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Podcast revive histórias do Bar do Arcanjo, ícone da vida universitária e cultural de Cuiabá

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Um bar pode ser muito mais do que um lugar para tomar uma cerveja ou comer um lanche. É o que mostra o podcast recém-lançado sobre o Bar do Arcanjo, estabelecimento que há quase 40 anos marca a rotina da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e se tornou um verdadeiro ponto de encontro, memória e afeto para estudantes e moradores de Cuiabá.


Há quase quatro décadas, o Mercado Ki-Tem, que ficou popularmente conhecido pelos universitários e frequentadores assíduos como Bar do Arcanjo por ficar em frente da casa do ex-bicheiro João Arcanjo, se tornou parte importante da memória afetiva dos estudantes da UFMT. Agora, parte da história foi registrada em um podcast criado pela jornalista Yasmim Di Berti. 
Ao Olhar Conceito, ela conta que a ideia do podcast surgiu a partir de uma reportagem feita alguns anos antes quando teve a oportunidade de entrevistar o dono do bar, Erimar Domingues, de 55 anos. A primeira conversa revelou que por trás do balcão existia um vasto universo de histórias, pessoas e vivências que mereciam ser contadas e ouvidas por um público maior.
No programa, é possível acompanhar como o Bar do Arcanjo se integra à vida universitária. Aberto das 9h às 23h, ele atende estudantes de todos os turnos, oferecendo preços acessíveis e um espaço de convivência quase que exclusivo para esse público. “Eu costumo dizer que o Bar do Arcanjo é quase uma extensão da UFMT”, conta a jornalista.
 

“Tem também o fato de que os preços no bar se mantêm abaixo da média da concorrência, o que atrai o público universitário que, normalmente, não tem muita renda. Isso tudo foi fazendo com que o bar se integrasse na universidade. Eu costumo dizer que o Bar do Arcanjo é quase uma extensão da UFMT”, continua. 
Mais do que o ambiente universitário, o bar carrega uma simbologia ligada à cultura cuiabana. Seu nome remete ao ex-bicheiro que se tornou quase uma figura quase folclórica da cidade. Essa ligação fortalece o papel do bar como patrimônio imaterial, que preserva histórias e elementos culturais locais.
Um dos pontos que mais emocionam no podcast são os relatos de frequentadores e ex-frequentadores que deixaram mensagens de carinho e gratidão, especialmente durante uma campanha para ajudar no tratamento de saúde de Erimar. “Foi muito maior do que eu esperava, uma demonstração clara da relação de afeto construída não só com o bar, mas também com o dono dele”, relata a jornalista.
Além disso, o podcast revela histórias pessoais marcantes, como a de um casal que se conheceu no Arcanjo, casou e hoje tem filhos gêmeos, um exemplo de como o bar acompanha momentos importantes da vida de muitos frequentadores. 
“Essa não foi a única história que eu já ouvi sobre casais que se conheceram lá. Além disso, tem o fato de que o bar marca o período de vida universitária de muita gente que por si só já é um momento muito importante”. 
Para quem já não frequenta mais o bar, a memória afetiva mantém viva a conexão com o local. “Muitos lembram com carinho do que foi vivido ali”, reforça.  Ao se aprofundar nessa história, a jornalista mudou sua própria visão sobre o Bar do Arcanjo, passando a enxergá-lo com mais respeito e afeto, reconhecendo a importância de preservar esse espaço que é testemunha da vida acadêmica e cultural de Cuiabá.
“Enquanto frequentadora, eu já tinha muito carinho por conta de todas as lembranças vividas ali, mas agora é uma sensação de afeto mais forte e também de respeito por toda a história que o bar construiu, de entender que um bar que está há quase 40 anos aberto e tem toda essa história que ele tem precisa ser respeitado”. 
O podcast está disponível nas principais plataformas e nasceu do desejo resgatar a importância de espaços como o Bar do Arcanjo, que caminham para se tornar verdadeiros patrimônios culturais das cidades brasileiras.
“Existem no Brasil alguns bares que são considerados patrimônios culturais, mas todos têm mais tempo de funcionamento que o Arcanjo. O próprio Seu Erimar diz que não tem a intenção de parar tão cedo e, pela história que o bar carrega, acredito que ele mereça e espero que conquiste esse título daqui alguns anos”. 

Atrás do caixa, o antigo expositor de cigarros foi tomado por fotos 3×4 coladas por jovens que são (ou já foram) frequentadores assíduos do local. O “mural” improvisado é motivo de alegria para Erimar.  A brincadeira começou com o agrônomo João Antônio Batista, que esqueceu a primeira 3×4 colada no mural do Mercado Ki Tem. Atualmente, ele mora em Lucas do Rio Verde (a 323 km de Cuiabá), onde trabalha no setor do agronegócio.
A 3×4 de João foi encontrada por um amigo, que deixou a foto no caixa do bar. Antes do mural de fotos de universiários existir, o espaço era usado para expor os cigarros que estavam a venda, além de documentos perdidos pelos clientes.
“Aquilo começou no último semestre de 2019, antes da pandemia. Até hoje deixo colocarem, mas não tem mais espaço e tem foto para colocar ainda. Vou aumentar para poder colocar, porque na verdade aquilo era uma cigarreira da Souza Cruz. Deixávamos lá os documentos perdidos para eles resgatarem, mas depois começaram com essas fotinhas”, lembrou o agrônomo em entrevista ao Olhar Conceito em 2023. 
O mural 3×4 também é tema de um dos episódios do podcast de Yasmim, que ressalta que ressalta que ele lhe remete às tradicionais placas de formandos espalhadas pelos blocos da UFMT, passando a sensação de um “compilado” das pessoas que viveram a universidade e que, de alguma forma, deixaram sua marca naquele lugar.

 

Fonte: Olhar Direto

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