A ideia de que a alma permanece próxima ao corpo por um tempo após a morte atravessa culturas e séculos.
Em várias tradições, acredita-se que esse período dura três dias, um intervalo simbólico carregado de espiritualidade e emoção. Mas o que a ciência moderna tem a dizer sobre isso?
Na medicina, a morte clínica é caracterizada pela parada do coração e da respiração.
No entanto, pesquisas recentes têm mostrado que o fim da consciência pode não ser tão imediato quanto se pensava.
Estudos apontam que o cérebro pode manter alguma atividade por alguns minutos após a interrupção do batimento cardíaco.
Há relatos de pacientes que, depois de serem reanimados, lembram de conversas, sons e sensações vividas durante o período em que estavam clinicamente mortos.
Essas experiências levantam dúvidas sobre a real fronteira entre a vida e a morte e indicam que esse limite pode ser mais gradual do que súbito.
Quando o coração deixa de bater, o organismo inicia um processo natural chamado autólise, em que as próprias células começam a se decompor por falta de oxigênio.
Essa degradação pode levar horas ou até dias, dependendo das condições do corpo e da temperatura do ambiente.
O cérebro também não se apaga de imediato. Pesquisadores da Universidade Western Ontario, no Canadá, detectaram sinais elétricos cerebrais até dez minutos depois da morte clínica, o que reforça a hipótese de que ainda pode existir alguma forma de atividade residual nesse período.
Nesse ponto, ciência e espiritualidade se aproximam, embora sem se misturar. Ainda não há consenso científico sobre a existência da consciência após a morte.
As chamadas experiências de quase-morte, relatadas por milhares de pessoas, descrevem sensações de leveza, uma luz intensa e uma profunda sensação de paz.
Para os neurocientistas, essas percepções podem ter origem biológica: no momento da morte, o cérebro libera substâncias como DMT e serotonina, capazes de provocar essas visões e emoções.
Assim, o que muitos interpretam como um fenômeno espiritual pode ser, na verdade, uma reação química do organismo em seus últimos instantes.
Embora a ciência ainda não tenha respostas conclusivas, várias tradições mantêm a crença de que a alma precisa de tempo para se desprender do corpo.
No hinduísmo, acredita-se que o espírito começa sua jornada três dias após a morte.
O budismo tibetano ensina que a consciência atravessa diferentes estados durante 49 dias.
Em algumas culturas xamânicas, rituais são realizados entre o terceiro e o sétimo dia para facilitar a transição da alma.
Apesar das diferenças culturais, todas essas visões cumprem um mesmo propósito: honrar a passagem, consolar os vivos e dar sentido ao ciclo da vida e da morte.
Não há provas científicas de que a alma exista, mas já se sabe que o processo da morte não ocorre de forma instantânea.
Entre a biologia e a fé, há um território desconhecido — um espaço onde a ciência reconhece seus limites e a espiritualidade encontra significado.
Talvez o verdadeiro mistério não esteja em descobrir quando a alma parte, mas em compreender como a vida continua de outras formas, por meio das memórias, dos afetos e das marcas que deixamos no mundo.
Fonte: curapelanatureza






