“Estou muito triste!”, “estou deprimido!”. Frases como estas são comuns e as ouvimos todos os dias, caíram no linguajar popular como palavras com o mesmo significado, mas na verdade têm conceitos diferentes. Na contramão de suas diferenças, a depressão pode seguir-se a um estado de tristeza, assim como a tristeza pode estar – e quase sempre está – dentro da depressão.
A princípio, são grandes as diferenças entre tristeza e depressão. A primeira delas é que a tristeza é uma manifestação normal do ser humano, enquanto a depressão se trata de uma enfermidade da mente, um estado de ânimo patológico, que precisa de atenção da psiquiatria.
São termos que não podem ser tratados como coisas semelhantes, porque se assim procedermos, estaremos banalizando uma doença, muitas vezes grave e até mesmo fatal, lembrando que a banalização pode negligenciar a busca de tratamento e favorecer o agravamento da patologia.
Muitas vezes a fronteira entre ambas as condições não se mostra clara, o que causa dúvidas, inicialmente, no reconhecimento de uma coisa ou de outra. A identificação de um estado depressivo corrobora com a precocidade do autocuidado ou do cuidado de terceiros, o que já traz ganhos para a saúde mental.
A tristeza é uma emoção humana, melhor dizendo, uma emoção humana universal, assim como, por exemplo, a alegria, a raiva e o medo. Estar triste significa ter um motivo para isso, há algo por trás, que sempre se identifica, algo que aconteceu ou está ocorrendo com a pessoa triste.
O motivo identificável pode ser um dos inúmeros da vida diária, como a perda de um ente querido, o fim de um relacionamento, saudade de uma pessoa amada, perda do emprego, decepção com um amigo e outras inúmeras coisas que podem funcionar, como hoje se diz, como gatilhos para o estado de tristeza.
Podemos viver momentos, dias, semanas ou até mesmo meses tristes por causa de determinado fator, mas, ainda que sua permanência seja relativamente longa, sua duração é limitada no tempo e sua intensidade diminui com o decorrer dos dias. A tristeza não chega a ocupar todos os momentos do dia, algumas coisas podem causar prazer ou alegria em meio a um período de dias tristes.
A tristeza, por mais que traga muita dor, não tem a força de paralisar completamente a vida de alguém, que com algum esforço consegue manter o trabalho, a vida acadêmica e social, assim como conservar o autocuidado, mesmo que muito aquém do que fazia antes. A pessoa pode perder parcialmente a autoestima, mas logo a recupera, porque não acredita que ela mesma seja uma pessoa sem valor. O amor próprio, temporariamente diminuído, é recuperado aos poucos e em pouco tempo.
A depressão, por sua vez, não é uma emoção, é uma enfermidade mental, que acomete não apenas o cérebro, mas todo o organismo do ser humano. Há uma alteração neuroquímica cerebral, que afeta, principalmente, o humor e o comportamento da pessoa enferma.
A depressão não necessita de um motivo, apesar de que este pode existir. É uma enfermidade cíclica, ou seja, aparece de tempos em tempos, alternada com momentos de plena normalidade do estado mental. Sua causa está ligada, principalmente, a componentes genéticos e, também, a fatores biológicos e ambientais.
A depressão ocorre em episódios e cada um deles tem duração considerável, geralmente meses quando tratados, ou anos quando ficam sem tratamento. A intensidade dos sintomas depressivos também é muito maior do que na tristeza e geralmente trazem um impacto para a vida da pessoa doente, porque consomem a energia vital e a incapacitam, temporariamente, enquanto perdurarem, para as diversas atividades da vida diária, como o trabalho e o estudo.
Há prejuízos também para o autocuidado, como a própria higiene ou o desejo de sair da cama ou fazer a própria refeição.
A depressão leva à perda do interesse ou prazer em atividades que antes lhe eram prazerosas; o apetite e o sono podem estar aumentados ou diminuídos. O deprimido queixa-se de falta de energia, cansaço extremo, sentimentos de culpa e de inutilidade, prejuízos da concentração e da memória e muita dificuldade para tomar decisões.
Nos casos mais graves há ideias recorrentes de morte ou de suicídio. A reação de luto, muitas vezes, traz dúvidas ao diagnóstico diferencial entre tristeza e depressão, assim como toda tristeza mais duradoura. Ambos os casos devem ser submetidos à avaliação de um psiquiatra.
Não devemos patologizar a tristeza, nem banalizar a depressão. A primeira necessita de tempo e conforto, enquanto a segunda tem necessidade de tratamento. Costumo dizer que a tristeza é um hóspede inoportuno, que nos visita por alguns dias e, às vezes, se demora um pouco mais, enquanto a depressão é um hóspede inoportuno e indesejado, que se instala em nossa casa e que não sai por vontade própria, precisamos colocá-lo porta afora.
Fonte: primeirapagina