📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Aumentando o monofosfato de adenosina cíclico (cAMP), que por sua vez inibe a formação de armadilhas extracelulares de neutrófilos (NET), os compostos bioativos do gengibre ajudam a neutralizar a hiperatividade dos neutrófilos em certas doenças autoimunes
  • Para combatar neutrófilos hiperativos e complementar programas de tratamento para aliviar os sintomas de doenças como artrite reumatoide, lúpus e síndrome antifosfolípide, os pesquisadores foram estimulados a encontrar um suplemento natural que pudesse ajudar
  • Com benefícios como redução da azia, o gengibre influencia positivamente o intestino, acelerando o esvaziamento gástrico. Juntamente com outras especiarias, pode ajudar a suprimir o ganho de peso a longo prazo, por aumentar a diversidade do microbioma intestinal
  • Dores associadas à menstruação, enxaquecas, osteoartrite e dores musculares de início tardio podem ser moduladas pelo gengibre. Propriedades cardioprotetoras, que podem ser atribuídas à atividade antiplaquetária e anti-hipertensiva, também foram encontradas na pesquisa

🩺Por Dr. Mercola

O gengibre (Zingiber officinale) era um item de luxo, cerca de 5.000 anos atrás. Os pesquisadores descobriram agora o mecanismo através do qual o gengibre ajuda a reduzir os sintomas de doenças autoimunes, a raiz pode ser consumida fresca, em conserva, cristalizada, em pó ou moída. 

O gengibre é originário da e é da mesma família da cúrcuma e do cardamomo. As suas origens exatas não são claras, entretanto, já que o gengibre não cresce na natureza. Há pelo menos 5.000 anos tem sido usado medicinalmente e na alimentação.

O comércio foi assumido por comerciantes árabes e difundido por toda a Europa, quando o Império Romano caiu. Até hoje ele continua a ser usado na medicina tradicional. Mulheres grávidas, pessoas com pressão arterial elevada, doenças de pele, cálculos biliares ou úlceras pépticas devem limitar a sua ingestão de gengibre, segundo recomendam os praticantes ayurvédicos, que promovem o gengibre para melhorar a digestão e destruir toxinas. A adição de gengibre à sua dieta pode fazer mais do que impactar doenças autoimunes, conforme sugerem os dados.

Para combater doenças autoimunes e inflamações, gengibre pode ser de grande ajuda

Em um modelo animal em que os animais tinham doenças autoimunes, síndrome antifosfolípide ou lúpus, pesquisadores da Universidade de Michigan demonstraram que um composto bioativo no gengibre ajudou a diminuir a produção de anticorpos e a interromper a progressão da doença, em janeiro de 2021.

Até o estudo mais recente publicado pela Universidade do , o mecanismo biológico subjacente às propriedades anti-inflamatórias não tinha sido identificado, embora o gengibre tenha sido tradicionalmente usado para ajudar a diminuir a . A equipe de pesquisa observou a atividade relatada anteriormente contra o lúpus e a síndrome antifosfolípide, no artigo publicado na JCI Insight. 

No estudo atual, em camundongos autoimunes e em humanos saudáveis, eles exploraram como a ingestão de um extrato inteiro de gengibre poderia impactar os neutrófilos. O estudo examinou como a formação de armadilhas extracelulares de neutrófilos (NET) influenciou a inflamação. A formação de NET(conhecida também por NETose), pode ajudar a reduzir a inflamação e os sintomas em pessoas com diferentes tipos de doenças autoimunes, quando contida. 

Estruturas microscópicas parecidas com teias de aranham são o que chamamos aqui de NET. Contribuindo para o desenvolvimento e progressão de diversas doenças autoimunes como síndrome antifosfolípide, lúpus e artrite reumatoide, as NETs promovem a coagulação e a inflamação.

Suplementos de 20 miligramas de gingeróis foram administrados por pesquisadores a voluntários saudáveis ​​durante sete dias, neste ensaio. Responsável pela inibição da NETose, a suplementação aumentou o monofosfato de adenosina cíclico (AMPc), conforme descobriram os pesquisadores.

O coautor sênior Dr. Jason Knight, professor associado do departamento de medicina interna, divisão de reumatologia, na Universidade de Michigan, disse: “Nossa pesquisa, pela primeira vez, fornece evidências do mecanismo biológico subjacente às aparentes propriedades anti-inflamatórias do gengibre nas pessoas”.

