Há de se convir que em 2020 e em 2021 vivemos dois longos anos de angústia, com a pandemia da COVID-19, causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, que ceifou a vida de cerca de 15 milhões de pessoas em todo o mundo nesses dois primeiros anos de doença, que foram, sem dúvida, os piores anos, porque em 2020 ainda não dispúnhamos de vacinas e em 2021, a imunização foi introduzida gradativamente nos diversos países.
A gravidade da infecção causou traumas por estresse emocional contínuo, que se transformou, depois de algum tempo, em transtorno de estresse pós-traumático e em diversos outros transtornos mentais e de comportamento, principalmente ansiedade, depressão e abuso de álcool e outras drogas.
Essa maior incidência e prevalência de transtornos psiquiátricos deveu-se, provavelmente, tanto à própria infecção viral, quanto ao acontecimento traumático relacionado a uma doença de alta gravidade e considerável letalidade, onde tanto o medo de perder a vida, como o temor de perder entes queridos, trouxe grande desgaste psicológico, aumentando consideravelmente os casos de doenças mentais, principalmente em pessoas predispostas.
Sabe-se, também, que mais do que o surgimento de novos casos de transtornos mentais, houve o agravamento de casos já existentes, pelos mesmos motivos acima citados. O certo é que o número de problemas psíquicos, durante a pandemia da COVID-19, aumentou cerca de 25% no mundo na época de maior letalidade da doença.
Dentre os transtornos mentais mais encontrados, estão a ansiedade; a depressão; o abuso de álcool e outras drogas; e os prejuízos cognitivos, principalmente da atenção, concentração e memória. Infelizmente, também houve um acréscimo no número de automutilações, tentativas de suicídio e suicídios consumados.
Muitos fatores contribuíram para o aparecimento de transtornos mentais. Um deles, como já vimos, foi o medo de perder a vida por causa da doença ou de perder parentes e amigos infectados por ela, ou por viver a um só tempo o luto e o terror de deixar pessoas próximas enlutadas com sua própria perda.
Também pesou para o surgimento do sofrimento mental o isolamento social, com constante sentimento de solidão e, consequentemente, tristeza e sensação de vazio e abandono.
Além disso, a preocupação com as perdas financeiras pela falta de atividade laborativa presencial ou pela diminuição do ritmo de trabalho, apenas na modalidade virtual com consequente desaceleração da economia.
Outro fator ocorreu pelas desavenças familiares e conjugais, uma vez que parentes e casais compartilhavam o mesmos espaço juntos, por mais tempo que o usual, às vezes dias seguidos, diferente do que vinha ocorrendo, quando cada qual seguia seu rumo durante o dia, muitas vezes apenas cruzando seus caminhos durante as refeições e na hora de dormir.
A quantidade dos problemas psiquiátricos devidos à COVID-19, com o maior controle atual da enfermidade viral, tende a voltar aos números anteriores à pandemia. A intervenção psicológica presencial ou virtual pode melhorar muito o enfrentamento de temores em relação à doença, reservando-se o tratamento psiquiátrico para os casos mais graves, quando há necessidade de uso de medicamentos e outros procedimentos médicos.
Os apoios psicossocial e psiquiátrico deveriam ser priorizados na rede pública, nos casos de infecção da COVID-19, principalmente nos mais graves e na COVID longa. Isso, provavelmente, reduziria o número de casos de transtornos psiquiátricos, ou pelo menos, sua gravidade.
Fonte: primeirapagina