Falar de resiliência com as crianças pode parecer uma tarefa abstrata à primeira vista, mas é uma conversa essencial. Enquanto adultos, aprendemos (com ou sem apoio) a lidar com adversidades e reconhecemos em nós essa habilidade com o tempo. Mas será que estamos auxiliando as crianças a desenvolverem esse recurso emocional tão importante?
Neste artigo, vamos refletir sobre o que é a resiliência infantil, por que ela precisa ser cultivada desde cedo e como usar a literatura e outras formas de arte para iniciar esse diálogo de forma lúdica, respeitosa e significativa.
Por que falar de resiliência com as crianças desde cedo?
Resiliência é a capacidade de lidar com situações difíceis, superá-las e aprender com elas. Quando falamos de resiliência na infância, estamos tratando de uma habilidade em construção — que depende de vínculos afetivos, segurança emocional e oportunidade de expressar sentimentos.
As crianças absorvem muito mais do que aquilo que lhes é dito. Elas observam os adultos, percebem gestos, tons de voz, silêncios, mudanças sutis no humor. Se nem sempre conseguimos nomear nossas próprias dores, pode ser difícil guiar a criança nesse caminho. E está tudo bem. O importante é abrir espaço para crescer junto, com escuta, empatia e disponibilidade emocional.
O papel da arte e da literatura infantil na construção da resiliência
Falar de resiliência com as crianças não precisa (nem deve) ser uma conversa direta, racional ou moralizante. A mediação pode — e deve — passar por caminhos simbólicos e lúdicos. A arte, especialmente os livros infantis, oferece um território seguro para que emoções difíceis sejam acolhidas e elaboradas.
Segundo Winnicott, pediatra e psicanalista, o espaço simbólico da leitura é um “espaço transicional”, onde a criança pode projetar seus sentimentos e reorganizar experiências internas. Livros com metáforas abertas, que não trazem tudo mastigado, são excelentes recursos para esse tipo de diálogo.
O que é resiliência infantil, afinal?
Resiliência infantil é a habilidade da criança de enfrentar frustrações, perdas e mudanças com apoio e afeto, desenvolvendo recursos internos para superar desafios.
Na visão de Winnicott, essa capacidade nasce em um ambiente “suficientemente bom” — aquele em que o adulto oferece segurança, constância e escuta. E é justamente nesse ambiente que a literatura pode florescer como ferramenta de fortalecimento emocional.
O livro como espaço seguro para emoções difíceis
Como mostra o artigo “Livros infantis como lugar seguro para abordar temas difíceis”, a literatura pode ajudar a criança a lidar com medo, tristeza, insegurança ou frustração, por meio da identificação com os personagens e das possibilidades simbólicas que a história oferece.
Ao falar de resiliência com as crianças, um bom livro pode ser tão poderoso quanto uma boa conversa. E muitas vezes, ele é o caminho para que essa conversa aconteça com mais naturalidade.
Como falar de resiliência com as crianças por meio dos livros: 5 dicas práticas
- Escolha livros com conflitos reais e cotidianos: obras que retratam perdas, mudanças ou frustrações ajudam a criança a se identificar e elaborar suas próprias vivências.
- Prefira histórias com personagens que evoluem emocionalmente: livros que mostram superações — sem simplificações — mostram à criança que dificuldades fazem parte da vida e que é possível enfrentá-las.
- Evite histórias moralizantes ou com finais fechados: deixe que a criança reflita, interprete e converse sobre o que leu. Isso fortalece o pensamento crítico e o diálogo emocional.
- Transforme a leitura em um momento de vínculo: mais importante do que ler é estar presente, ouvir a criança, validar sentimentos e responder com afeto.
- Respeite o desejo de reler: cada releitura aprofunda o aprendizado emocional. A criança reencontra a história com uma nova perspectiva.
Por que começar a falar de resiliência desde cedo?
Crianças percebem quando algo muda ao seu redor — como um luto, um divórcio ou um conflito familiar. Quando essas questões não são nomeadas ou explicadas, elas tentam preencher as lacunas com a própria imaginação. Por isso, falar de resiliência com as crianças é também uma forma de protegê-las emocionalmente, de dar contorno e significado ao que elas sentem.
Mas tudo tem seu tempo. Não se trata de forçar conversas difíceis, mas de estar disponível, sentir quando faz sentido e deixar portas abertas para o diálogo, sem tabus.
Falar de resiliência é fortalecer o afeto
Resiliência não se ensina com lições, mas com exemplos, presença e disponibilidade. A leitura compartilhada, nesse sentido, é uma poderosa aliada: ao abrir espaço para sentimentos, perguntas e reflexões, ela transforma o cotidiano em território fértil para o crescimento emocional.
Ao falar de resiliência com as crianças por meio da literatura, estamos oferecendo não apenas histórias, mas também segurança, empatia e repertório emocional. 💖
Fonte: leiturinha