“Não são encontrados em variedade medicamentos prescritos ou suplementos naturais, que sejam conhecidos no combate aos neutrófilos hiperativos. Portando, acreditamos que programas de tratamento já em andamento podem ser complementados com eficiência real pelo gengibre. No sentido de ajudar a aliviar os sintomas das pessoas, o objetivo é ser personalizado e mais estratégico”, acrescentou.

Em pessoas com doenças inflamatórias onde os neutrófilos desempenham um papel proeminente, inclusive no tratamento da COVID-19, os investigadores esperam, que com os resultados deste estudo ajudem a angariar financiamento para ensaios clínicos utilizando gengibre.

Efeitos conhecidos no trato gastrointestinal

Os dados mostram que o gengibre oferece uma série de efeitos gastroprotetores, inclusive contra dispepsia (indigestão), pois o que você come e bebe tem impacto direto no desenvolvimento de azia. Ajudando a prevenir a azia, o gengibre pode reduzir a pressão no esfíncter esofágico inferior. Também previne a distensão abdominal, dispepsia e flatulência.

Outro fator que influencia na azia, é o esvaziamento gástrico. E os ensaio clínicos demonstraram como o extrato de gengibre pode aumentar a motilidade gastrointestinal acelerando esse esvaziamento. Para ajudar a controlar os sintomas da síndrome do intestino irritável(SII), embora um pequeno estudo piloto tenha mostrado que o gengibre não era mais eficaz do que um placebo, ele é usado como um remédio caseiro popular por pessoas com SII.

Coloque em infusão por alguns minutos duas ou três fatias de raiz de gengibre com 2 xícaras de água quente. Para ajudar a diminuir um potencial risco de azia, experimente beber aproximadamente 20 minutos antes de uma refeição. 

Num estudo de 2022, os investigadores observaram que dados anteriores demonstraram que tomar cápsulas de especiarias, poderia afetar favoravelmente a composição das bactérias intestinais após apenas duas semanas. Dentre essas especiarias estão: canela, orégano, gengibre, pimenta-preta e pimenta caiena. Para adicionar uma mistura de ervas e especiarias, incluindo canela, alecrim, cominho, açafrão, orégano, gengibre, tomilho e manjericão a uma dieta controle, eles contrataram 54 adultos com risco de doenças cardiovasculares.

Três doses diferentes foram avaliadas pelos pesquisadores – 1,5 colher de chá por dia, três quartos de colher de chá por dia ou um oitavo de colher de chá por dia. Eles descobriram que aqueles que consumiam três quartos de colher de chá ou 1,5 colher de chá em doses diárias aumentaram a diversidade intestinal, representando uma mudança saudável no microbioma intestinal. A testagem foi feita após quatro semanas de consumo de ervas e especiarias. 

Condições crônicas como a diabetes tipo 2 e obesidade tem sido associada a diminuição da diversidade. A autora do estudo Penny Kris-Etherton, professora de ciências nutricionais da Universidade Evan Pugh na Penn State, disse: “A pesquisa mostrou que as pessoas que têm muitos micróbios diferentes têm melhor saúde e uma dieta melhor do que aquelas que não têm muita diversidade bacteriana”.

Conhecido por ser benéfico para a função imunológica e o metabolismo do fígado, o grupo bacteriano Ruminococcaceae, especificamente, teve seu aumento notado pelos pesquisadores. Foi observado pelos pesquisadores que estudos anteriores apontavam que poderia se suprimir o ganho de peso induzido pela dieta e a obesidade a longo prazo desta família a enriquecendo. 

O gengibre poderia aumentar a apoptose e a diferenciação, especialmente na mucosa do cólon nas criptas, bem como reduzir a proliferação do epitélio colorretal, conforme mostraram os dados de um estudo piloto. Sugerindo que reside uma propriedade quimioprotetora que reside na capacidade de regular a função e a viabilidade celular, estes resultados foram consistentes com outros dados de investigação.

Alívio da dor e gengibre

Incluindo a inibição das prostaglandinas, foi demonstrado em estudos clínicos que a dor pode ser modulada por uma infinidade de mecanismos, até o gengibre. Dores associadas à menstruação, osteoartrite, enxaquecas e dores musculares de início tardio, tem sido tratadas tradicionalmente com o uso do gengibre.

Pesquisadores já encontraram mais 400 substâncias químicas identificadas em extratos da raiz do gengibre e continuam encontrando. Para se protegerem dos efeitos secundários dos medicamentos relacionados com o uso a longo prazo ou como tratamento profilático, recentemente, mais pacientes com doenças ligadas à inflamação crônica estão considerando opções naturais de alívio da dor.

