SAÚDE

Plantas do Cerrado agem como protetoras de larvas contra incĂȘndios florestais

2025 word3
Grupo do Whatsapp CuiabĂĄ

No Cerrado brasileiro, uma descoberta recente revela que a prĂłpria natureza pode ser uma fortaleza contra as chamas das queimadas que acontecem no paĂ­s.

Pesquisadores liderados por Jean Carlos Santos, ecĂłlogo da Universidade Federal de Sergipe, identificaram que certas estruturas produzidas por plantas, conhecidas como galhas, podem proteger larvas de insetos dos incĂȘndios florestais, como se fossem pequenas cĂąmaras corta-fogo.

O achado foi quase acidental. Em 2012, apĂłs um incĂȘndio que devastou uma ĂĄrea de cerrado em Minas Gerais, Santos caminhava pelo terreno carbonizado quando notou que algumas galhas ainda estavam intactas. Movido pela curiosidade, ele abriu uma delas, em uma planta conhecida como lobeira ou fruta-do-lobo (Solanum lycocarpum), e ficou espantado: havia larvas vivas lĂĄ dentro.

“Eu fiquei surpreso no momento, tentando entender como aquilo era possível. Aquilo foi inesperado para mim, porque o fogo havia queimado tudo pela frente”, disse o pesquisador para a Super.

A descoberta foi o ponto de partida para um estudo mais aprofundado, cujos resultados foram recentemente publicados na revista cientĂ­fica Ecology.

As galhas sĂŁo formadas quando certos insetos liberam substĂąncias que estimulam a planta a produzir tecido extra, criando uma espĂ©cie de “casa” para suas larvas. Um dos animais capazes de fazer isso Ă© o gorgulho Boheman (Collabismus clitellae Boheman). Gorgulhos sĂŁo da mesma ordem de besouros e escaravelhos.

Além de fornecer alimento e proteção contra predadores e intempéries, esse abrigo vegetal mostrou-se, agora, capaz de proteger contra o fogo.

Para comprovar se aquela larva encontrada era uma exceção ou uma regra, a equipe de Santos voltou Ă  ĂĄrea afetada e coletou dezenas de galhas em plantas que haviam sido expostas ao incĂȘndio e em outras que escaparam das chamas. No laboratĂłrio, os pesquisadores abriram as galhas e registraram se as larvas tinham sobrevivido.

Os resultados surpreenderam: cerca de 66% das larvas nas galhas queimadas continuaram vivas. Em 20 galhas, todas sobreviveram; em 23, parte delas sobreviveu; e em 9, todas haviam morrido. O fator determinante parecia ser a espessura da camada externa da galha: quanto mais grossa, maiores as chances de resistĂȘncia ao calor extremo.

Com a intensificação das mudanças climĂĄticas (e tambĂ©m da ação humana), os incĂȘndios estĂŁo se tornando mais frequentes e intensos. Entre janeiro e agosto de 2024, o fogo consumiu 4 milhĂ”es de hectares de mata no cerrado brasileiro, sendo 79% de vegetação nativa. Os dados sĂŁo do Monitor do Fogo, da plataforma Mapbiomas.

Santos explica que o mecanismo das galhas pode ser efetivo quando os incĂȘndios nĂŁo sĂŁo recorrentes em uma mesma ĂĄrea. “O cerrado Ă© muito resiliente, entĂŁo apĂłs o fogo as plantas se recuperam, e isso Ă© bom para os insetos galhadores que habitam as galhas queimadas, porque eles irĂŁo continuar parasitando a planta hospedeira.”

No entanto, o autor do estudo alerta que “em um cenĂĄrio com muitos incĂȘndios, os insetos podem nĂŁo sobreviver Ă s constantes exposição de temperaturas altas e o estresse nas plantas causado pelo fogo.”

O estudo deve continuar. A equipe de cientistas quer expandir a pesquisa e descobrir se existem outros insetos galhadores e galhas resistentes ao fogo, qual o papel dos tecidos das galhas na proteção dos incĂȘndios e como essa relação se dĂĄ em ĂĄreas com alta recorrĂȘncia de fogo.

Fonte: abril

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidåria que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.