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Saints Row e o futuro do gênero sandbox

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Fato: a franquia Saints Row passou de todos os limites do bom-senso (e da diversão) com Saints Row IV, em que o Chefe dos Saints, agora presidente dos Estados Unidos, tem que repelir uma invasão alienígena. O próximo passo, claro, era o inevitável reboot.

O novo Saints Row, embora tenha o mesmo nome do primeiro game lançado em 2006, mantém o foco principal no absurdo e diversão sem limites, enquanto atualiza a narrativa para os anos 2020. Sim, este é o primeiro título do gênero sandbox pensado para ser mais inclusivo e politicamente correto, por mais contraditório que isso possa parecer.

Diferente, mas ainda Saints Row

Primeiro de tudo, esqueça TUDO o que você sabe da história anterior. Nada foi aproveitado, nem mesmo o enredo do primeiro game. A história aqui é 100% original, focada na origem da gangue, que agora se chama apenas The Saints.

O protagonista, que possui o nome genérico de “Chefe”, vive na cidade fictícia de Santo Ileso, uma mescla doida de Las Vegas e Austin, Texas, e divide um apartamento com a mecânica Neenah, o DJ aspirante Kevin, e o almofadinha Eli. Eles são um grupo de bandidos independentes, que fazem pequenos golpes e bicos alternativos para pagarem as contas.

O game começa com o primeiro dia de trabalho do Chefe na Marshall Defense Industries, uma corporação militar privada, que divide o poder de Santo Ileso com outras duas grandes gangues, os Los Panteros e os Idols. Neenah e Kevin são também membros destas duas, respectivamente.

Embora inicialmente ligados a seus trabalhos, os quatro logo se dão conta de que ao invés de trabalharem para outros, eles terão mais sucesso na vida ao se organizarem como o quarto poder da cidade, e vão devolver em dobro tudo o que passaram na mão de seus desafetos.

O jogo coloca à sua disposição a ferramenta de customização de personagem mais livre que já se viu. Primeiro, e mais importante, você pode mudar a aparência de seu ou sua Chefe quando você quiser, e não apenas as roupas. Cabelo, maquiagem, feições, tatuagens, aspectos físicos, TUDO pode ser alterado, se você quiser, a cada nova sessão de jogo, e quantas vezes desejar.

O game vai tão longe na liberdade que, assim como a ferramenta presente em Cyberpunk 2077, é possível escolher tipos de mamilos e mexer até na genitália; calma, você pode escolher o ícone de censura também, ou desligar completamente a nudez (o jogo tem censura 18 anos, é bom lembrar). É possível, inclusive, criar um avatar transsexual.

Conforme seu progresso avança, você irá adquirir mais e mais itens de customização, para deixar seu/sua Chefe com a sua cara. Ou não, vai do gosto do freguês.

A jogabilidade não mudou, bem como as opções de atividades continuam diversas. Há muitas missões alternativas a serem realizadas, desde caçar procurados a fazer saltos de wingsuit, e algumas curiosas novidades, como uma missão que consiste em deixar avaliações negativas em estabelecimentos em um app (!), que dispara um confronto com uma das três facções rivais.

Na hora do combate, você tem diversas armas à disposição, e uma técnica chamada “Fluxo” que permite aplicar uma execução, quando a barra está cheia. E conforme evolui, recebe novas habilidades e incrementos à energia, resistência, etc.

Já o mapa de Santo Ileso é bem grande, com locações que variam entre centros urbanos e regiões mais afastadas, desertos, litorais, tem de tudo. Vagar pelas regiões sem destino, ou curtindo as paisagens, é também um passatempo por si só.

Visualmente, porém, Saints Row derrapa. A qualidade gráfica se mantém em um padrão entre plataformas, no que a Volition dividiu pelo menor denominador comum, os consoles da 8.ª geração. Enquanto o game está adequado no PS4 e Xbox One, ele fica devendo no PS5 e Xbox Series X.

Caso a desenvolvedora libere no futuro patches gráficos para os consoles atuais, Saints Row ficará bem mais bonito.

