Maior produtor de soja, milho e algodão do país, quando se olha para Mato Grosso muitas pessoas imaginam que da porteira para dentro os agricultores não enfrentam dificuldades, que sabem todos os segredos da parte operacional, técnica e gestão do negócio. Só que na prática, a realidade não é bem essa para todos. Há cerca de quatro meses o Senar Mato Grosso lançou a ATeG Grãos, um braço do programa de Assistência Técnica e Gerencial com foco justamente nesta cadeia produtiva.
A ATeG Grãos é realizada, neste primeiro momento, na região de Lucas do Rio Verde. Ao todo sete propriedades recebem mensalmente quatro visitas de um técnico de campo do Senar Mato Grosso. A duração é de dois anos.
Entre as propriedades participantes está a Fazenda Nova Sílvia, que está em plena colheita de soja e plantio do milho, ao mesmo tempo em que vê a sucessão familiar passar por ela.
Localizada na BR-163, principal corredor para o escoamento da produção agrícola de Mato Grosso, a propriedade é o xodó do “seo” Antônio Reolon, um gaúcho com mais de três décadas de vida no Cerrado.
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O nome da propriedade é uma homenagem para sua mãe, que segundo ele, acreditava que daria certo. A chegada em 1991 se deu devido a uma fatalidade na família e a necessidade de tocar os negócios numa Lucas do Rio Verde em que ainda não havia energia elétrica, asfalto e nem mesmo uma cidade em si.
“Todo mundo sofreu, penou, mas a cada ano era uma esperança maior, um passo a mais que o município, que todo mundo dava. E em termos de conforto foi melhorando e com o passar dos anos chegamos ao patamar que chegamos”, comenta “seo” Antônio ao programa Senar Transforma desta semana.
Na primeira safra, relembra, foram 150 hectares plantados, sendo 50 hectares com arroz e o restante com soja.
“Eu nunca tinha plantado arroz na minha vida. Com a ajuda do meu cunhado e do meu sobrinho, que foram dando as dicas, eu plantei. E quando eu colhi aquele arroz, meu Deus do Céu, nunca tinha visto tanto arroz na minha vida”.
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Sucessão familiar dá início a um novo momento
Hoje, entre terras próprias e arrendadas, o produtor cultiva ao todo 1,2 mil hectares de soja na primeira safra e de milho na segunda safra. Nesta época, as atenções estão todas voltadas para a colheita de uma cultura e o plantio da outra. Trabalho feito, inclusive, conforme a umidade deixa.
No dia a visita do Dia de Ajudar Mato Grosso, a colheita da soja na Fazenda Nona Sílvia estava em 70% e o plantio do milho em praticamente toda a extensão já colhida da oleaginosa.
De acordo com “seo” Antônio, é “normal” na região observar os momentos de invernada, com chuvas de três, quatro, cinco dias e depois sol, como se tem visto nos últimos dias. “Nada fora do normal. O bom é que não está estragando, apodrecendo. Estamos tirando na hora certa”.
A serenidade vista no rosto de “seo” Antônio é reflexo da experiência e também da união da família, ingredientes fundamentais para superar os desafios recorrentes no campo, como a escassez de mão-de-obra. Um alicerce fortalecido com o retorno da filha mais velha Caroline Reolon Yamaji para Lucas do Rio Verde, após se formar em Curitiba (PR).
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Caroline conta à reportagem do Dia de Ajudar Mato Grosso que queria trabalhar na área química, com foco em tratos culturais, como o combate à mosca branca, porém acabou não se identificando com a área e decidiu voltar para a sua cidade, após ouvir do pai que se ela quisesse voltar para recomeçar lá ele estaria.
Ela conta ainda que cresceu na cidade e aos finais de semana ia para a fazenda. A primeira vez que morou de fato no local foi durante a pandemia da Covid-19.
“Eu morei três meses na fazenda. Foi quando eu realmente tive a experiência do agro, que aprendi a colher, aprendi a subir na colheitadeira não só para passear. Foi para aprender. Eu aprendi a dirigir trator. Na verdade, eu nunca tive muito interesse em fazer essas coisas e nesses três meses eu comecei a pegar gosto e aprender e, realmente, entender que era isso o que eu gostava, o que eu queria”.
