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Pontos de não retorno na COP30: Entenda esse tema crucial dos debates científicos

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Na última quarta-feira (12), pesquisadores da Universidade de Exeter apresentaram o relatório Global Tipping Points 2025 durante a COP30. O documento foi elaborado por 160 cientistas e é uma atualização do Global Tipping Points Report, divulgado em 2023 na COP28. Ambos tratam dos pontos de não retorno da Terra – um tema que tem dominado os painéis científicos do evento que ocorre em Belém.

“Ponto de não retorno” é um termo emprestado das ciências exatas. Ele designa um momento crucial a partir do qual há uma mudança de cenário. É como um horizonte de eventos de um buraco negro: ao cruzar esse limiar, a força da gravidade se torna tão forte que nada, nem mesmo a luz, consegue escapar.

Na ecologia e ciências climáticas, o ponto de não retorno (ou tipping point no inglês)  é o momento em que um ecossistema não consegue mais se regenerar, entrando em um outro estado de retroalimentação.

Pense no seu próprio estado de humor: se você tem um dia com acontecimentos majoritariamente bons, você tende a permanecer de bom humor. Mas se acontecem coisas desagradáveis sucessivamente, chega um momento em que você se estressa. Depois desse ponto, tudo se soma a esse estresse, e será muito difícil voltar ao estado de paz anterior.

Em outras palavras, você substitui um ciclo de retroalimentação (o bom humor) por outro (o estresse). Os ecossistemas também têm um ciclo que se retroalimenta – e que estamos próximos de mudar. “Alguns pilares que mantém o equilíbrio do sistema estão se tornando mais fracos, enquanto outros amplificadores de mudança estão se fortalecendo”, disse Tim Lenton, da Universidade de Exeter, na apresentação do novo relatório.

Amazônia

Um caso de destaque do relatório é a Amazônia. A mudança do uso de terra – desmatamento para plantação de soja, queimadas etc. – e o aumento das temperaturas empurram o ecossistema para o ponto de não retorno, em que a floresta tropical se tornaria um outro ambiente. Essa pressão também leva a um ponto de não retorno social, já que o desaparecimento de populações indígenas leva à perda de cultura, linguagens e conhecimento tradicional.

“Existe um estado de floresta que existe a partir de 2.000 mm de chuva. E existe um estado de ‘não floresta’ que vive abaixo de 1.000 mm’’, diz a pesquisadora Marina Hirota, que participou da elaboração do relatório. “Entre 1.000 mm e 2.000 mm, temos um estado de sobreposição, em que pode haver tanto floresta quanto ‘não floresta’”

Esse “ponto de Schrödinger” também pode ser a porcentagem de desmatamento ou a temperatura do planeta. No intervalo entre 1,5ºC e 2ºC de aquecimento global, é possível ter floresta ou “não floresta”. Acima disso, só há a segunda opção.

O ponto de não retorno também depende de fatores locais, como queimadas, e secas. “Muito se diz que o ponto de não retorno da Amazônia é 25% de desmatamento. Só que a gente está em 17% e já temos várias regiões que não se regeneram mais”, diz Hirota em entrevista à Super.

Recifes de corais

O caso mais emblemático de um tipping point que provavelmente já foi atingido é o dos recifes de corais. Nos últimos dois anos, tivemos evidências de que os corais estão morrendo a níveis sem precedentes, perdendo a capacidade de se regenerar entre uma onda de água quente e a outra.

Estima-se que o ponto de não retorno dos corais esteja entre 1,2ºC e 1,5ºC. Segundo o relatório, há 99% de probabilidade de que já atingimos ou iremos atingir esse tipping point. 

Correntes marítimas do Atlântico

Duas correntes marítimas importantes se aproximam do ponto de não retorno: a Circulação Meridional de Capotamento do Atlântico (AMOC) e o Giro Subpolar (SPG). Elas são importantes para a circulação de nutrientes, biodiversidade, e águas quentes e frias pelo globo.

Atingir os pontos de não retorno dessas correntes causaria mudanças drásticas no regime de chuvas da África, no rendimento de colheitas, em ecossistemas marinhos e até no inverno europeu. O relatório destaca que o tipping point dessas correntes marítimas é incerto, mas é possível que o limite do AMOC já tenha sido atingido.

Geleiras de montanhas

A geleira Áakʼw Tʼáak Sítʼ, no Alasca (EUA), também foi analisada no novo relatório. O recuo dessa geleira tem causado inundações anuais em Juneau, a cidade mais próxima da região. Ela foi apontada como um possível sistema que se aproxima do ponto de não retorno.

Os pesquisadores destacam que cruzar um tipping point também desencadeia a aceleração de outros. Perder a capacidade de regeneração da Amazônia, por exemplo, intensificaria o aumento das temperaturas, o que leva a outros pontos de não retorno.

O que todos esses pontos tem em comum é o aumento da temperatura global – e limitar esse termômetro é a prioridade para não atingi-los. “O 1,5ºC do Acordo de Paris precisa ser mantido, embora a gente saiba que dificilmente vamos ficar abaixo dele”, diz Hirota. “Quanto mais tempo passarmos acima de 1,5ºC, mais impactos vamos ter.”

Fonte: abril

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