Pesquisadores da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, desenvolveram uma interface cérebro-computador não invasiva que seria capaz de converter os pensamentos de uma pessoa em palavras a partir de varreduras cerebrais.
A tecnologia apareceu na revista Nature Neuroscience na última segunda (1). Ela está no início de seu desenvolvimento e vem de estudos com apenas três voluntários, mas eventualmente poderia ajudar pessoas com lesões cerebrais ou paralisia a recuperar a capacidade de se comunicar, segundo os pesquisadores.
Já existem algumas interfaces cérebro-computador para traduzir a atividade cerebral de um paciente em palavras, mas elas geralmente dependem de eletrodos implantados diretamente no cérebro da pessoa. Por outro lado, técnicas não invasivas – baseadas em eletroencefalogramas, por exemplo, que medem a atividade cerebral com eletrodos fixados no couro cabeludo – se restringem à decodificação de frases curtas ou palavras isoladas.
Eis o diferencial da nova interface: ela produziu frases inteiras a partir de ressonâncias magnéticas funcionais (fMRI), um método não invasivo que rastreia mudanças no fluxo sanguíneo dentro do cérebro para medir a atividade neural.
Para criar a interface, os pesquisadores examinaram os cérebros de três voluntários enquanto cada um ouvia 16 horas de podcasts de narrativas, como Modern Love, do New York Times. O objetivo era associar palavras e frases a padrões particulares de atividade cerebral. Estas correspondências serviram para treinar uma inteligência artificial que pudesse prever como o cérebro de determinado indivíduo reagiria à linguagem.
Quando os pesquisadores testaram o modelo com novos episódios de podcast, conseguiram recuperar a ideia geral do que os voluntários estavam ouvindo a partir de sua atividade cerebral – às vezes identificando palavras e frases exatas. Eles também mostraram aos voluntários vídeos curtos da Pixar, sem diálogos. Nestes casos, o decodificador também conseguiu recuperar o conteúdo do que o usuário estava assistindo.
A tecnologia poderia promover a leitura de mentes, no futuro? Embora o estudo levante questões éticas, os pesquisadores afirmam que o consentimento e a cooperação dos usuários da interface parecem ser críticos para sua eficácia, porque se os pacientes não prestassem atenção ao podcast da vez, o sistema não conseguia decodificar coisa alguma.
Além disso, há um detalhe crucial: uma interface treinada em um indivíduo não funciona em outro. Uma IA só poderia “ler” sua mente se conhecesse alguns dos seus pensamentos de antemão.
Fonte: abril