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Vida além das Doenças Terminais: Importância de manter a esperança

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A palavra terminal, quando vem depois da palavra doença, soa como um desastre, talvez um furacão ou um tsunami. Os alicerces do doente, de sua família e de seus amigos são abalados. Para alguns, o abalo é tão grande que a casa tende a cair, é um momento não só de dor, mas de súplica ou de raiva, é hora de pedir um milagre a Deus ou de contestar sua vontade. Afinal de contas, como ficam os planos ainda não concretizados? E aquele pedido de desculpas que nunca foi feito? Aquela dívida que vai ser deixada ou aquele dinheiro guardado, que não foi destinado a ninguém, tampouco dividido entre aqueles que o herdariam por direito ou a aqueles que dele mais necessitam? 

É aí que se pensa a vida dividida em duas partes, uma antes da condição de terminal e outra depois de esta ser instalada. Os sentimentos reduzem-se ao medo e à incerteza; a busca de um milagre também é incerta, mas não deixa de ser feita. A princípio, aparece a incredulidade, a negação de que isso não estaria acontecendo. As simples preocupações do cotidiano não parecem ter nenhuma importância, são insignificantes; planos minuciosamente traçados desmoronam-se; o futuro é o dia seguinte, talvez daqui a pouco. 

Os tratamentos alternativos, muitos deles fazem parte dessa busca, assim como remédios caseiros, porções ditas milagrosas, rituais místicos, pesquisas em andamento em diferentes partes do mundo. Chega-se a esquecer que enquanto se tenta evitar a morte, abre-se mão de viver a vida que resta, que nem sempre é curta. Muitas vezes ainda há qualidade de vida satisfatória e tempo suficiente para grandes realizações. 

(Vídeo: Marcos Estevão)

O doente que recebe o diagnóstico de uma enfermidade terminal, além de todo comportamento de negação, tem a percepção da efemeridade da vida. O tempo curto faz que o doente muitas vezes perceba mais a vida, enquanto ela está se perdendo. É quando o doente se autoavalia, lembra das coisas boas que fez e arrepende-se das coisas que julga terem sido desagradáveis. O doente, quando alcança o grau ideal de consciência, mostra não apenas resistência, como também resiliência. É quando ele se dá o direito de rir, irritar-se, agradecer, desejar como qualquer outro ser humano. 

Aos familiares e amigos cabe entender que ainda há vida, que precisam escutar ativamente seu membro doente, sempre ao seu lado, acompanhando e testemunhando sua jornada, respeitando seus brados de dor e seu silêncio frente às suas dúvidas, de momentos de grande esperança e outros de perda dela. Necessário é que estejam sempre lá. 

Hoje existe uma nova especialidade médica, de cuidados paliativos, que não significa desistir da vida, mas de vivê-la o melhor possível, visando ao alívio do sofrimento físico e mais, que o doente seja visto como uma pessoa mais importante que sua doença. 

A medicina é uma arte nobre, mas até a nobreza falha. A medicina peca quando foca mais ou apenas na doença e esquece do doente, vendo-o muitas vezes como apenas um amontoado de exames. É claro que, como evoluímos rapidamente, conhecemos cada vez mais as enfermidades, como combatê-las, controlando seu avanço ou as curando, mas não devemos deixar de ver e ouvir o doente, pois somente assim conseguiremos tratar a doença e o doente e individualizar o tratamento. 

Eu costumo dizer que as doenças terminais têm início, meio e fim. O início do fim é com o prognóstico da enfermidade, o meio é o doente quem faz e o fim pode vir cedo ou tarde, depende do meio. O importante é fazer do meio a vida que lhe falta, a vida de cada um, seus desejos, suas reparações. O doente deve tentar ver e ouvir o que lhe passou despercebido, compreender que cada dia faz parte do aprendizado da vida e ensinar um pouco do que aprendeu ao longo dos anos vividos. 

Não é tão fácil como parece nessas palavras que escrevo, mas é possível, porque a certeza da limitação da vida e a certeza da proximidade do fim despertam a conformação de algo que, mais cedo ou mais tarde, vai chegar para todos nós, de forma lenta ou de modo súbito. O importante é que aprendamos a usar nossa fé para que cada dia de vida valha a pena ser vivido e que nossa história seja motivo de orgulho e exemplo para nossos sucessores. 

O maior erro é quando o doente pergunta se sua vida valeu a pena, porque sua vida ainda não acabou. Não se há de chorar pelo fim da vida, porque este ainda não aconteceu, como também não se deve lastimar pelo futuro que não se vai viver, pois nada sabemos do dia de amanhã, o futuro a Deus pertence. Se necessário, devemos ter apoio psicológico, psiquiátrico e religioso. Assim, enquanto mantivermos nossa sanidade mental, seremos seres vivos pensantes com condições de executar muito do que pensamos, afinal de contas, a vida não se reduz à patologia.

Fonte: primeirapagina

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