Pela primeira vez, cientistas testemunharam diretamente uma zona de subducção de placas tectônicas em processo de fragmentação. A descoberta ajuda na compreensão de como a superfície da Terra muda ao longo do tempo e acrescenta novas informações sobre o potencial de futuros terremotos no noroeste do Pacífico.
Zonas de subducção são locais onde uma placa tectônica mergulha sob outra. É a partir desse contato que vulcões são alimentados, megaterremotos surgem e a crosta terrestre volta ao interior do planeta.
Quando uma placa mergulha sob a outra, uma parte dela pode se fragmentar, como se estivesse rasgando. A imagem abaixo mostra a fragmentação da placa do Pacífico, que resulta em uma placa menor, chamada Juan de Fuca, na costa do Canadá. Essa foi a placa tectônica analisada na nova pesquisa.

“Iniciar uma zona de subducção é como tentar empurrar um trem ladeira acima – exige um esforço enorme”, disse Brandon Shuck, geólogo da Universidade Estadual da Louisiana e principal autor do estudo, em comunicado. “Mas, uma vez em movimento, é como se o trem estivesse descendo a toda velocidade, impossível de parar. Para acabar com isso, é preciso algo drástico – basicamente, um acidente de trem”
Para compreender como funciona a vida e a obra das zonas de subducção, uma equipe liderada por Shuck focou sua investigação na região de Cascadia, na costa oeste dos Estados Unidos e Canadá, onde as placas de Juan de Fuca e Explorer mergulham lentamente sob a Placa da América do Norte.
Com o auxílio de imagens sísmicas de reflexão (uma espécie de ultrassom do interior da Terra) e registros detalhados de terremotos, os cientistas observaram o que chamam de “ruptura episódica”: a placa oceânica do Pacífico se partindo em pedaços, em um colapso prolongado que se desenrola há milhões de anos.
“Esta é a primeira vez que temos uma imagem clara de uma zona de subducção flagrada em pleno processo de morte”, disse Shuck. “Em vez de se extinguir completamente de uma vez, a placa está se fragmentando aos poucos, criando microplacas menores e novas fronteiras. Então, em vez de um grande desastre, é como assistir a um trem descarrilar lentamente, um vagão de cada vez.”
A descoberta foi publicada na revista Science Advances.
Durante a expedição Cascadia Seismic Imaging Experiment (CASIE21), os pesquisadores emitiram ondas sonoras a partir de uma embarcação, e analisaram os ecos do fundo oceânico com uma linha de sensores submersos de 15 quilômetros. As imagens revelaram fissuras profundas – algumas com desníveis de até cinco quilômetros – cortando a crosta da placa de Juan de Fuca.
Os registros de terremotos confirmam o que as imagens sugerem: ao longo das fraturas, algumas áreas permanecem sismicamente ativas, enquanto outras estão silenciosas. “Uma vez que um pedaço se rompe completamente, ele não produz mais terremotos porque as rochas não estão mais unidas”, explicou Shuck. A ausência de terremotos em certas áreas sugere que seções da placa já se desprenderam.
Esse comportamento revela um mecanismo até então apenas teórico: as zonas de subducção não morrem de uma vez, mas em etapas sucessivas. À medida que cada parte se separa, o sistema perde força, e o processo tectônico desacelera até cessar completamente.
Voltando à ideia dos pesquisadores de que as zonas são como trens: se um trem desgovernado em alta velocidade vai perdendo seus vagões, a cada pedaço que se desprende, o movimento desacelera, até que, por fim, o trem para.
À medida que a placa maior (no caso, a do Pacífico) perde partes, ela também perde impulso. Esse processo acontece lentamente, ao longo de milhões de anos, e é assim, passo a passo, que uma zona de subducção chega ao seu fim.
O fenômeno observado em Cascadia ajuda a decifrar enigmas geológicos antigos. Fragmentos fossilizados de antigas placas, como os encontrados próximo à Baja California, podem ser os restos de subducções encerraram do mesmo modo.
Embora a descoberta não altere o risco imediato de terremotos na costa noroeste do Pacífico, ela oferece um novo mapa para compreender como esses fenômenos gigantes subterrâneos se comportam e, eventualmente, desaparecem.
Cascadia continua sendo uma das regiões sísmicas mais perigosas do mundo, capaz de gerar abalos de magnitude 9 e tsunamis devastadores. Mas agora, pela primeira vez, os cientistas podem observar como funciona o motor por trás desse perigo – e como funciona seu freio de mão.
Fonte: abril






