NĂŁo Ă© modinha: por pelo menos cinco milĂȘnios, seres humanos de culturas distintas enfeitaram suas peles com tatuagens.
Agora, um novo estudo revelou, em detalhes inĂ©ditos, figuras tatuadas em mĂșmias encontradas no Peru.
Uma colaboração internacional de cientistas, liderados pelo pesquisador Michael Pittman da Universidade Chinesa de Hong Kong, usou uma tĂ©cnica inovadora para realçar as tatuagens nas mĂșmias, muitas das quais estavam invisĂveis a olho nu.
Os indivĂduos mumificados pertenciam a cultura Chancay, uma civilização que floresceu no que hoje Ă© o litoral do Peru entre os anos 900 d.C. e 1500 d.C., aproximadamente, sendo depois incorporada ao grande ImpĂ©rio Inca (que, por sua vez, ruiu com a chegada dos colonizadores espanhĂłis).
As mĂșmias analisadas foram encontradas em uma escavação de 1981 e viveram, provavelmente, por volta do ano 1250 d.C. No total, mais de cem indivĂduos mumificados foram analisados.
No estudo, os pesquisadores usaram uma tĂ©cnica chamada âfluorescĂȘncia induzida por laserâ, que consiste no uso de lasers para estimular uma amostra, aumentando a sua energia e fazendo com que ela â literalmente â brilhe.
No caso, o uso de lasers fazia a pele das mĂșmias brilhar, mas os locais onde a tinta preta estava presente nĂŁo brilhavam. Isso resultava em imagens de alto contraste, que permitiram que a equipe recriasse as tatuagens em detalhes inĂ©ditos, revelando ao mundo figuras que estavam escondidas a olho nu.

Ă a primeira vez que a tĂ©cnica Ă© usada para analisar tatuagens em mĂșmias; o uso dos lasers Ă© comum na medicina e tambĂ©m na paleontologia (para detectar possĂveis tecidos moles em fĂłsseis de dinossauros, por exemplo).
Hå outras estratégias para analisar tatuagens em amostras humanas, claro, mas todas ainda esbarram, em maior ou menor grau, no problema: a tinta usada nas tatuagens começa a desaparecer ao longo do tempo, e os desenhos vão borrando e se perdendo. O processo de mumificação tende a piorar esse desgaste.
A anĂĄlise revelou que as tatuagens foram feitas por mĂŁos habilidosas, que desenhavam as figuras geomĂ©tricas pontinho por pontinho, Ă s vezes em linhas que mediam sĂł 0,1 milĂmetro â mais fino do que as maquininhas atuais. Embora nĂŁo possam cravar com certeza, a equipe suspeita que o instrumento usado na arte poderia ser um espinho de um cacto ou um osso de animal que foi trabalhado para ficar muito fininho.
Os autores tambĂ©m notaram que o nĂvel de detalhes encontrado nas tatuagens Ă© maior do que em outras manifestaçÔes artĂsticas do povo Chancay, indicando que elas eram fruto de um esforço especial.Â
Apesar da maioria das mĂșmias analisadas terem algum tipo de tatuagem (especialmente nas mĂŁos), sĂł algumas delas possuĂam essas figuras detalhadas e com linhas finas, indicando que o requinte provavelmente era restrito a um subgrupo social.
Fonte: abril