ATeG Grãos chega para reforçar o aprendizado
E esse aprendizado e gosto pelo campo, ganhou em novembro de 2024 reforço com a entrada da Fazenda Nona Sílvia na lista das propriedades que abriram a porteira para a nova frente do Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Senar Mato Grosso, direcionada a quem cultiva soja na primeira safra e milho ou algodão na segunda.
Segundo a técnica de campo da ATeG Grãos do Senar Mato Grosso, Rúbia Crivelli, a cadeia de grãos é um segmento “um pouco diferenciado”, pois é uma cadeia que conta com muita tecnologia, é bem desenvolvida e com altas produtividades.
“Mas, o produtor também tem a necessidade desse atendimento, principalmente dessa parte gerencial, onde a gente tenta ajudar ele nessa parte de gestão”.
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Para o “seo” Antônio o retorno da filha é uma “ajuda e tanto”.
“Você chega numa certa idade e já não tem mais o pique que tinha. Antigamente você tinha uma juventude, uma coisa que você lutava, você encarava, ia e brigava. Chegamos num período em que ficamos eu e a Ariane sozinhos e queira ou não você vai cansando e com a volta [da filha Caroline] é um ânimo novo. É um recomeço e tentar passar o máximo que a gente pode para os filhos”.
O produtor frisa ao Dia de Ajudar Mato Grosso que o aprendizado que está chegando à propriedade por meio da ATeG Grãos é uma ajuda à mais, pois “a gente está tentando botar e largar eles para fazer, para aprender e começar do jeito certo”.
E, conforme Caroline, o auxílio do Senar Mato Grosso “tem ajudado muito em todos os aspectos, porque é tudo muito novo”.
“É muito aprendizado, muita coisa nova e a gente se ajuda bastante. O pai tem bastante paciência para me ensinar, porque não é fácil chegar sem conhecimento nenhum e ter que aprender tudo muito rápido, porque, segundo ele, em dois anos ele se aposenta. Então, em dois anos eu tenho que aprender tudo”.
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Parte burocrática é o maior gargalo
“Seo” Antônio salienta que, falando por ele, o agricultor da porteira para dentro já é “descolado”, mas quando o assunto é a parte burocrática, o papel, esse é o maior gargalo que ele ouve falar entre aqueles que vivem do campo.
“É a parte do papel, a parte de integrar a produção com resultado. E esse projeto veio para tentar unir e fortalecer a propriedade”.
Por isso, além do olhar para a lavoura, a técnica de campo do Senar Mato Grosso também acompanha a gestão da propriedade. Trabalho que agora ficou sob os cuidados do genro do “seo” Antônio. Ele também se mudou de Curitiba para Lucas do Rio Verde e tem contado com o auxílio da técnica de campo nesta adaptação ao mundo agro.
“É um mundo novo. Eu acho que esse projeto do Senar é bem legal, porque ele consegue alinhar a prática do campo com a parte administrativa”, diz Lucas.
A técnica de campo da ATeG Grãos, Rúbia Crivelli, pontua que essa atenção minuciosa aos números, fundamental para o sucesso da fazenda, ainda é um desafio para muitos agricultores. “Até foi uma surpresa ver que muitos produtores ainda estão bem atrasados quanto a esse lado da gestão da propriedade, gestão financeira, gestão administrativa”.
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O lançamento da frente da ATeG voltada aos produtores de grãos, de acordo com o superintendente do Senar Mato Grosso, Marcelo Lupatini, vem para reforçar o compromisso da entidade com quem vive da renda do campo e garante a existência da Instituição.
“E eu estou pedindo [aos produtores] que venham ao Senar para nos ajudar a formatar serviços que precisem. E o pessoal está vindo. Eu estou gostando dessa interação e tenho certeza que daqui dois, três anos vamos ter muitos produtos para o produtor de grãos”.
E a expectativa para o futuro, segundo o “seo” Antônio e a filha Caroline, é seguir trabalhando em família, sempre unidos e crescendo.
“Nós viemos para cá no intuito de crescer e não permanecer do jeito que está. Então, daqui 10 anos, se Deus permitir, vamos ser muito maiores e quem sabe em outros ramos”, salienta Caroline.
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Fonte: canalrural