Talvez sim, talvez não. Uma publicação do Projeto Global Mind em seu quarto relatório anual sobre o estado mental do mundo, por meio da plataforma Neurotech Sapien Labs, diz que a América Latina comporta a maior parte da população mundial com melhor saúde mental, mas que, apesar de o Brasil ser um país latino-americano, ele destoa e se desgarra do grupo, ocupando uma das piores posições do ranking em relação à saúde mental, pondo-se na quarta posição entre os piores dos 71 países avaliados.
A pesquisa não se reporta necessariamente apenas à sensação de alegria ou tristeza, mas, principalmente, à habilidade interior de agir nos diversos contextos da vida; de que forma a pessoa se vê no presente e no futuro; como regula suas emoções; se tem capacidade de adaptação a coisas novas; se é resiliente; se há motivação para seguir seus projetos de vida ou para encarar novos projetos.
Este estudo se refere ao período pré-pandêmico de 2019 até o período pandêmico de 2021. Frente à pesquisa, vem a pergunta: como o Brasil, um país de clima bom, onde o sol aparece o ano inteiro, que abriga um povo hospitaleiro e cordial, que sempre encontra o tal jeitinho brasileiro para ajeitar os entraves do caminho, pode figurar entre aqueles de pior saúde mental do mundo? Parece mentira, mas é verdade, nosso país está entre aqueles com as maiores taxas de ansiedade, depressão e abuso de álcool do planeta.
🎧 Ouça abaixo bate-papo com Marcos Estevão na Morena FM:
O brasileiro é ansioso, vive estressado, temeroso com sua integridade física, haja vista aos grandes índices de violência. Falta também segurança financeira, com volatilidade da economia e desemprego contribuindo com o estresse do dia a dia. O brasileiro pouco procura tratamento de seus transtornos mentais e esses problemas o levam à perda de sua funcionalidade, o que prejudica muito seu crescimento pessoal e do país.
Aliado a isso, há carência de acesso a tratamento adequado de saúde, principalmente os gratuitos. Paralelamente a isso, os planos e seguros de saúde operam com altos preços, deixando grande parte da população dependente da gratuidade, que termina sendo insuficiente e não conseguindo abraçar todos aqueles que necessitam de assistência.
Além de tudo isso, é claro e notório que tudo se agravou com a pandemia. Com ela e depois dela aumentaram, ou pelo menos se agravaram, os casos de ansiedade, depressão, insônia e consumo de álcool e outras drogas. As reações agudas ao estresse e o estresse pós-traumático também se elevaram, consideravelmente, com a pandemia, seja pelo desenvolvimento do medo de morrer ou de perder alguém. A pandemia também diminuiu um dos grandes aliados contra o estresse – o contato com a família e amigos.
O estigma com a doença mental e, consequentemente, com seu tratamento, ainda é um grande obstáculo contra os cuidados com a saúde da mente. Apesar de ser hoje bem menor do que no passado, infelizmente, ainda existe, não obstante as inúmeras campanhas para eliminá-lo.
Precisamos melhorar nossa política de saúde mental e aumentar a informação através da mídia, nas escolas, nas comunidades. Há necessidade de que a população compreenda que a doença mental existe e que há tratamento para ela.
Nos casos mais leves, as clínicas particulares e os CAPS devem ser procurados para e acompanhamento dos pacientes, que dele necessitarem.
Quando houver maior gravidade, esses mesmos locais de atendimento primário saberão o momento certo de encaminhar para algum tratamento menos convencional ou para hospitalização, que é sempre temporária, em busca do restabelecimento da saúde mental e retorno do paciente à família e ao exercício de suas atividades habituais, com melhor qualidade de vida.
Fonte: primeirapagina