MATO GROSSO

Vanessa da Mata critica a desvalorização de artistas de cidades pequenas do Mato Grosso: Vim de uma cidade muito pequena, sem perspectiva

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Vanessa da Mata, 49, não se conforma com o apagamento cultural que, segundo ela, ainda marca o Brasil. Em entrevista à reportagem após sua apresentação com a Orquestra Sinfônica Heliópolis, na quarta-feira (23), em São Paulo, a cantora fez um desabafo sobre a forma como o país costuma tratar seus próprios artistas.
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“A gente tem uma autoestima muito ruim. O brasileiro ainda segue uma construção de padrão colonizado. Uma mania de valorizar só o que é de fora “. Para ela, essa visão ainda afeta diretamente o modo como o público consome arte no seu dia a dia. “Em shows, muitas vezes, me falavam que achavam que minhas letras eram escritas por outro artista, de fora. É constrangedor”, diz.
A apresentação no Teatro Bradesco reuniu sucessos do repertório de Vanessa, acompanhados por músicos da periferia de São Paulo. Ela conta que a experiência de dividir o palco com a orquestra trouxe um significado especial. “Eu me senti um pouco parte deles”, afirma, ao lembrar da própria trajetória.
“Vim de uma cidade muito pequena, no Mato Grosso, sem nenhuma perspectiva. Construí minha carreira sozinha. Sei exatamente o que é ter poucas oportunidades.” Vanessa também destaca que enxergar o talento desses jovens e estar ao lado deles foi como reviver o início da própria caminhada na música.
A artista também comenta a pressão que sente para se adaptar aos formatos das redes sociais, especialmente o TikTok, que valoriza conteúdos curtos e de consumo imediato.
Para ela, essa lógica vai na contramão de sua essência como compositora. “Eu não sei fazer música curta. Talvez até saiba, mas não quero compor só para surfar na onda da galera. Não tenho interesse nisso”.
Ela diz que seu processo criativo está ligado à narrativa, ao desenvolvimento de ideias e sentimentos em cada canção. “Sou muito faladora. Minhas letras são longas porque gosto de contar histórias. Se deixassem, eu faria de cada música um livro.”
Vanessa conta que entende as mudanças do mercado, mas se recusa a moldar sua arte apenas para atender a algoritmos. “A música precisa continuar sendo espaço de profundidade, não só de performance.”
Falando sobre sua trajetória como mulher, a cantora também revela sobre o que chama de um “legado feminino difícil”. Ela conta que carrega marcas profundas de um histórico familiar delicado, tanto em sua própria vivência quanto na história de sua família. “O histórico é muito pesado”, afirma, sem entrar em detalhes.
Essa bagagem, diz, a impulsiona a lutar contra injustiças e desigualdades. “Tudo o que envolve mulheres me atravessa. Eu sou inquieta, não consigo parar.”
Essa inquietude também vem à tona quando o assunto é o papel político dos artistas. Vanessa acredita que cada pessoa se posiciona à sua maneira, mas ressalta seu próprio envolvimento. “Estou o tempo todo defendendo a Palestina, por exemplo. Vi hoje uma cena horrorosa, medonha. Nem todo mundo consegue falar sobre política, mas eu tento sempre agir conforme o que acredito.”
 

Fonte: Olhar Direto

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