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Relâmpago recorde percorre 829 km no céu: distância de São Paulo a Porto Alegre

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Um único relâmpago atravessou o céu de parte dos Estados Unidos com uma distância inédita de 829 quilômetros – o equivalente a ir da cidade de São Paulo a Porto Alegre.

A descarga elétrica, agora reconhecida como a de maior extensão já registrada, ocorreu em outubro de 2017. Ela aconteceu durante um extenso sistema de tempestades que cobriu o leste do Texas até a região próxima a Kansas City, no Missouri.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) confirmou o recorde com base em dados obtidos por satélites de última geração e anunciou a descoberta em publicação no Bulletin of the American Meteorological Society. A marca superou em 61 quilômetros o recorde anterior, registrado em 2020, quando uma descarga percorreu 768 quilômetros no sul dos EUA. 

Em comunicado, o professor Randy Cerveny, da OMM, explicou que o relâmpago de 2017 foi identificado só agora, oito anos depois, devido ao avanço das tecnologias e métodos computacionais. “É provável que existam extremos ainda maiores, que poderemos identificar à medida que novas medições de alta qualidade forem sendo acumuladas”, disse.

Imagem de satélite do relâmpago recorde que se estendeu do leste do Texas até as proximidades de Kansas City, Missouri (EUA), em 22 de outubro de 2017
Imagem de satélite do relâmpago recorde que se estendeu do leste do Texas até as proximidades de Kansas City, Missouri (EUA), em 22 de outubro de 2017. (Organização Meteorológica Mundial (OMM)/Divulgação)

Relâmpagos são descargas elétricas que acontecem durante tempestades. Eles surgem quando há um desequilíbrio de cargas dentro das nuvens – ou entre as nuvens e o solo. Esse desequilíbrio é resultado da movimentação intensa do ar.

Tudo começa com o calor. O ar quente sobe e leva vapor de água com ele, formando nuvens muito grandes e escuras chamadas cumulonimbus. Essas nuvens são típicas de tempestades e podem chegar a mais de 10 quilômetros de altura.

Dentro da nuvem, o ar se move para cima e para baixo constantemente. Com isso, gotículas de água, gelo e granizo batem umas nas outras. Essas colisões fazem com que as partículas troquem cargas elétricas. 

Aos poucos, a parte de cima da nuvem fica carregada positivamente e a parte de baixo, negativamente. O solo, por sua vez, reage à presença dessa carga negativa, acumulando carga positiva na superfície – especialmente em objetos altos como árvores, prédios ou torres.

Essa separação de cargas cria um campo elétrico muito forte. Quando ele fica intenso demais, o ar deixa de funcionar como isolante e ocorre uma descarga elétrica para equilibrar as cargas. Essa descarga é o relâmpago.

A maior parte dos relâmpagos acontece dentro da própria nuvem, sem chegar ao solo. Mas, quando a descarga toca o chão, ela recebe um nome específico: raio. 

O raio segue um caminho bem definido. Primeiro, uma carga negativa desce da nuvem em etapas rápidas, como uma escada invisível. Quando chega perto do chão, encontra uma carga positiva que sobe de algum objeto. No momento em que elas se conectam, a corrente elétrica passa – e é isso que forma o clarão que vemos.

Esse processo libera uma enorme quantidade de energia. O ar ao redor aquece de forma muito rápida, chegando a temperaturas maiores que as da superfície do Sol. Esse aquecimento súbito faz o ar se expandir de forma explosiva, produzindo o som do trovão.

Na maioria dos casos, os relâmpagos percorrem distâncias curtas, geralmente menos de 16 quilômetros. Eventos tão longos quanto o novo recordista são extremamente raros – menos de 1% das tempestades é capaz de produzi-los – e só ocorrem em situações atmosféricas muito específicas. São conhecidos como megaflashes.

No caso da tempestade registrada em outubro de 2017, sua estrutura correspondia a um Sistema Convectivo de Mesoescala (MCS), ou seja, um conjunto de tempestades interligadas que se estendem por milhares de quilômetros quadrados e duram muitas horas.

Em entrevista à CNN, o pesquisador Michael Peterson, do Georgia Institute of Technology, explicou que megaflashes costumam ocorrer nas regiões periféricas e mais frágeis dessas tempestades, onde há camadas amplas de nuvens planas e carregadas que facilitam a propagação horizontal da eletricidade. 

Na ocasião do recorde, a descarga se deslocou por uma camada extensa de nuvens posicionada atrás de uma frente fria, em áreas com alta capacidade condutora. Durante esse tipo de relâmpago, múltiplas descargas podem atingir o solo em diferentes pontos ao longo do trajeto. 

“Você pode ter o equivalente a toda uma tempestade de raios concentrado em um único megaflash”, disse Peterson. Ele define esse tipo de evento como “um cenário de pior caso”: ocorre à distância do núcleo da tempestade e pode atingir locais onde as pessoas já acreditam estar seguras.

Brasil: terra dos raios

O Brasil lidera o ranking mundial de incidência de raios. Entre 2018 e 2022, foram registradas 590 milhões de descargas elétricas no território nacional, segundo dados do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Isso representa uma média anual de 118 milhões, somando tanto as descargas que tocam o solo quanto as que ocorrem apenas entre nuvens.

Amazonas, Pará, Mato Grosso, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul foram os estados com maior número absoluto de ocorrências. Já ao considerar o número de raios por quilômetro quadrado, os líderes são Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul.

Todos os anos, cerca de 110 pessoas morrem no Brasil atingidas por raios, e mais de 200 ficam feridas. A maioria das vítimas é do sexo masculino e tem menos de 30 anos. Entre as circunstâncias mais comuns estão atividades rurais, lazer ao ar livre, presença próxima a corpos d’água e até o uso de aparelhos ligados à rede elétrica dentro de casa.

As mudanças climáticas também preocupam. Estima-se que, com o aquecimento global e o aumento da umidade atmosférica, a frequência e intensidade das tempestades aumentem nas próximas décadas. Projeções do Inpe indicam que o Brasil pode chegar a registrar até 100 milhões de descargas elétricas por ano até o final do século.

Fonte: abril

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