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CiĂȘncia & SaĂșde

Perereca extinta: Segundo exemplar encontrado, uma das mais raras do mundo

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A Phrynomedusa fimbriata Ă© uma das espĂ©cies mais raras do mundo. Essa pequena perereca, com menos de cinco centĂ­metros, foi avistada e coletada uma Ășnica vez, no Vale do Paranapiacaba, em SĂŁo Paulo, em 1898. Apesar da regiĂŁo ser muito estudada por biĂłlogos, desde entĂŁo, ninguĂ©m nunca mais encontrou outro espĂ©cime, e a espĂ©cie foi declarada extinta em 2004. 

Agora, um achado no fundo de uma prateleira do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo revolucionou tudo que se sabe sobre esse animal – e pode influenciar os esforços de conservação no sul de São Paulo.

“Como muitas coisas da vida, foi por acaso. Estava trabalhando em uma coleção de herpetologia, mas nĂŁo estava procurando por ele”, conta o pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro JosĂ© Pombal Jr., sobre o momento em que encontrou um vidrinho na coleção que pertenceu ao zoĂłlogo brasileiro Werner Bokermann. “AĂ­ apareceu esse indivĂ­duo muito estranho, que imediatamente chamou minha atenção. Por um momento, acreditei que seria mais provĂĄvel que fosse uma espĂ©cie nĂŁo descrita do que a prĂłpria espĂ©cie desaparecida hĂĄ tanto tempo.”

Foto do Perereca-de-FĂ­mbrias.
AtĂ© entĂŁo, esse era o Ășnico exemplar conhecido da perereca-de-fĂ­mbrias. Ele Ă© chamado de holĂłtipo, nome dado ao espĂ©cime que Ă© utilizado para descrever uma nova espĂ©cie. (DĂ©lio BaĂȘta/Museu de Zoologia da USP/Reprodução)

Ele, entĂŁo, convidou DĂ©lio BaĂȘta, um pesquisador que jĂĄ havia trabalhado em conjunto com ele numa pesquisa de doutorado sobre o gĂȘnero Phrynomedusa. Os dois conduziram uma anĂĄlise taxonĂŽmica minuciosa para determinar a espĂ©cie do achado, e concluĂ­ram que era mesmo um segundo exemplar da P. fimbriata, que tambĂ©m Ă© conhecida como perereca-de-fĂ­mbrias.

Délio, que é pesquisador associado ao CBioClima da Universidade Estadual Paulista e ao Museu Nacional da UFRJ, entrou em contato com museus de todo o mundo para confirmar se ninguém mais tinha, por acaso, outro espécime daquela mesma perereca. E comprovou: era mesmo a segunda vez que aquele animal era encontrado e registrado. 

Apesar do animal em si estar em bom estado de conservação, o frasco nĂŁo tinha muitas das informaçÔes que sĂŁo importantes para os pesquisadores. Eles precisam saber, por exemplo, o local especĂ­fico da coleta, o tipo do corpo d’água presente, onde exatamente o animal estava (se era em uma ĂĄrvore ou numa poça, por exemplo) etc.

O vidrinho apenas carregava uma etiqueta que dizia “Serra do Araraquara, Paraná”, sem informaçÔes sobre quando ou por quem foi coletado. “Provavelmente alguĂ©m – um amigo ou um outro zoĂłlogo – pegou o animal no Araraquara, e, sabendo dessa coleção particular  do Bokermann, enviou o bicho. O nosso trabalho de revisĂŁo da coleção se assemelha a um trabalho de detetive”, diz BaĂȘta.

Foto do Dr. DĂ©lio BaĂȘta analisando um frasco com exemplares de Phrynomedusa.
DĂ©lio BaĂȘta, pesquisador associado ao Museu Nacional, analisa um espĂ©cime da terceira maior coleção de anfĂ­bios do Brasil, na Universidade Estadual de SĂŁo Paulo. (DĂ©lio BaĂȘta/Museu de Zoologia da USP/Reprodução)

De acordo com diårios de Bokermann, o administrador da coleção, os dois concluíram que ele deve ter recebido essa amostra em algum momento entre 1950 e 1960. Isso implica em duas coisas bombåsticas: a primeira é que o local da segunda coleta foi a 350 quilÎmetros de distùncia do achado original; a segunda, é que a data é muito mais recente do que a do espécime original, de 1898. 

Essas duas informaçÔes mudam tudo que se entende sobre a distribuição geogrĂĄfica dessa espĂ©cie que eles consideram “uma das mais enigmĂĄticas da Mata AtlĂąntica”.  Os resultados da pesquisa foram publicados na edição de outubro da revista Ichthyology & Herpetology.

Agora, estĂŁo renovadas as expectativas de encontrar a perereca-de-fĂ­mbrias em algum outro de SĂŁo Paulo e ou do Sul do Brasil. “Para mim, que sou otimista, abre uma possibilidade gigantesca na busca dessa espĂ©cie”, diz BaĂȘta.

As expediçÔes jĂĄ conseguiram financiamento e estĂŁo preparando os trĂąmites legais, mas os pesquisadores dizem que as buscas devem ser como procurar por agulha no palheiro. “Estamos falando de pererecas que podem passar a vida inteira numa bromĂ©lia no alto da ĂĄrvore sem descer para reproduzir. NĂŁo Ă© como se a gente estivesse procurando um elefante na mata”, diz BaĂȘta, rindo.

Foto do José Pombal.
JosĂ© Pombal Jr., curador das coleçÔes de AnfĂ­bios do Museu Nacional, em trabalho de campo para coleta de animais. (DĂ©lio BaĂȘta/Reprodução)

A mudança da abrangĂȘncia territorial da perereca-de-fĂ­mbrias pode fortalecer, inclusive, o processo que tenta transformar a ĂĄrea onde o segundo espĂ©cime foi encontrado em uma unidade de conservação ambiental. Essa informação chegou aos pesquisadores atravĂ©s de colegas nos Ășltimos dias, e ainda nĂŁo foi confirmada. “Isso mostra como tudo estĂĄ conectado: aquele bichinho morto hĂĄ tantos anos, na verdade, tem uma importĂąncia aplicada: se soma a mais um esforço de preservação”, diz Pombal Jr.

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Fonte: abril

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