A pergunta despretensiosa é feita pela dona no momento de confirmação da reserva: a que horas gostariam de tomar o pequeno-almoço? Eu, que geralmente prefiro o último segundo, me vi ansiosa na segunda manhã e fui logo pedindo para antecipar. A razão tem nome: Mariana. A doce Mariana, uma brasileira de voz doce e abraço macio, discreta que só, caprichosa nos mínimos detalhes.
Mariana deixa a mesa posta no horário combinado, com sorte numa das mesinhas ao ar livre em meio aos imensos arbustos de lavanda. Na hora marcada, encena uma coreografia: primeiro traz as jarrinhas de leite e suco de laranja feito na hora. Depois, o prato mais bonito de frutas que você vai ver na Europa (o exagero é fruto da empolgação): morangos cortadinhos, triângulos de abacaxi, rodelas de kiwi, manga picadinha, melão de duas cores, melancia, uvas, gomos de laranja, mirtilos e chia só para decorar.
Enquanto isso, o pão estará no forno para sair com a casquinha bem crocante, escoltado por mini croissants também quentinhos e micro panquecas. Geleias, manteiga em temperatura ambiente, queijos alentejanos (incluindo um de cabra fresco delicioso) e finas fatias de peito de peru acompanham, junto com dois potinhos de mais capricho: camadas de iogurte intercaladas com camadas de granola, um fiozinho de mel e mais frutinhas no topo.
Ainda não acabou! Mariana vai então para o fogão preparar os ovos. Orgia bem-vinda, saem longas e onduladas fatias de bacon fininhas para acompanhar. Em dias mais light, cogumelos refogados com tomate cereja. Duas horas e algumas badaladas do sino da Sé depois, o fim de semana ganha contorno de férias.
Não faz muito tempo que o café da manhã se transformou na minha refeição preferida do dia. Durante longas décadas, eu só ia me lembrar de comer à hora do almoço. Ou então passava as manhãs a uma maçã. Mas desde que me entendo como jornalista de viagens, amo colecionar as melhores memórias de café da manhã. Elas não têm necessariamente a ver com buffets pantagruélicos e pirotecnias mil, pelo contrário. Eu gosto mesmo é de detalhe, de cuidado, de capricho, de coisas pequenas e feitas com amor. De água de coco com hibisco e raminho de lavanda para enfeitar. De mimo ou de “cheiro”, como gosta de brincar a Adriana, dona da pousada que é vencedora deste título na minha modesta opinião em todo o Brasil: a Aldeia Beijupirá, na Rota Ecológica, em Maceió.
Pois bem, voltemos ao Alentejo. O melhor café da manhã de Portugal vem com um pequeno jardim de plantas aromáticas e uma piscina bem embaixo da torre da Catedral da Sé de Beja. Vem com salas adornadas por lindos arcos e decoradas em tons terrosos. Vem até com quartos! Sete, no total: quatro mezaninos no exterior, três dentro da casa principal. Todos com lençóis de 400 fios e água aromatizada deixada toda manhã. Tem mais: vem com um castelo do século 13 a poucos passos de distância.
ANOTE AÍ: o “pequeno almoço” está incluído nas diárias da Aljana Guesthouse, em Beja (desde € 100), mas também pode ser servido a não hóspedes, mediante disponibilidade e reserva com antecedência (€ 10 por pessoa).
Fonte: viagemeturismo