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Ciência & Saúde

Por que multidões podem ser perigosas: a física por trás dos blocos de carnaval

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Em um novo estudo, um grupo de cientistas estudou a física por trás de multidões a fim de entender como elas funcionam – e para descobrir se dá para prever seu comportamento. A análise chega no momento certo, já que, no Carnaval, as aglomerações são a regra.

O maior bloco de carnaval do Brasil acontece em Recife, no primeiro sábado de carnaval. O Galo da Madrugada movimenta anualmente dois milhões de foliões nas ruas pernambucanas. Porém, com o carnaval de 2025 acontecendo em março, as comemorações queimaram a largada. No último sábado (22), Ivete Sangalo arrastou mais de 300 mil pessoas para a principal avenida da capital paraibana, João Pessoa (de acordo com o último censo demográfico, a cidade tem um pouco mais de 830 mil habitantes).

A expectativa é que até 53 milhões de pessoas corram atrás do trio ao redor do país. Caso você, leitor, seja adepto à folia, deve saber que esse número é mastodôntico. Essa quantidade de gente pulando ao som da Banda Eva, porém, não tem como resultado o final da aventura humana na Terra. Entretanto, muvucas são, sim, fatais em outros lugares.

Foi o caso de um tumulto que aconteceu em Seul, capital da Coreia do Sul. Em 2022, no Halloween, 100 mil pessoas se agruparam nas ruas para a primeira comemoração sem restrições pós-pandemia da Covid-19. Elas se afunilaram em uma passagem estreita e íngreme vindo de três direções, em um bairro noturno popular da cidade. O que ninguém esperava era que o local ficaria tão lotado que as pessoas não conseguiriam se mover.

No auge da concentração, testemunhas relataram que a multidão começava a se movimentar em diferentes direções e era impossível sair do centro de tudo. Pessoas perdiam o equilíbrio e eram pisoteadas pelas demais. Lee Ju-hyun, uma das sobreviventes da noite, contou à BBC que a pressão em sua volta era tão grande que os músculos das suas pernas se romperam. Quase 160 pessoas morreram naquela noite.

Algo parecido é relatado por quem participa das festas de São Firmino, na cidade de Pamplona, na Espanha. A cerimônia de abertura da corrida de touros reúne mais de 5 mil pessoas na praça central da cidade. 

Para Denis Bartolo, físico da École Normale Supérieure, em Lyon, França, os participantes do evento descreveram a multidão dessa forma: “a densidade de pessoas é tão alta que não é apenas um desconforto. Torna-se doloroso, como se você sentisse uma pressão no peito”, conta o físico sobre os relatos ao The New York Times

Bartolo é autor de um estudo publicado na revista Nature que tinha como objetivo prever o movimento espontâneo de uma grande multidão em um espaço apertado. O objetivo do físico e sua equipe era prevenir tumultos que podem se tornar letais em grandes eventos públicos. 

Usando imagens feitas de cima do caos, a equipe se perguntou se conseguiria descobrir um princípio organizador que governasse os movimentos da multidão. Para isso, eles operaram na teoria de que a massa de pessoas se aparentava com um corpo único de água e, por isso, funcionaria com os mesmos princípios das moléculas líquidas. 

 

Onda, onda, olha a onda

Eles falavam da natureza coesa do H2O. As moléculas de água são organizadas mais ou menos assim: os dois átomos de hidrogênio ficam alinhados de um lado do átomo de oxigênio, criando uma carga positiva. O outro lado do átomo fica ligeiramente negativo. 

Assim, quando o lado negativo de uma molécula de água se aproxima do positivo da outra, acontece uma história de amor mais linda que a de Shan Jahan e sua amada do Mahal: os opostos se atraem. 

A natureza polar das moléculas dá à água sua propriedade de coesão, que resiste muito bem à separação causada por uma força externa. 

Com base nisso, Bartolo aplicou técnicas matemáticas usadas no campo da dinâmica de fluidos, que medem o fluxo, direção e velocidade de um líquido, às imagens feitas na festa de São Firmino. Dessa forma, descobriu que existia uma certa ordem no caos. 

De acordo com o estudo, existiam oscilações circulares no mar de humanos, que faziam com que milhares de pessoas seguissem uma mesma trajetória circular em completa sincronia. Cada pessoa traçava um círculo imaginário que demorava exatos 18 segundos para ser concluído. 

Quando a equipe construiu um modelo matemático da mecânica das multidões, perceberam que, quando um grupo de pessoas atinge uma densidade mais elevada, os movimentos em órbita acontecem espontaneamente, sem nenhuma dependência de forças internas ou externas – como um empurra-empurra ou um pulo obrigatório quando toca Chiclete com Banana

Por fim, Bartolo faz uma recomendação que funciona do Brasil ao Egito: vale ficar atento e monitorar multidões compactas e densas, buscando os movimentos circulares. A detecção pode funcionar como um aviso prévio para um potencial fatal da aglomeração. Segundo o autor, perceber essa movimentação pode ajudar a organização do evento a ordenar o caos.

Fonte: abril

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