Diz o ditado que os amigos são a família que a gente escolhe – pessoas que vivem em uma relação de ajuda mútua ainda que não compartilhem laços genéticos. Mas será que outros animais também apresentam esse tipo de interação?
Um grupo de pesquisadores de diferentes universidades dos EUA analisou dados reunidos ao longo de vinte anos e concluiu que os pássaros estorninho-soberbo (Lamprotornis superbus), que habitam o leste das savanas africanas, ajudam uns aos outros com a expectativa de que o “favor” será retornado no futuro, se necessário. Os resultados foram publicados na revista Nature em maio.
“Muitos desses pássaros estão essencialmente formando amizades com o tempo”, explicou um dos autores do estudo – Dustin Rubenstein, professor de Ecologia, Evolução e Biologia Ambiental da Universidade de Columbia – em declaração à imprensa.
A sociedade dos estorninhos é complexa, já que os grupos são formados por uma mistura de indivíduos com e sem laços familiares. Já é um conhecimento bem consolidado que animais ajudam seus parentes com o objetivo de perpetuar seus próprios genes – e é fato que, mesmo entre os estorninhos, os consanguíneos têm preferência na hora de conseguir uma ajuda.
No entanto, os pesquisadores descobriram que alguns indivíduos também auxiliam outros que não são de sua família com frequência e consistência. Essas relações de reciprocidade podem durar muitos anos e envolvem trocar os papéis de reprodutor e ajudante ao longo das estações reprodutivas e dos anos.
Os autores sugerem que a reciprocidade tem um papel fundamental em ampliar o grupo e promover estabilidade em sociedades cooperativas complexas. Agora, os próximos passos são entender como essas relações são formadas, quanto tempo duram e por que algumas delas se tornam robustas enquanto outras acabam.
Além de registrar diversas interações entre estorninhos-soberbos do ano 2002 a 2021 – o equivalente a quarenta estações reprodutivas –, os pesquisadores realizaram coletas de DNA para determinar o parentesco entre eles. Sem uma longa base de dados que cobrisse um grande período de tempo, dificilmente os pesquisadores teriam conseguido identificar esse padrão.
“Eu acredito que esse tipo de comportamento de ajuda recíproca tem acontecido muito em sociedades de animais, e as pessoas apenas não o estudaram tempo suficiente para conseguir detectá-lo”, afirmou Rubenstein. O professor, junto com colegas e estudantes, tem coletado por décadas dados sobre a socialização de animais, o que inclui outras espécies, como ratos e lagartos na Austrália, vespas na África e abelhas na Ásia.
Fonte: abril