura, as acusações eram injustificadas em muitas, senão, todas as vezes. “Nunca esquecerei seus gritos”, prosseguiu. “Comecei a fazer-me uma pergunta. E se o Hamas conseguisse destruir Israel e construir um Estado. Irão destruir o nosso povo dessa forma?”
Já em 1996, a agência de segurança de Israel, Shin Bet, percebendo a postura de Yousef, propôs que ele se tornasse informante. A partir de sua libertação da prisão, em 1997, Yousef ganhou o apelido de “Príncipe Verde”, em alusão à cor do grupo terrorista.
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O palestino se tornou uma fonte confiável. Em um momento, conta, era remunerado pelas FDI e pelo próprio Hamas, entre outros.
Mas teria evitado muitas mortes com isso, inclusive um atentado contra o ex primeiro-ministro de Israel Shimon Peres, então Ministro das Relações Exteriores, em 2001.
Um dos que ele possivelmente levou à prisão foi o líder do grupo, Marwan Barghouti, que comandou a primeira e a segunda intifada.
No acordo com Yousef, o era que os denunciados não fossem mortos.
Ele não se arrepende de seus atos. Para Yousef, o Hamas não pensa na libertação da Palestina, mas na destruição de Israel.
“Desde a minha infância, ouço as histórias [daqueles que são] pró-Palestina e daqueles que usam a chamada ‘causa palestina’”, disse, ao programa Uncensored, de Pierce Morgan, na Inglaterra. “Sou o representante legítimo das crianças palestinas. A criança dentro de mim fala!”
Ao se rebelar contra o Hamas, ele acabou renegado pelo pai. O xeque foi libertado da prisão em julho de 2023..
Na época em que foram vazadas as notícias sobre o novo posicionamento do filho, o xeque Hasan Yousef divulgou um comunicado por meio de seu advogado.
Acusou Israel de ter feito chantagem com Yousef durante a sua passagem pela cadeia em 1996.
O filho Yousef sempre repete que nada do que fez foi por dinheiro e que seu interesse visa à preservação do ser humano. Depois dos ataques de 7 de outubro, em Israel, ele percorre o mundo para difundir sua mensagem.
“Esta é a minha mensagem como ex-membro do Hamas, como filho de um dos fundadores do Hamas: chega disto”, desabafa. “Se não os pararmos agora, a próxima guerra será mais mortal.”
Fonte: revistaoeste