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‘Não havia amanhã. Mas fugi para o Brasil’, diz sobrevivente do Holocausto

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Quatro sobreviventes do Holocausto farão uma homenagem a São Paulo no dia 25 de janeiro, data do aniversário da cidade, como forma de agradecimento pelo acolhimento da metrópole na fuga do regime nazista da Alemanha. Dois dias depois, em 27 de janeiro, se celebra o Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto.

Durante as décadas de 1940 e 1950, após a Segunda Guerra Mundial, mais de 300 sobreviventes do Holocausto encontraram refúgio na cidade de São Paulo. Muitas nacionalidades que fugiram do massacre nazista, foram recebidos de braços abertos pelos paulistanos e, assim, conseguiram refazer as suas vidas se sofrer ameçadas e viver com restrições.

Ala Szerman, George Legmann, Joshua Strul e Marika Gidali são os quatro sobreviventes participantes da campanha.]

George nasceu em um campo de concentração nazista de Dachau, foi para São Paulo depois da guerra e por isso considera que “nasceu no inferno e vive no paraíso”. Ala era apenas um bebê quando a família fugiu dos nazistas para o interior da Rússia. Depois de passar por muitas dificuldades, incluindo quase morrer de frio na Sibéria, ela conseguiu chegar em São Paulo em 1957, onde foi recebida de braços abertos, se casou e teve filhos.

Marika se escondia em orfanatos, ruínas e porões para se esconder dos nazistas que caçavam judeus em Budapeste, e passou tanta sede e fome que chegou a ter fungos na boca que a impediam de sequer falar. Ela chegou em São Paulo em 1947, pôde reconstruir sua vida e fundar a renomada e inovadora companhia de dança Ballet Stagium.

Em entrevista a VEJA, o sobrevivente Joshua Strul, de 89 anos, relembrou da infância na época em que o ditador Adolf Hitler subiu ao poder na Alemanha e instituiu o nazismo. Strul conta que sofreu muita humilhação e que viu a mudança brutal repentina na rotina.

Joshua foi levado a um campo de concentração aos 12 anos de idade apenas por ser judeu, tendo quase morrido de frio, fome e sede, e conseguido vir para o Brasil em 1956 e “renascer em São Paulo”.

“Na época, minha vida virou do avesso. Aos nove anos de idade eu tinha que usar a estrela amarela como símbolo de vergonha. Lembro que chorei para a minha mãe perguntando porque precisava usar aquela estrela humilhante. Minha mãe me abraçou e disse que momentos difíceis estavam chegando. As escolas judias foram fechadas, alunos foram expulsos de universidades e eu também fui expulso da escola”, lembra Strul.

Segundo o romeno, à medida que o tempo passava, mais problemas surgiam. A família de Strul enfrentou desemprego, fome e tiveram que sair da cidade natal após a invasão de soldados alemães.

“Meu pai era um comerciante próspero, mas perdeu tudo. Quando as tropas alemãs invadiram a Romênia, eles fizeram o medo na minha cidade. Nas fachadas da loja da minha família, eles colocaram um cartaz escrito ‘Fique longe de judeus. Não compre lá’. Passamos muita dificuldade na rua”, conta.

“Um decreto cruel do governo antissemita decretou a expulsão de todos os judeus. Eu e minha família fomos para o campo de concentração provisório. Foi horrível, ganhamos um mísero pedaço de pão para sobreviver. A rotina no campo era de medo e angústia, pois não sabíamos o dia de amanhã. Passei fome, sede e quase morri de frio, até que vim para o Brasil e comecei uma nova vida”, acrescenta.

Strul chegou ao Brasil em 1956. Arrumou um emprego, fez uma família e diz ser grato eternamente pela população paulistana pela oportunidade que teve.

“Eu tenho um sentimento enorme de gratidão por ter conseguido sobreviver o holocausto e não ter sido mais uma vítima. Agradeço a São Paulo. Achei um segundo lar, dei a volta por cima, fiz uma família e superei o meu trauma de guerra. Eu sou muito grato”, conclui o romeno.

O Memorial do Holocausto de São Paulo, a StandWithUs Brasil e a Federação Israelita do Estado de São Paulo (FISESP) apoiam a campanha institucional “Obrigado Paulistanos”, organizada pelos quatro representantes de sobreviventes.

O objetivo é perpetuar estas e outras histórias, para que não sejam esquecidas ou negadas. Cada vez menos sobreviventes do Holocausto restam para contar suas histórias – eles têm, em média, 84 anos de idade.

Um estudo da UNESCO junto ao Congresso Judaico Mundial revela que 49% das publicações sobre Holocausto no Telegram nega ou distorce fatos e a História acaba distorcida pelo negacionismo. Além disso, as violências de ódio e intolerância crescem significativamente. Os crimes de ódio apontaram 67% de crescimento no começo de 2022.

Denúncias de intolerância religiosa cresceram 141% no Brasil em 2021. O número de casos de apologia ao nazismo saltou de menos de 20 para mais de 100 entre 2018 e 2020. A quantidade de células nazistas também apresenta pico de crescimento e atinge seu maior número, 1117. No fim de 2022, o país registrou três ataques de ódio em escolas.

Fonte: Veja

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