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Retrato humano mais antigo do mundo: escultura em marfim de mamute

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Um pequeno pedaço de marfim de mamute, esculpido há cerca de 26 mil anos, representa o mais antigo retrato humano conhecido. A escultura foi descoberta no sítio arqueológico Dolní Vĕstonice, na República Tcheca, na década de 1920. Com apenas 4,8 cm de altura, a peça é um marco na história da arte e da humanidade.

A escultura retrata o rosto de uma pessoa com traços faciais detalhados: olhos marcados, o esquerdo menor que o direito, covinhas no queixo. Na cabeça, o cabelo pode estar em um penteado para o alto ou sob um chapéu. Essas características apontam que se trata de um retrato de uma pessoa específica, e não uma figura genérica como outras encontradas no local.

O local onde a escultura foi encontrada, Dolní Vĕstonice, é conhecido como a “Pompeia da Idade da Pedra”. Situado próximo à atual fronteira sul da República Tcheca, o local guarda um acervo excepcional de milhares de artefatos, incluindo ferramentas, cerâmicas e sepultamentos.

Outro achado famoso do mesmo sítio é a Vênus de Dolní Věstonice, uma estatueta de cerâmica de 11 centímetros. Ela não é um retrato: sem características individuais, segue o padrão de outras figuras de Vênus do Paleolítico, com ênfase em seios, barriga e quadris grandes, possivelmente símbolos de fertilidade, e detalhes mínimos na cabeça e corpo. 

Imagem de Vênus de Věstonická na exposição Mammoth Hunters no Museu Nacional de Praga.
(Wikimedia Commons/Reprodução)

Quatro pequenos orifícios na cabeça sugerem que a Vênus originalmente era ornamentada com penas. Uma tomografia em 2004 identificou a impressão digital de uma criança de 7 a 15 anos que manuseou a peça antes de ser assada.

Todos os achados oferecem vislumbres ao passado dessas sociedades europeis. A cabeça de marfim, junto com outros artefatos do mesmo sítio, permite hipóteses intrigantes. Os pesquisadores acreditam que a mulher retratada poderia ser uma anciã de grande importância social e possivelmente uma líder espiritual.

Isso porque um dos sepultamentos mais notáveis de Dolní Vĕstonice é o de uma mulher que tinha entre 36 e 45 anos, encontrado em 1949. Seu esqueleto estava coberto por ocre vermelho e rodeado por dentes de raposa e uma escápula de mamute. Não é um sepultamento padrão: pesquisadores acreditam que ela tenha ocupado uma posição de destaque em sua sociedade.

Logo quando encontraram o crânio, já foi possível notar grandes lesões cicatrizadas na face. A cicatrização indica que esses danos ao crânio não foram causados após a morte, e que provavelmente a mulher viveu muitos anos com deformações ósseas. 

Em 2018, uma reconstrução facial com base no crânio confirmou que a mulher tinha uma grande assimetria facial, fazendo com que seu lado esquerdo do rosto fosse significativamente menor do que o lado direito. Foi o suficiente para reforçar antigas teorias de que se tratava da mesma pessoa retratada no marfim.

Imagem de um retrato da cabeça, crânio e reconstrução de uma mulher da Idade da Pedra, em marfim sobre fundo preto.
(Wikimedia Commons/Reprodução)

Hoje, com a nossa expectativa de vida mais longeva, é difícil imaginar uma mulher de 40 anos como uma anciã. Mas no Paleolítico, a expectativa de vida ficava entre 30 e 35 anos. As mudanças do período colaboraram para o avanço lento da longevidade, em razão de avanços em dietas mais variadas, técnicas de caça e coleta e uma organização social mais estruturada.

Como uma pessoa mais velha, que já poderia ser avó, ela poderia ser responsável por transmitir conhecimentos e cuidar dos mais novos. Em algumas culturas, anciões, com sua rara longevidade e rico conhecimento, ocupam papeis centrais. 

Outra possibilidade é que a mulher fosse considerada uma xamã, já que outros estudos apontam que pessoas com deformidades físicas ou traços únicos eram frequentemente associadas a poderes sobrenaturais em muitas culturas pré-históricas.

Atualmente, muitos dos artefatos de Dolní Vĕstonice, incluindo a escultura de marfim, estão em exposição no Anthropos Pavilion, um museu em Brno, na República Tcheca.

Fonte: abril

Sobre o autor

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Fábio Neves

Jornalista DRT 0003133/MT - O universo de cada um, se resume no tamanho do seu saber. Vamos ser a mudança que, queremos ver no Mundo