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Oposição critica ausência de agenda de Lula para reunião com Trump: possíveis cenários em negociações

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A indisposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para permanecer nos Estados Unidos e atender ao convite de Donald Trump para uma conversa está gerando críticas e ironias na oposição. A avaliação é que Lula teme um possível confronto na Casa Branca e prefere preservar o discurso de soberania contra um “inimigo externo”, narrativa que lhe rendeu fôlego nas pesquisas. Diante desse cenário, cresce a expectativa de que o contato entre os dois se limite a um telefonema ou a uma reunião virtual.

A declaração de Trump, durante a Assembleia-Geral da ONU, destacando sua “excelente química” com Lula e manifestando disposição para dialogar, acendeu alertas na oposição. Aliados de Jair Bolsonaro (PL) reconhecem que um encontro bilateral é possível, mas temem que o gesto se restrinja a um aceno comercial, desviando o foco político que mais interessa ao grupo.

Nos bastidores, a oposição projeta três cenários. O primeiro, considerado ideal, é que Trump coloque em pauta temas como perseguição judicial a opositores, censura e violações de direitos humanos no Brasil. Essa abordagem daria visibilidade internacional às denúncias de censura e reforçaria o discurso de perseguição política contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

O segundo, visto com preocupação, seria a discussão se reduzir ao campo econômico, centrada nas tarifas impostas por Trump durante sua gestão. Nesse caso, Lula poderia sair fortalecido ao apresentar avanços comerciais, enquanto a oposição perderia um elemento de pressão para reequilibrar os poderes da República e acabar com a perseguição política interna.

O terceiro cenário é que Lula opte por postergar ou até evitar a conversa presencial com Trump, sustentando o discurso de que o Brasil estaria sendo atacado. Esse movimento, segundo adversários, preservaria sua retórica de resistência diante de pressões internacionais.

O deputado Filipe Barros (PL-PR), presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa, ironizou a falta de empenho do presidente para se reunir pessoalmente com Trump.

“Eu acredito que nesse primeiro momento esse encontro não vai acontecer. O próprio Lula já disse que vai fazer uma chamada ou uma reunião virtual. Depois da fala do Trump, se eu sou assessor do Lula — Deus me livre —, eu diria: presidente, cancele o que tem para fazer no Brasil e fique aqui. Acho que a Janja ia gostar, ia poder fazer mais compras. Vamos ver se teve química mesmo ou se vai ser igual água e óleo”, disse no programa Arena Oeste na noite de quinta-feira (25).

Já o líder da oposição, deputado Zucco (PL-RS), minimizou uma hipótese levantada pela esquerda de que Trump esteja em busca de ganhos eleitorais com o gesto.

“Quem buscou a aproximação foi o presidente Trump. Ele aproveitou a ONU para um encontro reservado, muito rápido, que ele mesmo relatou em seu discurso. Não vejo como estratégia eleitoral da parte de Trump. Estratégia eleitoral é a do Lula, que já está com a cabeça em 2026.”

Barros também reforçou essa leitura, lembrando que, no início do mandato, Lula culpava o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pelos problemas econômicos. “Essa desculpa perdeu validade quando o petista indicou Gabriel Galípolo. O Lula buscou um culpado externo para o problema econômico brasileiro, tal como Venezuela fez, tal como Cuba faz”, afirmou.

Governo brasileiro teme repreensão de Trump

Diplomatas brasileiros avaliam que o encontro bilateral sempre foi considerado possível, mas requer cautela. A preocupação é que Lula não caia na mesma situação vivida por Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, que se desentendeu em público com Trump e seu vice J.D Vance em fevereiro e foi convidado a deixar a Casa Branca de forma abrupta.

Esse episódio reforça entre aliados de Bolsonaro a tese de que um eventual encontro pode se tornar palco de constrangimentos para Lula.

Em entrevista à CNN dos Estados Unidos, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, confirmou que Lula conversou com Trump sobre um encontro entre os dois países. Segundo Vieira, isso pode ocorrer nos próximos dias. Porém, ressaltou que provavelmente seja através de um telefonema ou videoconferência, “porque o presidente Lula tem uma agenda muito cheia”.

A decisão foi alvo de críticas não apenas no Brasil, mas também nos Estados Unidos. O senador republicano Shane Jett afirmou em vídeo publicado no X:

“Nós vimos que o presidente do Brasil, o marxista Lula da Silva, se recusou a um encontro com Donald Trump e concordou apenas com um telefonema. Isso é covardia. Nossos corações estão com o povo brasileiro. Estamos rezando para o seu resgate e para que tenhamos uma aliança mais forte com vocês. O novo regime vem aí, 2026 está chegando.”

