Falta de chuvas e aumento considerĂĄvel no nĂșmero de focos de incĂȘndios sĂŁo prenĂșncios de tragĂ©dias climĂĄticas em Mato Grosso. De acordo com dados do Corpo de Bombeiros, o nĂșmero de focos de calor no estado aumentou em 109% em comparação ao ano passado e o volume de ĂĄguas estĂĄ abaixo do que foi registrado em 2020, ano do maior incĂȘndio florestal jĂĄ registrado no Pantanal. Os dados foram apresentados durante a 4ÂȘ reuniĂŁo ordinĂĄria da CĂąmara Setorial TemĂĄtica sobre Mudanças ClimĂĄticas da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), nesta segunda-feira (6).
Enquanto a regiĂŁo Sul do paĂs vive a pior tragĂ©dia climĂĄtica por conta das chuvas, Mato Grosso registra seca em grande parte de seu territĂłrio logo apĂłs o perĂodo chuvoso. A situação comprometeu a safra de grĂŁos e preocupa as comunidades mais vulnerĂĄveis, como população indĂgena, povos tradicionais e ribeirinhos. O presidente da CST das Mudanças ClimĂĄticas, deputado JĂșlio Campos (UniĂŁo), destacou a importĂąncia do trabalho de prevenção para evitar que os incĂȘndios tomem as proporçÔes que tiveram hĂĄ quatro anos.
âO Brasil vive as consequĂȘncias das mudanças climĂĄticas com o sofrimento dos irmĂŁos gaĂșchos. Mais do que nunca precisamos nos preparar e essa cĂąmara visa exatamente isso. O maior problema para Mato Grosso Ă© a seca, estamos na liderança dos focos de incĂȘndios e como isso estarĂĄ em agosto? Precisamos nos preparar, preparar a Defesa Civil para que possa atuarâ, afirmou Campos.
O coronel do Corpo de Bombeiros AluĂsio Metelo JĂșnior apresentou os dados sobre a situação do estado e do paĂs e as açÔes que estĂŁo sendo desenvolvidas para prevenir os incĂȘndios florestais. âAnalisamos o primeiro quadrimestre deste ano, temos um cenĂĄrio preocupante com pouco volume de chuvas devido Ă s mudanças climĂĄticas e efeitos do El Niño. Para atuar na prevenção, a AMM [Associação Mato-Grossense dos MunicĂpios], Assembleia Legislativa e Tribunal de Contas deram inĂcio a um projeto junto aos municĂpios para ampliar os instrumentos de resposta do Corpo de Bombeiros, como formação de brigadas e capacitaçãoâ.
AlĂ©m do trabalho do poder pĂșblico em parceria com o Corpo de Bombeiros, o presidente da Federação Brasileira de Geologia, Caiubi Kuhn, apresentou uma nota tĂ©cnica sobre as principais demandas da Defesa Civil do estado. De acordo com o professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o estado nĂŁo possui estrutura tanto para atuar em casos de tragĂ©dias climĂĄticas, quanto para prevenir que elas aconteçam.
âAs ocorrĂȘncias climĂĄticas sĂŁo cĂclicas, de tempos em tempos teremos enchentes, secas extremas e isso pode ser previsto e os impactos amenizados. Mas Ă© preciso ter estudos que apontem a frequĂȘncia dessas ocorrĂȘncias, locais, intensidade, porque Ă© isso que vai direcionar o trabalho das equipes tĂ©cnicas. Infelizmente, se uma tragĂ©dia como essa que aconteceu no Sul acontecesse aqui, os impactos seriam ainda pioresâ.
O deputado JĂșlio Campos afirmou que, em parceria com a vice-presidente da CST, deputada Janaina Riva (MDB), vai levar ao governador Mauro Mendes a nota tĂ©cnica para que discutam como investir na instrumentação da Defesa Civil.
Educação climĂĄtica â Durante a reuniĂŁo realizada nesta segunda-feira (6), a tĂ©cnica da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Juliana Menezes, fez uma apresentação sobre o trabalho de educação climĂĄtica desenvolvido pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Trabalho de preparação das novas geraçÔes nas escolas, parceria com a Secretaria de Estado de Educação, escuta ativa das comunidades, prevenção Ă ansiedade climĂĄtica estĂŁo entre os eixos desenvolvidos. De acordo com Juliana, a Organização das NaçÔes Unidas (ONU) classificou as mudanças climĂĄticas como uma crise da infĂąncia por comprometer o futuro dos jovens.
Povos IndĂgenas â Com os rios secos, as comunidades indĂgenas vĂȘm sofrendo com falta de peixes, perdas de safras nas plantaçÔes e desabastecimento de ĂĄgua. A presidente da Federação dos Povos IndĂgenas de Mato Grosso, Eliane Xunakalo, apresentou aos tĂ©cnicos da cĂąmara a situação crĂtica vivenciada pelos povos originĂĄrios. âOs rios estĂŁo secos. O Juruena estĂĄ seco, o Teles Pires estĂĄ seco. NĂŁo temos peixe, nĂŁo vamos colher o suficiente e nĂŁo temos acesso aos subsĂdios que a agricultura convencional tem. Precisamos de ajuda, as cestas bĂĄsicas que sĂŁo distribuĂdas nĂŁo atendem Ă s nossas necessidadesâ.
De acordo com Eliane, faltam recursos para investir nas plantaçÔes, facilidade para comercializar a produção e educação ambiental para evitar que a floresta continue sendo desmatada.
Fonte: odocumento