Walter Queiroz diz nos versos de uma canção sua, intitulada “Filho da Bahia”, interpretada na voz de Fafá de Belém, as seguintes palavras: “Viver não é fácil não, pergunte pra meu coração, sei perder na valentia.” Infelizmente, as dificuldades da vida são muitas e nem todos os seres humanos sabem perder na valentia.
Isso pode-se falar quando se trata de alguém com boa saúde mental, mas quando a mente está adoecida, nem sempre há de se falar em falta de valentia e sim em presença de enfermidade. Entre elas, encontra-se a depressão, onde os sentimentos de derrota e fracasso podem pôr fim à batalha contra as adversidades do cotidiano.
Por isso, há necessidade de realizar-se algo que fuja da possibilidade de ser feito pelo próprio enfermo, no momento em que se encontra em estado de crise. Surgem então diversas ações nos âmbitos públicos e privados, civis e militares por meio de diferentes campanhas desenvolvidas ao longo do tempo.
Em 2015 surgiu no Brasil a campanha denominada “Setembro Amarelo”, como uma iniciativa conjunta do Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), com o objetivo de conscientizar a população geral e desmistificar a abordagem do tema suicídio, tendo como metas a prevenção do ato e o esclarecimentos sobre os riscos.
O dia 10 de setembro é oficialmente o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas independente disso, os trabalhos permanecem ativos durante todo o mês de setembro e estende-se com ações pontuais o ano inteiro.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio representa um importante problema de saúde pública global, com impactos sociais profundos. Tal fato é perfeitamente compreendido, quando observamos dados epidemiológicos que nos mostram que a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio em algum lugar do planeta, alcançando cerca de 800 mil mortes por ano no mundo. No Brasil já chegamos a aproximadamente 14 mil casos registrados anualmente.
É impactante saber que o autoextermínio posiciona-se entre as quatro maiores causas de morte entre jovens de 15 a 29 anos em todo o mundo. Estudos científicos revelam que 96,8% dos casos de suicídio registrados estão associados a transtornos mentais, sendo a depressão a condição mais prevalente, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias.
É possível prever os riscos, mas não exatamente quem vai cometer o ato, daí a necessidade de manutenção das campanhas de prevenção como ferramentas necessárias, usadas com o objetivo de evitar, ou diminuir, ou pelo menos não permitir o crescimento do número de casos de tentativas e, principalmente, de autoextermínios consumados.
As políticas públicas precisam ser implementadas, há de haver mais locais adequados de acolhimento e tratamento de pessoas com intenção suicida, assim como de profissionais capacitados para o acolhimento e atendimento desses casos.
O programa de Educação continuada deve ser realizado por pessoas que saibam abordar o assunto de forma técnica e responsável. A mídia deve tratar a pauta com cuidado, evitando glamorizar alguns casos, principalmente quando dizem respeito a pessoas importantes, como grandes nomes da vida artística, geralmente verdadeiros modelos para os jovens. A informação de onde e como buscar ajuda pode ser um serviço de utilidade pública a serviço da imprensa e de toda a comunidade.
É preciso que saibamos que a ideação suicida está presente no conteúdo mental das pessoas mentalmente adoecidas, que não conseguem ver luz no fim do túnel ou a vê como algo inalcançável. Há necessidade de que todos nós, profissionais de saúde, familiares e sociedade, possamos nos dispor a tentar fazer que essas pessoas atravessem esses períodos, que infelizmente não são curtos, mas que felizmente cessam e, como a vida, com e sem suas dificuldades, é uma glória, podemos afirmar que gloriosos são aqueles que permanecem mais tempo vivos, melhor ainda quando de algum modo contribuímos para isso.
Estamos quebrando tabus, falando do assunto. Não esqueçamos de que não basta apenas falar, precisamos agir de modo a fomentar políticas públicas de campanhas, fortalecimento das redes sociais, acolhimento e tratamento de pessoas com esse risco. Setembro amarelo é a campanha, uma delas, e nós somos os multiplicadores de conteúdos informativos, que almejam a conservação da esperança, a busca de saída de seus conflitos penosos e a valorização da vida.
Fonte: primeirapagina