Como o calor afeta nosso cérebro?
O cérebro é a parte mais quente do corpo humano e, ao contrário do resto do organismo, ele não consegue se resfriar sozinho. É como um computador sem ventoinha: quando superaquece, pode funcionar mal ou até travar.
Então, com temporadas de seca, como em Mato Grosso, ou verões cada vez mais quentes, nosso cérebro está sob ataque constante.
Cientistas da FutureNeuro Research Ireland Centre observaram uma tendência preocupante: temperaturas elevadas podem piorar condições neurológicas como epilepsia, esquizofrenia, Alzheimer e Parkinson.
No caso da epilepsia, o calor extremo pode levar a convulsões mais frequentes e severas.
Epilepsia e outras doenças: qual a conexão com a alta temperatura?
Um dos motivos para essa vulnerabilidade está em como o calor interage com nossas células. Em alguns tipos genéticos de epilepsia, um gene envia mensagens para as células cerebrais produzirem uma proteína que é especialmente sensível à temperatura.
Nestes casos, o calor atua como um catalisador, acelerando reações químicas nas células. Quando a temperatura sobe acima de certo ponto, as células cerebrais começam a se comportar de forma diferente e disparam sincronicamente, o que acontece durante uma convulsão.

A Liga Internacional Contra a Epilepsia (ILAE) já tem uma comissão especial estudando o problema. O foco dos trabalhos é entender como as mudanças climáticas impactam a função cerebral. A grande questão é: será que compreendemos o suficiente os efeitos do aumento da temperatura na saúde mental e função cerebral?
Calor extremo e medicamentos: um problema global
Além dos efeitos diretos no cérebro, o calor implacável, especialmente em regiões tropicais e subtropicais (onde Mato Grosso se encaixa), gera outra preocupação grave: o comprometimento de tratamentos de saúde.
Em áreas rurais da Índia e do Sudeste Asiático, por exemplo, onde o acesso à eletricidade e refrigeração é limitado, medicamentos para epilepsia chegam a derreter. Infelizmente, a maior parte das pessoas com epilepsia vive nessas regiões, que também registram mais casos de doenças infecciosas e traumas ao nascer, causas comuns da epilepsia.
Para o neurologista Dr. Sanjay Sisodiya, membro da ILAE, “não são apenas os picos de temperatura que são relevantes, mas também as temperaturas fora de estação“. Ele e sua equipe temem que o pior problema gerado pelo calor sejam convulsões mais frequentes ou severas, especialmente em casos como a síndrome de Dravet, que é agravada pelo calor.
Proteja seu cérebro: a urgência da conscientização e pesquisa
Ainda que o cenário seja desafiador, há esperança. Sisodiya ressalta a necessidade urgente de mais pesquisas para entender e tratar os sintomas agravados pelo aquecimento global. “Podemos não ser capazes de evitar todos os efeitos adversos no cérebro, mas se pudermos definir esses riscos e efeitos, haverá coisas que podemos fazer”.
Em Mato Grosso, onde o calor é uma constante, é fundamental estarmos cientes desses riscos. Manter-se hidratado, buscar ambientes frescos e climatizados, e estar atento aos sinais do corpo são atitudes essenciais. A conscientização e o apoio à pesquisa em saúde são cruciais para proteger nosso cérebro neste clima que só tende a aquecer.
Fonte: olivre.com.br