Um novo estudo descobriu que tartarugas marinhas comuns (Caretta caretta) memorizam campos magnéticos de locais específicos. A decoreba ajuda os bichinhos a voltar para áreas ecologicamente importantes para a espécie.
As tartarugas são conhecidas por suas longas jornadas. As Caretta caretta, por exemplo, já foram registradas em natações de 13 mil km, desde seus locais de alimentação até seus locais de reprodução. Não é novidade que elas usam os campos magnéticos para navegar — aliás, outros animais também usam as linhas que se estendem do polo norte ao polo sul da Terra como guia.
O que o estudo publicado na revista Nature traz de novo é que as tartarugas memorizam as áreas por sua assinatura magnética única, especialmente aqueles associados a fontes de alimento, traçando um mapa de locais importantes para retornarem assim que terminarem a migração.
Além disso, os pesquisadores registraram um comportamento fofíssimo nos animais: as tartaruguinhas dançam em antecipação à comida quando sentem a aproximação dos campos onde se alimentaram anteriormente, indicando que associam certos sinais magnéticos aos locais de refeição.
Para o estudo, os cientistas coletaram tartarugas recém nascidas de praias da Carolina do Norte, Estados Unidos. Os animais eram colocados em baldes com água, rodeados por uma bobina que reproduzia o campo magnético do Oceano Atlântico. Durante dois meses, os pesquisadores alternaram entre duas simulações: um campo magnético que se assemelhava ao do Golfo do México e outro de New Hampshire (outro estado americano, mais ao norte).
As tartaruguinhas só eram alimentadas quando a reprodução simulava a informação magnética do Golfo do México. Todos os animais exibiram um tipo de dança, em que batiam as nadadeiras, abrindo a boca e girando em círculos na água, quando a simulação exibia a informação do Golfo. No entanto, o comportamento não se repetia quando a simulação era alterada para os dados da outra localização.
O mesmo experimento foi feito simulando outros campos similares ao redor do globo e 80% das tartarugas dançaram, mostrando que não se trata de um comportamento exclusivo das localidades americanas. Quatro meses após o experimento, as tartarugas foram testadas novamente e ainda dançavam quando sentiam o campo associado à recompensa — de acordo com os pesquisadores, esse comportamento só ocorre em cativeiro.
Os autores do estudo descobriram também que esses animais contam com dois sistemas magnéticos distintos: um mapa magnético para rastrear locais e uma bússola magnética para orientar a direção.
Para essa descoberta, eles usaram ondas de rádio para analisar se as tartarugas ainda conseguiam seguir os caminhos memorizados sob influência dessa interferência. As tartarugas realmente começaram a nadar sem rumo quando expostas à onda eletromagnética. Porém, a habilidade de reconhecer locais de refeição se manteve intacta. Ou seja, o mapa continua intacto, o que se confunde é bússola interna dos animais.
As ondas de radiofrequência usadas são do mesmo tipo de radiação emitida por dispositivos como telefones celulares e transmissores de rádio. Assim, pesquisadores alertam que a atividade náutica e a utilização de dispositivos perto das praias de reprodução podem interferir na capacidade de migração das tartarugas e na conservação da espécie.
O estudo também investigou como as tartarugas interpretam os sinais magnéticos, focando em duas características principais dos campos da Terra: a inclinação (o ângulo das linhas do campo) e a intensidade (a força do campo). Os pesquisadores, então, criaram campos magnéticos misturados, combinando a inclinação de um local com a intensidade de outro. Os resultados mostraram que as tartarugas só reconhecem uma área quando ambos os fatores coincidem, demonstrando que elas dependem da combinação dos elementos para se orientar.
Fonte: abril