Ao longo da vida, o corpo pode ligar ou desligar certos genes: esse processo, que se chama alteração epigenética, ocorre em resposta a coisas como estresse, desnutrição, tabagismo e exposição a poluição. E passa para os descendentes.
Um exemplo é a chamada “fome holandesa”. Durante a Segunda Guerra Mundial, a população da Holanda passou fome. Com isso, sofreu alterações epigenéticas (1) que reduziram seu gasto calórico e aumentaram a capacidade de absorver energia dos alimentos. Foi um mecanismo de defesa. Mas ele, hoje, é um problema: torna os holandeses predispostos à obesidade.
Estudos em cobaias revelaram que o mesmo acontece com traumas emocionais – eles ativam ou desativam genes, e as modificações são transmitidas de pai para filho (2).
Mas, no futuro, talvez haja como evitar isso. Cientistas canadenses submeteram ratos a situações estressantes, e constataram (3) que isso aumentou a atividade dos genes ASIC 1, 2 e 3, relacionados à ansiedade – neles e em três gerações de descendentes.
Mas aí os animais foram tratados com amilorida: um remédio comum, hoje usado como diurético. E ele, por razões não plenamente compreendidas, reverteu o processo, normalizando os padrões de atividade cerebral.
Fontes (1) DNA methylation as a mediator of the association between prenatal adversity and risk factors for metabolic disease in adulthood. E Tobi e outros, 2018. (2) Implication of sperm RNAs in transgenerational inheritance of the effects of early trauma in mice. UM Mansuy e outros, 2014. (3) Enhanced harm detection following maternal separation: Transgenerational transmission and reversibility by inhaled amiloride. M Battaglia e outros, 2023.
Fonte: abril