As cenas são estas: um tubarão-leopardo mergulha em direção a uma lula de plástico presa por uma corda. Uma arraia-da-Califórnia gira um anel laranja com a boca, enquanto um pequeno tubarão-cornudo rapidamente passa por dentro de um aro amarelo.
Apesar de acontecer em tanques de um aquário no sul da Califórnia, não faz parte de um show. Segundo uma nova pesquisa publicada na revista Applied Animal Behaviour Science, esses animais estavam simplesmente… brincando.
A ideia de tubarões brincalhões pode parecer improvável. Durante décadas, essas criaturas foram retratadas na cultura pop como predadores frios, regidos apenas pelo instinto carnívoro. Mas isso é um exagero – além de não serem máquinas de caçar humanos, os tubarões podem até ser fofinhos.
O mais novo estudo vem para provar isso. Liderado por Autumn Smith, bióloga da Biola University, na Califórnia, a pesquisa sugere que os tubarões, assim como mamíferos e aves, podem buscar prazer em atividades sem propósito aparente – o que os cientistas chamam de “comportamento lúdico”.
Tudo começou com Smith notando que os tubarões e as arraias ficavam “parados no fundo de seus tanques, olhando fixamente para as paredes”, conta ela para a Science. “Eles pareciam entediados”.
Para mudar isso, ela convenceu o Cabrillo Marine Aquarium, em Los Angeles, a testar algo simples: brinquedos. Nada de equipamentos sofisticados: apenas um conjunto de apetrechos para piscinas infantis, com argolas coloridas, bolas e criaturas de borracha.
Nas primeiras semanas, os 12 tubarões e uma arraia que habitavam o tanque mal deram atenção aos novos objetos no tanque. Mas, aos poucos, começaram a investigar os brinquedos, empurrando-os, mordiscando-os, e depois mergulhando neles repetidas vezes. O comportamento logo se tornou rotina.
“Assim que superaram o medo inicial de não saberem o que estava acontecendo no aquário, começaram a fazer de tudo: empurrar o brinquedo, bater nele com o rabo ou pegá-lo e carregá-lo”, diz Smith. “Era quase como assistir a pequenos animais de circo.”
Smith percebeu que os animais tinham preferências: o vermelho, da cor do sangue, não fez muito sucesso entre os animais. O laranja e o amarelo despertavam mais interesse do que o verde ou o azul. Os tubarões não enxergam cores como nós, a maioria dos peixões é daltônica e enxerga apenas tons de preto, branco e cinza. No entanto, são bons em detectar alto contraste, o que lhes permite distinguir entre claro e escuro.
Um pequeno tubarão-cornudo, apelidado de Bud, ficou obcecado por um anel laranja. “Ele simplesmente se sentava em cima dele, como se dissesse: ‘Este é meu’”, lembra a pesquisadora para a Science.
Os resultados desafiam velhas suposições sobre a inteligência dos peixes. “Esse tipo de brincadeira indica o quão pouco sabemos sobre o mundo interior de tubarões, raias e arraias”, explica Patrick Sun, coautor do estudo.
Nem todos os cientistas concordam que o que se observou seja “brincadeira”, no sentido lúdico. Alguns sugerem que pode se tratar apenas de comportamento exploratório – uma forma de investigar o ambiente. Mas, mesmo assim, a pesquisa indica que esses peixes demonstram capacidades cognitivas mais ricas do que se imaginava.
Agora, a equipe de cientistas trabalha com engenheiros para criar brinquedos projetados especialmente para tubarões e raias. A esperança é que esses experimentos ajudem a repensar a forma como os aquários e centros de pesquisa tratam esses animais. “Precisamos continuar trabalhando para entender como estimular esses animais em um aquário, criando estratégias e brinquedos que os mantenham interessados”, disse Sun.
Fonte: abril






