Em Cuiabá, oficinas de percussão vêm reunindo pessoas interessadas em aprender técnicas tradicionais e conhecer mais sobre a cultura afro-brasileira. A prática envolve instrumentos construídos à mão e ritmos de matriz africana que ajudam a fortalecer identidade e enfrentar preconceitos ainda presentes no cotidiano.
No Dia da Consciência Negra, celebrado nesta quinta-feira (21), essas atividades ganham destaque ao mostrar como o resgate da ancestralidade segue essencial para manter vivas histórias que foram silenciadas e para garantir espaços de formação e acolhimento dentro da comunidade.
O tambor como memória e linguagem
O som do tambor ecoa séculos. Símbolo de fé, comunicação e resistência, acompanha a trajetória do povo negro desde a diáspora africana. Em Cuiabá, esse legado ganha vida no ateliê do artesão e mestre de capoeira Rony Lima dos Santos, o ‘Mano’, que transformou o antigo ofício do pai em missão cultural.
É no ateliê onde cresceu que ele molda madeira e couro até que cada instrumento “fale”. Atabaques, timbais, djembês, nascem da união entre técnica, paciência e respeito, elementos que ele aprendeu na prática e aperfeiçoou viajando pelo país, trocando saberes com percussionistas e mestres.
O artesão já viajou o país com seus instrumentos, absorvendo técnicas e compartilhando saberes. Para ele, cada tambor carrega ancestralidade, e exige respeito.
As oficinas e rodas de percussão são realizadas em espaços comunitários e reúnem crianças, jovens e adultos que buscam reconhecer sua identidade e manter vivas práticas culturais historicamente marginalizadas.
Casa das Pretas: acolhimento e identidade
Esses instrumentos ganham vida nas oficinas do projeto Pretas em Movimento 2, realizado na Casa das Pretas, espaço cultural mantido pelo Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso. O local oferece arte, acolhimento, formação e empreendedorismo para a comunidade.
Segundo Nieta Costa, fundadora do Centro Cultural Casa das Pretas, o espaço se tornou um ponto de referência e acolhimento para mulheres e famílias negras em Cuiabá. Para ela, a percussão tem papel essencial na construção da autoestima e na valorização das raízes.
Nieta explica que a percussão é mais do que música. “É um processo de aquilombamento. A gente usa isso para aquilombar. Aquilombar é reunir, é a questão do afeto, é questão de vivenciar e trocar essas experiências. O corpo em movimento, a voz do tambor, o batuque do tambores, do atabaque. É uma questão de integração”, explica.
As oficinas também enfrentam um desafio histórico: romper com o preconceito e o racismo que ainda recaem sobre os tambores, muitas vezes alvo de intolerância e estigmas.
Ancestralidade que pulsa
Quem conduz as aulas é o percussionista e pesquisador Régis Gomes, responsável por ensinar técnica, ritmo e principalmente o significado por trás de cada batida.
“O atabaque não é um instrumento qualquer. Ele é sagrado, tem conexão com a ancestralidade. Cada toque carrega uma história”, conta.
As oficinas acontecem todas as segundas-feiras, às 19h, no Centro Histórico, de forma gratuita. O espaço reúne crianças, jovens e adultos que encontram no tambor um caminho de expressão e pertencimento.
Projeto Multi amplia olhares
A reportagem sobre a iniciativa foi produzida pela jornalista Larissa Alves e exibida como a primeira matéria do Projeto Multi, iniciativa da TV Centro América que permite que produtores, estagiários e jornalistas dos bastidores desenvolvam conteúdos de forma independente utilizando o kit mojo, um equipamento compacto com celular, tripé e microfone.
A proposta é aproximar quem atua nos bastidores da rotina das ruas e ampliar o olhar dentro dos telejornais.
A estreia mostra que, mesmo com uma estrutura simples, o kit mojo aliado à sensibilidade de quem produz consegue revelar histórias que fortalecem memória, identidade e pertencimento.
Assista abaixo, a reportagem que foi ao ar nesta quinta-feira (21), data marcada pelo Dia da Consciência Negra:
Fonte: primeirapagina