A forma como o gengibre tem sido usado para tratar várias condições e o método pelo qual os compostos ativos ajudaram a reduzir os sintomas de doenças inflamatórias crônicas, foi examinado através de uma revisão narrativa de 10 anos de ensaios clínicos randomizados.

Foram avaliadas a eficácia do gengibre, mediante seis estudos clínicos, nos sintomas de dismenorreia. A descoberta indica que o período mais comum de consumo de gengibre foi durante os primeiros três dias da menstruação. Os estudos mostraram eficácia em mulheres com dismenorreia na diminuição da dor.

Ensaios clínicos randomizados usando gengibre oral ou tópico contra a osteoartrite do joelho foram avaliados em uma revisão de dados. O gengibre ajudou a reduzir a dor conforme sugestão de dois estudos e o uso tópico de um óleo essencial aromático foi avaliado por outros dois estudos, como alternativa para o alívio da dor a curto prazo, que os pesquisadores acreditavam ter potencial.

Os estudos em humanos não foram numerosos, embora existam boas evidências in vitro e em modelos animais para demonstrar que o gengibre pode reduzir os sintomas de doenças inflamatórias crônicas, especialmente a dor, segundo concluiu a revisão.

A expectativa de resultado poderia diferir entre etnias e culturas conforme teorizaram os investigadores, por isso era importante confirmar os promissores efeitos de alívio da dor numa população mundial, já que muitos dos ensaios clínicos em humanos foram realizados na Ásia. 

Seu coração e o gengibre

Pesquisadores estão descobrindo ainda mais benefícios para a saúde provenientes do gengibre, conforme continua a crescer o reconhecimento dos benefícios para a saúde no uso de ervas e especiarias. O gengibre pode ter um efeito significativamente positivo na saúde do coração, conforme demonstram dois estudos de 202

No estudo, com especial ao sistema cardiovascular, os investigadores optaram por rever as propriedades fitoquímicas dos componentes bioativos do gengibre e os benefícios para a saúde que apresenta em diversas doenças. 

Pesquisadores descobriram que o gengibre estava entre as ervas utilizadas para desenvolver novos medicamentos, mais eficazes e com menos efeitos colaterais, depois de uma abrangente pesquisa na literatura. Eles observaram que os efeitos cardioprotetores podem ser atribuídos à atividade anti-hiperlipidêmica, antiplaquetária e anti-hipertensiva do gengibre. Uma nova visão sobre o tratamento de doenças cardiovasculares são oferecidas por estas atividades biológicas, sugerem os pesquisadores.

O segundo estudo analisou efeitos do extrato de gengibre no desenvolvimento final de insuficiência cardíaca, na fibrose cardíaca e na hipertrofia de cardiomiócitos. O estudo começou usando fibroblastos cardíacos cultivados em laboratório e cardiomiócitos. Antes de serem estimulados com fenilefrina, foram primeiro tratados com extrato de gengibre. 

Comumente induzidos pelo tratamento medicamentoso, o aumento na área de superfície dos cardiomiócitos poderia ser suprimido pelo extrato de gengibre, conforme dados de laboratório mostraram. Incluindo insuficiência cardíaca congestiva, doença cardíaca hipertensiva e doença cardíaca isquêmica. O extrato também suprimiu os níveis de mRNA do peptídeo natriurético cerebral (BNP) e do fator natriurético atrial (ANF), que são regulados positivamente em uma variedade de distúrbios cardíacos.

Os pesquisadores usaram ratos, que foram tratados cirurgicamente, fornecendo em seguida, durante oito semanas, uma dose diária de extrato de gengibre. Por fim, o peso do coração foi medido e comparado com o peso corporal, após os camundongos serem submetidos à análise ecocardiográfica. Os pesquisadores descobriram que tiveram uma redução no esperado aumento da espessura da parede posterior e uma diminuição na disfunção sistólica, os ratos que tomaram o extrato de gengibre.

É evidente que os efeitos globais também podem influenciar positivamente a saúde intestinal, reduzir a dor e oferecer alguma proteção ao sistema cardiovascular, embora o estudo apresentado tenha demonstrado que o gengibre tem um efeito positivo em pessoas que têm doenças autoimunes específicas. Os compostos bioativos do gengibre estão relacionados às propriedades anti-inflamatórias, bem como muitos desses efeitos.