Você tira férias e o que acontece no Brasil? Piora. É o caso perfeito de um país que piora permanecendo como sempre foi, e você pode escolher o ângulo que quiser para definir o nosso imutável estado de coisas.
Agora, temos o ângulo do
Sai o boné do MST, vermelho como a alma companheira, entra o boné azul, para fazer contraste, com o slogan “O Brasil é dos brasileiros”, de notável afinidade eletiva com o “Brasil: ame-o ou deixe-o” da ditadura militar.
Parece que é uma apropriação petista de um mote de campanha da oposição, que dizia que o Brasil não era do PT, mas dos brasileiros. Uma forma de provocar a oposição, que usou adereços vermelhos para exaltar a posse de Donald Trump nos Estados Unidos.
Criou-se, assim, esta não menos do que ridícula guerra dos bonés. Em resposta, opositores usaram bonés com inscrições críticas ao governo e com propaganda eleitoral do inelegível Jair Bolsonaro.
Porta-vozes bolsonaristas na imprensa também fizeram litanias sobre o Brasil, na verdade, não ser dos brasileiros, já que os coitados dos brasileiros não mandam no próprio país, são explorados por uma elite assim e assado e por aí vai. Como se os bolsonaristas estivessem muito preocupados com essa verdade.
E é assim que, a quase dois anos da eleição presidencial de 2026, o Brasil está outra vez sob os eflúvios do marketing eleitoral. Para quê?
Para eleger os mesmos nomes de sempre, que não têm projeto nenhum de país, certo ou errado que seja, a não ser satisfazer as próprias ambições de poder e do seu corolário, a cobiça pelo vil metal. Para o Brasil, enfim, piorar, permanecendo como sempre foi.
Ao me informar sobre a guerra dos bonés, depois das minhas férias romanas, lembrei-me do conto de Machado de Assis, aquele autor muito citado e pouco lido hoje, intitulado “O Capítulo dos Chapéus”, a meu ver elucidativo sobre a atual guerra dos bonés.
A certa altura, um dos personagens do conto, de quem a mulher gostaria de mudar o chapéu baixo, que julgava pouco elegante, explica como um chapéu é o prolongamento de quem o usa:
“A escolha do chapéu não é uma ação indiferente, como você pode supor; é regida por um princípio metafísico. O princípio metafísico é este: o chapéu é a integração do homem, um prolongamento da cabeça, um complemento: ninguém o pode trocar sem mutilação.”
O boné criado pelo marqueteiro de Lula não tem significado, não expressa ideias, não aponta caminhos. É um complemento do nada absoluto de um país que não tem nada na cabeça.
Fonte: revistaoeste