O mundo mudou. O sandbox também

As mais radicais diferenças em Saints Row estão na narrativa, o que não surpreende: muitas das decisões de roteiro usadas no game original não mais são adequadas, comercialmente falando, sendo preciso apelar também para o público millenial, e se ajustar ao que é hoje considerado sensato. Já começa pelo fato de que o avatar padrão do Chefe, usado nos materiais promocionais, é uma mulher.

As gangues rivais não são mais categorizadas por etnia, como os Vice Kings (afro-americanos) e os Los Carnales (latinos) da cronologia original, e sim por características e hobbies. A Los Panteros, por exemplo, é formada por marombeiros amantes de monster trucks; os Idols são clubbers, que usam roupas com neon e armas como boleadeiras de shows em baladas; os Marshalls, sendo uma paródia de empresas como a Blackwater, tem um arsenal avançado à sua disposição.

A trupe do jogador também reflete a necessidade de a atual geração de buscar suas próprias aspirações, ao invés de se adequar ao status quo de um emprego “comum”. Os primeiros capítulos, em que o protagonista começa como um recruta da Marshall, Neenah é um membro dos Panteros, e Kevin, dos Idols, serve para demostrar como a insatisfação crescente de cada um, leva à conclusão de que o grupo terá mais sucesso sendo “seu próprio chefe”, um mantra que você ouvirá Eli repetir bastante.

Claro, o Chefe continua sendo um psicopata viciado em adrenalina, e seus companheiros não são muito diferentes, mas os personagens, assim como uma cebola, têm camadas. Todos entraram para a vida bandida para bancar seus estudos, financiar suas carreiras artísticas, ou simplesmente, pagar o aluguel e comprar o rango da noite.

O novo Saints Row busca humanizar os Saints, tornando-os criminosos com que o jogador se importe, ao invés de se focar em ser um “simulador de pessoas horríveis”, como a franquia Grand Theft Auto; aliás, vale mencionar que o sexto título da franquia da Rockstar passará por mudanças semelhantes, e bem profundas, na narrativa.

Parece um tanto estranho pensar que justo o gênero sandbox, implementado geralmente em jogos onde você é um criminoso, esteja passando por uma reformulação para se tornar mais inclusivo e politicamente correto; por outro lado, esse público também consome, e tem muito dinheiro para queimar.

Dá para dizer que Saints Row será o batismo de fogo da nova fase do gênero sandbox; sua recepção poderá influenciar o que veremos em GTA VI, e em outros games de desenvolvedoras concorrentes.

Seja o que quiser ser

Embora Saints Row jogue dentro das regras do moralmente aceito em 2022, ele o faz sem trair sua essência e amor pelo absurdo, desta vez mais pé-no-chão (mas não muito). Não espere por tramas mirabolantes, a ação aqui gira em torno de um bando de pés-rapados subindo na hierarquia do crime, deixando de trabalhar para os outros e se tornando uma gangue poderosa, por mérito próprio.

A Volition conseguiu criar um título que não deve em nada à franquia, e que, ao mesmo tempo, servirá como o primeiro indicador do que ainda é aceitável em um sandbox, e o que o público de hoje não mais tolera, e esse feedback será valioso para a desenvolvedora e a distribuidora Deep Silver, e também para os concorrentes; é certo que a Rockstar e a Take-Two estão de olhos bem abertos.

O game brilha na jogabilidade variada, nas inúmeras missões disponíveis, e com o seu extremamente livre sistema de customização, que permite alterar seu Chefe sempre que quiser, e mesmo que seus gráficos não sejam lá tão bonitos na nova geração, a diversão está mais que garantida, por muitas e muitas horas.

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Saints Row — Ficha Técnica

  • Plataformas — PS5, Xbox Series X|S, PS4, Xbox One, Windows e Google Stadia (analisado no PS5, com cópia cedida pela PLAION/Koch Media);
  • Desenvolvedora — Volition;
  • Distribuidora — Deep Silver;
  • Classificação Indicativa — 18 anos.

Pontos fortes:

  • Muitas opções de customização, quando e como você quiser;
  • Ação caótica garante a diversão;
  • Bastante conteúdo fora das missões principais.

Pontos fracos:

  • Gráficos da geração passada nos consoles atuais.

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