Alguns acontecimentos da nossa vida se tornam memórias afetivas e lembranças que duram a vida toda. Especialmente quando, numa situação mais difícil ou delicada, somos acolhidos por amigos, familiares, conhecidos.

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Receita é feita pela mesma família há mais de 30 anos. (Foto: Arquivo pessoal)

Eu, aqui atuando como repórter/personagem, tenho uma memória afetiva com um salgado chamado de enroladinho de presunto e queijo.

Na pré-, saía de casa sempre atrasada para ir à escola e, muito cedo, não sentia fome, então, não tomava café. Ainda hoje, sou assim, tenho um ritual ao acordar e só sinto fome algum depois.

Bom, adolescente dificilmente tem grana sobrando, então, nem sempre eu tinha dinheiro para comprar lanche na hora do intervalo que, naquela época, chamávamos de “recreio”.

E aí que surge uma pessoa especial na minha vida. a chamamos de Leninha. Eu a conheci em um curso de e costura, ofertado pela prefeitura. Nem eu me tornei costureira, nem ela. Mas, ela aprendeu a fazer salgados, o bendito enroladinho de presunto e queijo e vendia na porta da minha escola, todos os dias.

Então, nos dias de fome na hora do intervalo quem me salvava era a Leninha – quando sobrava salgado, ela mandava me chamar e me dava, isso mesmo gente, ela me dava. Não é lindo isso?!

Quando não podia dar, ela me vendia “fiado” e eu pagava depois.

E claro, quando eu tinha dinheiro, corria para comprar dela em retribuição. Fato é que a Lena se tornou muito importante para mim e eu tenho uma gratidão enorme pelo que ela me fez, acho que ela nem sabe o quanto sou grata, já que nos mudamos de cidade e há anos não a vejo.

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São feitos mais de mil salgados por mês. (Foto: Arquivo pessoal)

A história do enroladinho

Bom, mas estamos aqui para falar do enroladinho de presunto e queijo, que é uma verdadeira iguaria em Poxoréu, a 259 km de Cuiabá.

Nos anos 90 era o salgado mais pedido na cantina da Escola Estadual Juracy Macêdo que, na época era mantida por dona Valdi Lélis Juiz, popularmente conhecida como vó Budí. Ela vive da venda de salgados há mais de 30 anos e conta que era uma disputa.

“Tinha criança que pedia para reservar enroladinho porque senão ficava sem. Acaba muito rápido”, conta ela.

Ela cuidava da cantina os períodos da manhã, tarde e noite. “Tinha que faltava brigar um com o outro por causa do enroladinho”.

Com a idade, vó Budí parou de fazer salgados, mas deixou a “herança” para os filhos. Hoje, a renda da família ainda vem da venda dos salgados, mas agora, por encomenda. E quem toma conta da cozinha é o Antônio Lélis Juiz, filho dela, a quem todos conhecem como Tonho.

Juntos, eles fazem certa de mil enroladinhos por mês, que são entregues para lanchonetes, cantinas das escolas e para pessoas que encomendam. Aos sábados e domingos a venda é feita da casa deles mesmo. A pessoa pode ir até lá e comprar.

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Vó Budí e Tonho entregam salgados para as lanchonetes e vendem em casa. (Foto: Arquivo pessoal)

Tonho também é lapidador de pedras oriundas dos garimpos de Poxoréu. Ocorre que, durante a pandemia, as vendas de joias caíram bastante e para incrementar a renda, eles voltaram a investir nos salgados. Agora, a renda quase total vem dos enroladinhos e das esfirras.

De olho na receita! Tome nota!

E o Primeira Página foi atrás dessa receita que há anos faz alegria de crianças e adultos, na escola ou não.

A receita para 20 enroladinhos inclui:

  • 400 ml de água
  • 100 ml de óleo
  • 5 ovos
  • 2 colheres de fermento
  • 1/2 colher (de sopa) de sal
  • 1 colher de sopa de açucar
  • 2 colheres de manteiga
  • 2 kg de trigo

Modo de fazer

Mistura todos os ingredientes e amassa até ficar no ponto. Vai colocando trigo até a massa ficar homogênea e consistente. Uma massa firme. Deixe descansar por 20 minutos, tampada com um pano. Após o descanso faça bolinhas de, mais ou menos, 6 cm de diâmetros. Em seguida, passe-as no cilindro ou, para quem não tem cilindro, pode abrir com um rolo.

Tonho explica que a quantidade de ingredientes usado para o recheio depende de cada um, “nós nunca medimos, mas o presunto nós colocamos uma fatia e o queijo que colocamos é ralado. Depois, é só enrolar. Feito o rolinho, passa gema do ovo com um pincel para dar aquela cor amarelada e colocar pra assar por cerca de 30 minutos, com forno a 250° (no caso deles, o forno é industrial).

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Enroladinhos prontos para assar. (Foto: Arquivo pessoal)