Os egípcios construíram suas grandes pirâmides com blocos de pedras calcárias que pesavam entre 25 e 80 toneladas. No mundo dos nematelmintos, porém, dá para realizar grandes feitos de engenharia sem precisar de tanta matéria-prima. Na verdade, alguns desses seres rastejantes e quase microscópicos constroem arranha-céus com os próprios corpos.
Pesquisadores do Instituto Max Planck de Comportamento Animal e da Universidade de Constança, ambas instituições alemãs, passaram meses observando pêras e maçãs apodrecidas em pomares locais para entender mais sobre os vermes que trabalham em sua decomposição.
Foi aí que os cientistas perceberam que centenas de nematelmintos de um milímetro se juntavam para formar estruturas até dez vezes maiores do que suas alturas individuais.
Eles trouxeram alguns espécimes da espécie Caenorhabditis elegans para o laboratório, para analisar as torres molengas e gosmentas de perto. Os pesquisadores perceberam que essas construções naturais eram montadas em questão de horas.
As descobertas sobre as habilidades de engenharia das minhocas foram publicadas no periódico Current Biology. A operação é notavelmente coordenada, com alguns vermes se desprendendo da estrutura para funcionar como braços do grupo e obter informações sobre o ambiente ao redor.
Por que constroem?
As pirâmides do Egito Antigo foram construídas para servir de necrópole para os faraós, guardando seus corpos e bens. No caso dos nematelmintos, os cientistas quebraram a cabeça para entender o que levava eles a construir essas estruturas impressionantes. Será que é só a vontade de ser mais alto, ver o mundo de cima?’
Os pesquisadores testaram as reações dos vermes a cutucadas e até a visitas de moscas. As torres vivas eram bem reativas a qualquer presença de estímulo, e costumam mover a construção na direção da haste de ferro que as cutucou ou da mosca que passou do lado.
Dá para perceber por esse comportamento que algumas dessas torres são feitas com o objetivo pegar carona em algum outro animal maior, como as moscas, e pular para o próximo banquete de fruta podre. Isso explicaria como esses animais de um milímetro conseguem se locomover alguns metros de uma fruta para a outra.
As próprias torres podem servir como estruturas de transporte, formando pontes para os nematelmintos. Os animais usaram essa estratégia no laboratório dentro das placas de Petri, para andar de uma superfície à outra.
O estudo mostra que mesmo os menores animais têm muito para ensinar sobre comportamento coletivo. Os arranha-céus de minhocas são mais do que construções com matéria-prima viva: parecem ser superorganismos coordenados, que se movem como se fossem um único bicho.
Agora, os pesquisadores querem continuar estudando as torres de minhoca para entender se esse comportamento é realmente coletivo ou competitivo. Ainda não está claro até que ponto comunicam para construir essas estruturas, que parecem não ter nenhuma hierarquia – ainda não dá para descartar a possibilidade, bem mais frustrante, de que elas estejam simplesmente subindo umas nas outras em buscar de um lugar ao Sol (quer dizer: à mosca).
Estudar outras criaturas que criam estruturas vivas, como as formigas, pode ser um bom caminho para entender os nematelmintos construtores.
Fonte: abril