Sophia @princesinhamt
CENÁRIO AGRO

Workshop da Embrapa para aprimorar cálculos de emissões de fósforo na agricultura: confira as novidades da ferramenta de avaliação ambiental

2025 word3
Grupo do Whatsapp Cuiabá

A Embrapa promoveu, em 16 e 17 de junho, o II Workshop de Aprimoramento da ICVCalc, ferramenta brasileira dedicada à Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) na agricultura. O encontro teve como foco o aperfeiçoamento de modelos que estimam emissões de fósforo para o solo e para a água superficial (rios, lagos, etc). O evento reuniu especialistas de várias instituições e áreas do conhecimento para fortalecer a base científica e operacional da ferramenta ICVCalc, usada para inventários de emissões de culturas agrícolas.

Na abertura, o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Meio Ambiente, Robson Barizon, destacou a importância crescente dos estudos com Avaliação do Ciclo de Vida – ACV para embasar debates sobre sustentabilidade no campo. “Esse é um tema de extrema relevância. Esperamos que esse encontro traga avanços significativos e eleve o nível dos resultados gerados com a metodologia ACV, realizados na Embrapa e no Brasil”, afirmou.

Durante o evento, Marilia Folegatti, pesquisadora da Embrapa, destacou o caráter colaborativo das discussões e o valor científico das contribuições reunidas. “É um trabalho original, com grande potencial para a agricultura brasileira. A Avaliação do Ciclo de Vida exige uma análise detalhada de entradas, saídas e impactos ambientais de um sistema produtivo, com base em bancos de dados e modelos matemáticos robustos”, explicou.

Para a pesquisadora Nilza Patrícia Ramos, a discussão é estratégica por tratar de um tema de impacto e ainda pouco debatido na ACV, para Brasil. “É uma oportunidade importante para criar uma rede de discussão sobre métodos ajustados para representar as contribuições da produção agrícola brasileira, para a eutrofização de águas superficiais, em cálculos que usam a ACV como ferramenta. Estamos lidando com uma lacuna que precisa ser preenchida com dados e conhecimento técnico nacional”, afirmou.

Avanços esperados

O principal objetivo do workshop foi aprimorar os modelos de estimativa de emissões de fósforo e metais pesados na ICVCalc, buscando maior confiabilidade, representatividade nacional e aplicabilidade prática. As discussões se concentraram na escolha de métodos e valores para representar com maior precisão os fatores cobertura do solo e (C) e práticas de manejo conservacionistas (P) nas equações de erosão — que impacta fortemente emissões relacionadas às águas superficiais, por carregar elementos contaminantes, vindos das áreas agrícolas.

O professor Paulo Sérgio Pavinato, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), com larga experiência na temática relacionada ao uso do fósforo na agricultura, destacou que o evento representa um avanço importante para o desenvolvimento de ferramentas que calculem o balanço de nutrientes no sistema solo-planta-atmosfera. “Estamos trabalhando na construção de uma base de dados, que integre dados sobre o fluxo de nutrientes, como o fósforo, e seu potencial de impacto ambiental. A ideia é entender melhor a entrada e a saída desses elementos nos sistemas produtivos, especialmente aquela adicionada via fertilizantes”, explicou. Segundo ele, a ferramenta será útil para produtores, técnicos e a indústria, ao permitir uma avaliação mais precisa do destino dos nutrientes aplicados e dos riscos associados à sua movimentação no ambiente.

“Esse tipo de informação será fundamental para embasar pesquisas futuras e orientar práticas agrícolas mais sustentáveis”, completou.

Entre as metas do evento estão adaptar o modelo da ICVCalc para estimar emissões de fósforo suscetível à erosão; validar a possibilidade de aplicar os mesmos modelos para metais pesados; ampliar a base de dados com parâmetros confiáveis e de abrangência nacional; facilitar o uso da plataforma por pesquisadores e técnicos em todo o Brasil; e criar uma rede de colaboração científica voltada a futuras demandas em Avaliação do Ciclo de Vida.

Marcílio Martins Filho, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), afirmou que a conservação do solo é o foco de sua atuação e que os modelos de erosão são a base desse trabalho. “Desde que comecei a participar das discussões sobre ACV, ainda na pandemia, venho colaborando com a construção de modelos que atendam às necessidades da Embrapa. Essa troca de experiências amplia nosso conhecimento e fortalece o desenvolvimento da modelagem que queremos fazer no Brasil”, avaliou.

A pesquisadora Isabella de Maria, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), também uma especialista renomada na área de conservação de solos, alertou para o agravamento dos processos erosivos diante das mudanças climáticas. “A erosão sempre foi um problema sério e, com as alterações no clima, tende a se intensificar. Temos registrado chuvas intensas e atípicas, principalmente no verão, que causam danos em diversas cidades do interior. Em alguns casos, o solo das lavouras foi literalmente arrastado para áreas urbanas, o que nunca havia acontecido antes”, relatou.

Segundo Isabella, os impactos extrapolam as áreas rurais. “No campo, conseguimos aplicar tecnologias e corrigir danos com mais rapidez, mas o material transportado — como fósforo, fibras e metais pesados — pode afetar severamente os corpos d’água e gerar prejuízos ambientais consideráveis”, alertou. Para ela, os efeitos externos da erosão, como assoreamento de rios e danos à infraestrutura, podem ser até mais graves do que as perdas dentro da propriedade, como redução da produtividade ou morte de mudas.

“Quando avaliamos esse balanço, percebemos que os impactos ambientais externos superam, em muito, as perdas produtivas internas”, disse.

Já Maria Cléa de Figueiredo, pesquisadora da Embrapa Agroindústria Tropical, chamou atenção para a necessidade de adaptar os modelos internacionais às realidades brasileiras. “Grande parte dos modelos e parâmetros que usamos hoje foi desenvolvida para países como a Suíça, com condições muito distintas das nossas. Isso compromete a representatividade dos resultados”, afirmou.

Segundo ela, o debate técnico atual oferece uma oportunidade valiosa para revisar essas tabelas de fatores e propor métodos de cálculo mais ajustados às características regionais. “Nossas culturas perenes, por exemplo, são bastante diferentes das europeias e precisam ser consideradas nos modelos que orientam a análise de impactos ambientais”, concluiu.

Rede de cooperação

Ao final do workshop, os participantes reforçaram a importância de manter a articulação entre os especialistas e instituições envolvidas, consolidando uma rede de cooperação técnica e científica voltada ao desenvolvimento contínuo da ICVCalc. A proposta é que os aprimoramentos debatidos sirvam como base para projetos integrados e ajudem a posicionar o Brasil como referência na produção de dados confiáveis sobre sustentabilidade agrícola.

A rede pretende alinhar esforços em torno de uma ferramenta nacional de Avaliação do Ciclo de Vida, com aplicabilidade em políticas públicas, certificações, projetos de pesquisa e estratégias do setor produtivo voltadas à economia de baixo carbono.

Os coordenadores do evento foram os pesquisadores Marilia Folegatti, Nilza Patricia Ramos, Cristiano Andrade, da Embrapa Meio Ambiente e Adriana Pires, da Embrapa Agropecuária Oeste.

Fonte: cenariomt

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidária que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.