Em meio à crescente tensão comercial entre China e Estados Unidos, o mercado da soja vive dias de volatilidade e o Brasil pode, mais uma vez, ser importante no cenário global das commodities.
Para analisar os desdobramentos desse cenário, o Dia de Ajudar conversou com Fernando Berardo, chefe de commodities Brasil na Barchart, e com o comentarista Miguel Daoud, que ofereceram uma análise detalhada e realista sobre os riscos e as oportunidades que surgem para os produtores brasileiros.
Guerra tarifária e oportunidades para a soja
A recente decisão dos Estados Unidos de aplicar tarifas de 10% sobre diversos produtos chineses pode abrir espaço para que o Brasil aumente suas exportações de soja para o país asiático. A tarifa para o Brasil, ao menos por enquanto, permanece inalterada, o que pode representar uma vantagem competitiva diante de um mercado global ainda pressionado por altos estoques.
“Essa é uma pergunta complexa”, pondera Fernando Berardo. “O consumo doméstico chinês segue crescendo, mesmo em um cenário de PIB mais fraco. Mas o estoque mundial está alto, o que gera uma pressão baixista sobre os preços.” Segundo ele, a demanda segue aquecida, mas é preciso cautela com os reflexos indiretos que uma desaceleração econômica chinesa pode causar.
O papel do produtor
Diante desse cenário, tanto Berardo quanto Daoud reforçam a importância de uma postura pragmática por parte do produtor rural. “Não é hora de agir com base em achismos ou expectativas irreais”, alerta Miguel Daoud. “A volatilidade do mercado é altíssima. Hoje sobe 10%, amanhã cai 10%. O produtor precisa fazer média, vender aos poucos, acompanhar o câmbio e a Bolsa de Chicago.”
Berardo complementa: “O produtor precisa conhecer seu ponto de equilíbrio e saber como se proteger. Em 2024, houve momentos em que a soja passou de R$ 140 por saca, combinando bom momento do dólar e da Bolsa de Chicago. As oportunidades existem, mas é preciso saber aproveitá-las.”
Europa
Sobre os possíveis reflexos da política tarifária na União Europeia, Fernando avalia que o impacto, pelo menos para os grãos, deve ser limitado. “A Europa tem um consumo mais estável, e conta com a produção ucraniana como fonte próxima. Não vejo mudanças estruturais relevantes vindas de lá no curto prazo.”
Custo de produção da soja
Um ponto levantado foi o dos custos de produção. Com insumos atrelados ao mercado internacional e poucos players dominando a oferta, os preços seguem sensíveis a eventos geopolíticos. Segundo Berardo, “a relação de troca entre commodity e insumo precisa ser bem observada. A soja em alta pode melhorar essa troca, mas é necessário timing.”
Safra 25/26: como se preparar?
Para os produtores que já estão se planejando para a safra 2025/26, o conselho é unânime: pragmatismo. “Compre seus insumos quando tiver oportunidade boa e proteja sua margem. Não espere o ‘melhor preço do mercado’, porque isso talvez nunca chegue”, resume Berardo.
Daoud reforça que o produtor brasileiro precisa entender que o ciclo agrícola é longo, mas o mercado financeiro se move rápido. ”O planejamento precisa considerar essa dinâmica. Nosso papel, como imprensa especializada, é dar informação para que ele decida de forma consciente”, completa.
Fonte: canalrural