Eu costumo observar e dizer que nas últimas décadas estamos vivendo algo que poderíamos denominar Síndrome de Narciso, a busca por um corpo perfeito e a perseguição obsessiva por essa suposta perfeição. Olhar-se ao espelho e cultuar sua beleza é o hobby predileto de indivíduos que parecem ter esta síndrome.
Por outro lado, há o que chamo de Síndrome do Patinho Feio, quando a pessoa se vê frequentemente feia, com defeitos físicos e consequentemente pensamentos obsessivos de correção desses tais defeitos, geralmente apenas na sua própria visão. O nome científico dessa síndrome é Transtorno Dismórfico Corporal (TDC).
Nesses casos, a pessoa adota um comportamento disfuncional, vendo uma parte ou diversas partes do seu corpo defeituosas, com necessidade de correção para tornar-se uma pessoa normal como seus amigos e colegas, que ela vê como normais e diferentes dela.
Muitas vezes a pessoa com este transtorno costumam retrair-se dentro de casa para evitar ser vista fora de sua residência e encarar outras pessoas, achando que vai ser observada por elas, pontualmente em seus “defeitos físicos”.
Há uma procura incessante de correção física, em busca de um corpo que a pessoa pensa que seria normal e não defeituoso; julga ela que precisa consertar seus defeitos e acredita no seu julgamento.
Na verdade, muitas vezes não há nenhuma alteração física aos olhos de terceiros; algumas vezes, há apenas diferenças físicas e não defeitos, como tipos de nariz, de lábios, de orelhas, tamanho das mamas, etc, mas que são vistos como algo insuportável em sua vida, trazendo sentimentos de inferioridade e baixa autoestima à pessoa com esse transtorno.
Começa, então, a busca de atendimento profissional, principalmente de cirurgiões plásticos e nutricionistas, além de exercícios físicos, comumente exagerados, ainda que contrariando a orientação de educadores físicos.
Comumente, depois de uma correção de algo, que na maioria das vezes não seria necessário corrigir, o indivíduo com este problema vai encontrar outro defeito físico em seu corpo e, novamente, procurar corrigi-lo.
O Transtorno Dismórfico Corporal trata-se, portanto, de uma distorção da imagem corporal, ou seja, quando a pessoa se vê com “defeitos” inexistentes, ou maximiza possíveis diferenças em algum segmento de sua estrutura corporal, prende-se a isso obsessivamente, no sentido de necessidade de correção. Este transtorno geralmente inicia na adolescência, quando ocorrem grandes modificações corporais e maiores preocupações com essas mudanças. A busca de correção também começa na adolescência e persiste na fase adulta.
A pessoa com este transtorno sofre por isso e faz sofrer aqueles de sua convivência, que terminam se juntando a ela na mesma luta em prol da mudança de algo, provavelmente desnecessário. Há necessidade de acompanhamento psiquiátrico e psicológico. Geralmente os medicamentos têm indicação de uso para aliviar os sintomas angustiantes e como tentativa de eliminar a distorção da imagem que a pessoa tem do próprio corpo.
Fonte: primeirapagina