Plantas cultivadas ao ar livre podem estar acumulando microplásticos diretamente do ar. Um estudo liderado por cientistas chineses mostrou que folhas de vegetais são capazes de absorver e armazenar partículas plásticas microscópicas, como PET e poliestireno, revelando um novo caminho de contaminação na cadeia alimentar.
A descoberta foi publicada na última semana na revista científica Nature.
Enquanto pesquisas anteriores demonstraram que raízes podem absorver microplásticos presentes no solo, esse transporte até as partes superiores da planta é limitado. Já as partículas em suspensão no ar apresentam um risco mais direto: penetram pelas folhas e atingem os tecidos internos com mais facilidade.
Por meio de análises com espectrometria de massa, os pesquisadores detectaram microplásticos em folhas de diferentes ambientes. Quanto maior a poluição atmosférica e o tempo de crescimento da planta, maior a concentração dessas partículas.
Experimentos em laboratório confirmaram que folhas de milho absorvem microplásticos pelos estômatos — pequenas aberturas que regulam a troca de gases — e os transportam até os tecidos vasculares. Parte dessas partículas se acumula nos tricomas, estruturas que funcionam do mesmo jeito que os nossos pêlos corporais e formam barreiras naturais. As partículas de microplásticos ficam presas ali e se propagam menos para outras partes da planta.
Dados de campo revelam que plantas expostas ao ar livre acumulam de dez a cem vezes mais microplásticos do que aquelas cultivadas em estufas. Em alfaces expostas ao ar da cidade chinesa de Tianjin, por exemplo, foram encontrados até 10 nanogramas de poliestireno por grama de peso seco da planta.
As folhas mais velhas e externas mostraram níveis mais altos de contaminação do que as folhas internas ou mais jovens. Isso evidencia o acúmulo progressivo dos microplásticos com o tempo de exposição.
No mês passado, outro estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences sugeriu que os microplásticos são capazes de interferir na fotossíntese das plantas. Os pesquisadores estimam que esse tipo de poluição seja responsável por uma redução de 7% a 12% na fotossíntese de plantas e algas de todo o mundo. Eles alertam que a redução na fotossíntese pode impactar todo o sistema alimentar humano.
Apesar da taxa de absorção pelas folhas ser considerada baixa — o estudo recente aponta uma taxa de cerca de 0,05% — a constatação de que esses plásticos podem entrar nas plantas pelo ar preocupa. Uma vez acumuladas nas folhas, essas partículas podem ser ingeridas diretamente por animais herbívoros e por seres humanos, e aí se acumulam também nos nossos corpos.
Conforme mais pesquisas são feitas sobre o assunto, os microplásticos continuam sendo encontrados em vários lugares inusitados: sítios arqueológicos antigos, testículos humanos, golfinhos, cérebros de paulistanos, cianobactérias marinhas… Embora os efeitos exatos ainda estejam em investigação, estudos preliminares apontam riscos potenciais à saúde, incluindo problemas respiratórios, inflamações e alterações reprodutivas.
Diante disso, os autores da nova descoberta alertam para a urgência de pesquisas mais aprofundadas e de políticas que reduzam o uso e a emissão de plásticos no ambiente.
Com a produção global de plástico crescendo rapidamente, a descoberta de que partículas no ar podem infiltrar-se diretamente nas folhas amplia os desafios enfrentados no combate à poluição plástica — e ressalta a importância de novas estratégias de precaução e mitigação.
Fonte: abril