O desprendimento de um enorme bloco de gelo na Antártida revelou um ecossistema marinho que o gelo manteve escondido por centenas de anos. Em janeiro, um iceberg de aproximadamente 500 quilômetros quadrados se separou da plataforma George VI e expôs uma região submersa até então inacessível.
A equipe internacional embarcada no navio do , que realiza pesquisas nos oceanos, mudou sua rota original para investigar a área recém-exposta. A expedição encontrou uma biodiversidade surpreendente nas profundezas do mar, aonde jamais haviam chegado.
Durante oito dias de mergulhos com veículos operados remotamente, os pesquisadores mapearam a vida marinha a até 1,3 mil metros de profundidade. A missão revelou corais gigantes, esponjas, peixes-gelo, aranhas-do-mar e até polvos — todos vivendo em um ambiente extremo.
“Não imaginávamos um ecossistema tão vibrante”, disse Patrícia Esquete, da Universidade de Aveiro, em Portugal. “Com base no tamanho dos animais, essas comunidades que observamos estão lá há décadas, talvez há séculos.”
A descoberta levantou questionamentos sobre como esses seres conseguiram sobreviver por tanto tempo sem luz solar e sem matéria orgânica proveniente da superfície. A principal hipótese sugere que correntes marinhas transportaram os nutrientes essenciais até ali.
Segundo a cientista Laura Cimoli, da Universidade de Cambridge, a água do degelo provavelmente levou os nutrientes ao local. Esse fluxo permitiu que a vida marinha se mantivesse ativa em um cenário que os pesquisadores descrevem como inóspito.
O grupo também observa como o ambiente reage à exposição recente. A retirada da camada de gelo modifica a dinâmica da região e pode afetar espécies vulneráveis às mudanças de temperatura e luminosidade.
Além de revelar um habitat desconhecido, a expedição ajuda a entender o comportamento das geleiras da Antártida diante do avanço do aquecimento global.
“Foi uma sensação de mergulhar num mundo completamente desconhecido”, afirmou Sasha Montelli, da University College de Londres. “Achávamos que encontraríamos algumas formas de vida ali, mas foi surpreendente constatar uma biodiversidade tão rica num ambiente tão hostil.”
Fonte: revistaoeste
