A espera por um leito de UTI terminou em uma perda dolorosa para a família de Luciano Ribeiro, de 56 anos. Pastor evangélico e mecânico, ele morreu na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Jardim Leblon, em Cuiabá, nesse sábado (2), após aguardar por sete dias uma vaga de UTI, mesmo com decisão judicial que determinava a transferência em até 48 horas.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES-MT), o estado conta com 829 leitos de UTI pelo SUS, está com 98% de ocupação e alta demanda em especialidades como neurologia, cardiologia e vascular.
Luciano deu entrada na unidade no dia 26 de julho, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), condição que interrompe o fluxo de sangue para o cérebro e pode comprometer funções do corpo.
Segundo a família, ele foi intubado ainda no mesmo dia e permaneceu em estado grave, sem acesso à estrutura adequada para tratar a gravidade do caso.
Com apoio da Defensoria Pública, as irmãs do paciente conseguiram na Justiça uma liminar que determinava a transferência dele para um hospital com UTI especializada. A decisão foi emitida em 28 de julho, com prazo de 48 horas para cumprimento. A medida, no entanto, não foi atendida pelo Estado.
A Defensoria ainda recorreu pedindo reforço da decisão, e uma juíza substituta estendeu o prazo por mais 24 horas. Mesmo assim, nenhum hospital (público ou privado) teria disponibilizado o leito necessário, segundo relato da família.
“Nós ficamos de mãos atadas vendo o nosso irmão se definhar. Isso gerou um sentimento de impotência. O mínimo que ele merecia era dignidade e a chance de lutar pela vida”, desabafou Fabiana Ribeiro, irmã de Luciano, moradora de Rondonópolis, à reportagem. (Veja vídeo ao final da reportagem)
Ela destacou que o quadro clínico se agravava a cada dia. “Ele começou a ter problemas renais e feridas pelo corpo, por estar tantos dias num box improvisado. Os médicos fizeram o possível, mas não tinham os recursos que ele precisava”, relatou.
A morte de Luciano foi confirmada em 2 de agosto, antes que qualquer transferência fosse realizada.
A outra irmã de Luciano, Fernanda Maria Ribeiro, moradora de Goiânia, descreveu Luciano como um homem justo, honesto e trabalhador. Cuiabano, era o filho mais velho de Anísia e Orivaldo, já falecidos, e atuava como mecânico e pastor. Temente a Deus, dedicava sua vida à fé e à família. (Veja vídeo abaixo)
98% dos leitos de UTI pelo SUS ocupados
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES-MT) disse que envidou todos os esforços para localizar uma vaga de UTI, tanto na rede pública quanto na privada, mas não obteve retorno sobre disponibilidade. A secretaria também informou que o Estado possui 829 leitos de UTI pelo SUS, com 98% de ocupação. Leitos voltados a especialidades como neurologia, cardiologia e vascular enfrentam alta demanda.
Ainda segundo a pasta, a construção de novos hospitais, como o Hospital Central de Alta Complexidade, está em fase final e deve contribuir para aliviar a sobrecarga na rede.
Enquanto isso, a Defensoria Pública pediu a prisão do secretário de Saúde pelo descumprimento de ordem judicial. A família denunciou o caso ao Ministério Público e à Ouvidoria do SUS, mas afirma que não obteve resposta de nenhum órgão até a publicação desta reportagem.
Em meio à dor pela perda de Luciano, a irmã faz um apelo urgente às autoridades por respeito à vida e aos direitos básicos.
“É por isso que estamos aqui: para fazer um apelo às autoridades, para que, quando ocorrerem situações como essa, não haja abandono e não se tire o direito do ser humano à vida, à saúde, ao atendimento, como foi negado ao nosso irmão”, disse Fernanda.
Fonte: primeirapagina