(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 27 de abril de 2024)
O navio do governo Lula naufragou antes de sair do porto. Sem motor, sem combustĂvel e sem GPS, e com a tripulação que o comandante botou a bordo, nĂŁo conseguiria atravessar nem o lago do Ibirapuera; o comandante, por sinal, nunca soube a diferença entre a proa e a popa. Ă claro que tinha mesmo de afundar. Desde que montou a sua âequipe de transiçãoâ, com 900 cĂ©rebros e nenhuma ideia inteligente, eliminou qualquer esperança, para o cidadĂŁo brasileiro, de que alguma coisa pudesse dar certo nos quatro anos do seu governo. EstĂĄ âconfirmando o aprontoâ, como se dizia antigamente no turfe; treinou mal, nĂŁo mostrou nada e na hora da corrida estĂĄ fechando a raia.
O B.O. que Lula e os estrategistas do seu governo armaram em torno dos dividendos da Ă© um clĂĄssico em matĂ©ria de fazer tudo para cometer um erro â e, no final das contas, nĂŁo ter competĂȘncia nem para conseguir o erro pretendido. TrĂȘs meses atrĂĄs, em mais um de seus acessos de paixĂŁo tĂłrrida pelo âEstadoâ, decidiu bater a carteira dos acionistas privados da Petrobras, bloqueando o pagamento dos dividendos que tĂȘm direito de receber em função do lucro da empresa no Ășltimo exercĂcio. Quis, como sempre, atiçar Ăłdios contra âos ricosâ que hĂĄ 40 anos lhe servem de judas pessoal: chamou os acionistas, cujo Ășnico crime foi confiar (com seu dinheiro) numa empresa do sacrossanto âEstadoâ brasileiro, de âdinossauro vorazâ. O problema, sempre humilhante, Ă© que quis roubar e nĂŁo conseguiu carregar.
TrĂȘs meses depois, Lula teve de aceitar o que o prĂłprio presidente da Petrobras, a honestidade comum e a lĂłgica dos negĂłcios recomendavam que fosse feito desde o começo â que os acionistas recebessem metade dos dividendos a que faziam jus. Para que entĂŁo toda a comĂ©dia de circo exibida atĂ© agora? Ă um desses casos de derrota com sabor de derrota. O presidente da empresa, que Lula queria demitir, continua no cargo. O sucessor que ele jĂĄ tinha escolhido nĂŁo saiu de onde estava. O dinheiro que Lula queria tirar dos acionistas para fazer âinvestimentosâ e âgerar empregoâ nĂŁo foi investido e nĂŁo gerou um Ășnico emprego â mesmo porque a Petrobras nĂŁo tinha como fazer nem uma coisa e nem outra. A ideia de que âquem manda mesmo na Petrobras Ă© o Lulaâ revelou-se apenas uma bobagem. O dinossauro ficou manso.
A basbaquice fundamental da âcrise na Petrobrasâ Ă© uma fotografia em alta definição do governo Lula â Ă© tĂŁo ruim que nĂŁo consegue nem executar as decisĂ”es estĂșpidas que toma. Sempre Ă© alguma coisa. Com o fiasco, o maior acionista da empresa acabou recebendo a sua parte, que Lula nĂŁo queria pagar. Esse acionista Ă© o Tesouro Nacional.
Fonte: revistaoeste