Em 1769, os primeiros gatos chegaram à ilha de Aotearoa, hoje conhecida como Nova Zelândia. Eles vieram nos navios dos ingleses com a função de controlar a população de ratos que se alimentavam dos alimentos estocados na embarcação.
Os felinos chegaram em uma terra em que mesmo gatinhos domésticos podiam ocupar o topo da cadeia alimentar. Apesar da fauna farta e diversificada, não havia ali nenhum animal capaz de competir ou predar os felinos carnívoros. E aí, começou uma tragédia para a biodiversidade.
Com fome ou sem, os gatos caçam. Abatem pequenos mamíferos, insetos e aves e comem em pequenas porções. Na década de 1870, eles chegaram a ser espalhados intencionalmente para controlar a população de coelhos da ilha. Sem serem alimentados por humanos, eles podem facilmente abater entre 10 e 20 animais por dia. Multiplique isso por milhares de gatos, centenas de anos, e uma ilha repleta de bichinhos despreparados.
Os impactos foram graves. Na ilha Stephen, próxima à Nova Zelândia, uma espécie de ave supostamente foi totalmente extinta apenas por uma gata, que pertencia ao faroleiro da ilha. Em um caso bem documentado, um gato abateu 102 morcegos ameaçados de extinção em apenas uma semana.
Não existe uma estimativa oficial de quantos gatos selvagens existem na Nova Zelândia. O número de 2,4 milhões é frequentemente citado, mas o número real pode ser muito maior.
Para piorar, os gatos ainda podem transmitir o parasita Toxoplasma gondii, causador da toxoplasmose para rebanhos, humanos e animais selvagens. A doença, adquirida por meio da água contaminada com fezes felinas, é uma causa de morte significativa para golfinhos que vivem na região – inclusive o raro golfinho Māui (Cephalorhynchus hectori maui), do qual só restam apenas 54 indivíduos adultos no mundo.
Agora, mais de 250 anos depois da chegada dos primeiros gatos, o governo da Nova Zelândia promete iniciar medidas drásticas para conter o avanço dos predadores invasores. Os felinos selvagens (ou seja, que não são alimentados e cuidados por humanos em nenhuma hipótese) foram incluídos na lista Predator Free 2050, de animais invasores que devem ser erradicados até 2050.
Na lista também constam ratos, arminhos, furões, doninhas e gambás. Nas primeiras vezes em que caçadores neozelandeses incluíram gatos em sua caçada de pragas, houve controvérsia e revolta entre os defensores de animais. Entretanto, o debate se intensificou e as evidências dos danos causados por gatos selvagens se tornaram cada vez mais inegáveis. Hoje, a decisão não causa mais a mesma polêmica entre ativistas.
“Nós não apoiamos a política de manejo de gatos selvagens que os captura, castra e liberta. Isso porque gatos são predadores que representam uma ameaça contínua à vida selvagem”, diz a página oficial do Departamento de Conservação do governo da Nova Zelândia.
Os gatos selvagens já são capturados e sacrificados em algumas áreas, mas a inclusão na lista deve significar que agora o governo irá implantar pesquisas e programas de larga-escala para focar nos bichanos. Segundo o Departamento de Conservação, planos detalhados serão lançados em março de 2026.
“A Nova Zelândia está repleta de orgulhosos donos de gatos, e os animais de estimação domésticos não fazem parte desta meta de um país livre de predadores. A posse responsável, a castração, a microchipagem e a manutenção da distância dos gatos à vida selvagem continuam sendo partes importantes da solução”, afirma o ministro da Conservação, Tama Potaka, em comunicado.
Fonte: abril