Para o advogado e ex-deputado Deltan Dallagnol, o medo de Lula, em relação ao encontro com Trump é algo esperado, tendo em vista o que ocorreu com Zelensky e com presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. “Eles sofreram em reuniões públicas assim. Diante de toda a imprensa. Foram duas ‘tortas de climão’ ali no Salão Oval”, relembrou durante o programa Última Análise da Gazeta do Povo.

A possibilidade do papo entre Lula e Trump ser apenas um telefonema e não pessoalmente também gerou críticas da oposição. “Lula acaba de ter a oportunidade de ficar frente a frente com Trump, mas já está arrumando desculpas para fugir. Procura-se o Presidente da República”, declarou Filipe Barros.

Postura de Lula pode definir força ou fragilidade

Zucco também avaliou que a saída de Lula do encontro, fortalecido ou fragilizado, dependerá diretamente de sua postura. Ele listou uma série de ações que, em sua visão, enfraquecerão o presidente.

“Se continuar atacando Trump, defendendo regimes autoritários, apoiando grupos terroristas como o Hamas e atacando o dólar, certamente sairá enfraquecido,” alertou o líder da oposição. O deputado defendeu que a pauta prioritária deveria ser “comércio, oportunidades e diálogo franco.”

Além disso, Zucco fez um alerta sobre as críticas que Lula poderá ter de enfrentar: “Lula também terá de ouvir críticas duras em relação à censura, à violação de direitos humanos e à perseguição política contra opositores no Brasil. Trump sabe muito bem o que acontece aqui,” garantiu.

O líder do PL-RS também fez questão de alertar para o risco de exploração política do evento por parte do presidente Lula.

“O risco está em Lula tentar transformar esse encontro em palanque eleitoral,” pontuou Zucco. O deputado concluiu com um aviso de que, se o presidente insistir em usar esse espaço como propaganda, poderá acabar “exposto e cobrado publicamente de um jeito que não consegue controlar.”

Sóstenes vê oportunidade, mas ataca Lula

Já o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), fez questão de ressaltar que a iniciativa do encontro partiu de Trump.

“É bom dizer que não foi o Lula que procurou o Trump. Foi o Trump que é muito educado, diferente do presidente Lula, que é um descondenado, nem princípio de educação tem,” disparou Sóstenes. Ele minimizou o encontro, descrevendo-o como um cumprimento rápido: “Ele pegou como anfitrião, cumprimentou o presidente Lula em alguns segundos. Deixou uma porta aberta.”

Sóstenes Cavalcante insistiu que a disposição de Trump ao diálogo é ampla, citando que o americano cumprimentou líderes de diversos países. Para ele, o único a resistir à conversa foi Lula: “O único presidente que não tem nenhum tipo de condições de relações internacionais diplomáticas foi o presidente Lula, que não quis falar com ele.”

O deputado do PL ainda destacou que a intenção de Trump é clara e está contida na carta que enviou ao Brasil ao impor a elevação das tarifas comerciais: “Eu tenho convicção de que a carta do Trump é muito clara. Se ele não resolver o problema, que está claro na carta do presidente Trump, o que ele está chamando o Lula é justamente para reiterar aquilo que ele já disse em uma carta.”

O questionamento central de Sóstenes recai sobre a vontade de Lula em cooperar: “Eu conheço bem o presidente Donald Trump. O mundo o conhece. Sabe que ele é um presidente que conversa com todo mundo e tem interesse em resolver o problema da tarifa. Resta saber se o Lula tem.”

PL avalia gesto de Trump como um ato de “verdadeira liderança”

Em uma postagem no X, o Partido Liberal (PL) interpretou o gesto de Trump como um ato de “verdadeira liderança” e uma demonstração de respeito aos interesses nacionais, apesar das divergências ideológicas com o atual governo brasileiro.

“Se o Trump não tivesse a postura de um verdadeiro líder, que honra a sua nação com decisões inteligentes de negociação, não teria estendido a mão ao Brasil diante de tantas divergências de valores com esse governo brasileiro,” afirmou o PL na nota.

O partido fez um claro contraste entre a atitude de Trump e a de Lula, sugerindo que o ex-presidente americano não precisava da aproximação, mas a buscou para provar sua disposição ao diálogo.

“E não que o presidente norte-americano precisasse, mas ele provou sua verdade: mostrou que sempre esteve aberto ao diálogo!” declarou o partido. 

Por fim, o PL direcionou uma crítica direta a Lula, acusando-o de prejudicar o país por questões pessoais: “Muito diferente de Lula, que coloca todo o Brasil em maus lençóis por vaidade e imaturidade!”.

Fonte: gazetadopovo

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