Mato Grosso está enfrentando uma crise na ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da rede pública. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT), 98% dos 829 leitos disponíveis pelo SUS estão ocupados, o que tem dificultado a transferência de pacientes em estado grave — até mesmo daqueles que têm decisões judiciais favoráveis.
Por meio de nota, a SES afirmou que a alta demanda atinge principalmente as especialidades de neurologia, cardiologia e vascular, áreas que concentram os casos mais urgentes.
Após uma semana internado na UPA do Leblon, em Cuiabá, o pastor Luciano Ribeiro, de 56 anos, morreu nesse sábado (2). Ele esperava transferência para UTI, o que não aconteceu mesmo após decisão judicial que autorizava a vaga.
A Secretaria de Saúde afirma que tentou localizar vaga para Luciano em UTIs da rede pública e privada, mas não obteve retorno.
Com apoio da Defensoria Pública, a família de Luciano obteve uma liminar da Justiça determinando a transferência em até 48 horas, prazo que não foi cumprido. Um novo pedido estendeu a ordem por mais 24 horas, mas a vaga nunca surgiu.
A pasta reconhece que o sistema está sobrecarregado e diz que novas estruturas estão em fase final, como o Hospital Central de Alta Complexidade, que deve ampliar a capacidade de atendimento — embora sem data definida para início das operações.
A Defensoria Pública chegou a pedir a prisão do secretário de Saúde, Gilberto Figueiredo, por descumprimento da liminar.
Além das ações na Justiça, a família de Luciano denunciou o caso ao Ministério Público e à Ouvidoria do SUS. O Primeira Página solicitou nota às autoridades, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Quem era Luciano?
Luciano era pastor evangélico e trabalhava como mecânico. Natural de Cuiabá, foi descrito pelas irmãs como um homem de fé, justo e dedicado à família e à comunidade.
Ele sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) no dia 26 de julho e foi levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Jardim Leblon, em Cuiabá. O quadro era grave, e ele foi entubado no mesmo dia, mas não foi transferido para um hospital com suporte intensivo, como recomendavam os médicos.
“Nós ficamos de mãos atadas vendo o nosso irmão se definhar. O mínimo que ele merecia era dignidade e a chance de lutar pela vida”, disse Fabiana Ribeiro, irmã de Luciano.
Fonte: primeirapagina