Mundo

Netanyahu substitui membro para evitar entrada de ortodoxos no exército: Entenda a polêmica

2025 word3
Grupo do Whatsapp Cuiabá

Sob um clima de forte pressão política e protestos públicos, o deputado Boaz Bismuth foi escolhido pelo partido Likud para presidir a Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Knesset, em substituição a Yuli Edelstein. A votação, marcada por acusações de manobra política, expôs as fraturas internas do governo israelense diante do impasse sobre a obrigatoriedade do serviço militar para judeus ultraortodoxos.

A nomeação foi aprovada por 29 votos contra quatro. Ocorreu depois de semanas de desgaste entre Edelstein e lideranças dos partidos haredim (judeus ultraortodoxos).

Ele foi afastado do cargo depois de se recusar a avançar com uma proposta legislativa que, segundo interlocutores religiosos, representava uma ameaça à isenção tradicional de alistamento para esse setor.

A ideia de Edelstein incluía cotas obrigatórias e punições para os que se negassem a servir, o que provocou a saída temporária das siglas Shas e Judaísmo Unido da Torá da coalizão governista.

Boaz Bismuth, aliado próximo do primeiro-ministro , passou a ser considerado o favorito para liderar a comissão. Isto depois de um movimento político articulado para destravar sua indicação.

Netanyahu declarou apoio ao deputado Hanoch Milwidsky para a presidência interina da Comissão de Finanças, o que abriu espaço para que os outros postulantes ao cargo principal abandonassem suas candidaturas. Com isso, Bismuth teve caminho livre para ser eleito.

A escolha do novo presidente foi cercada de controvérsias. Deputados do próprio Likud, no , chegaram a solicitar que a votação fosse secreta, sob a justificativa de evitar retaliações internas.

Mesmo com o apoio de mais de 10% dos votantes, o pedido foi rejeitado pelo assessor jurídico do partido, Avi Halevy. Ele considerou a solicitação incompatível com as normas aplicáveis às decisões da bancada dentro do parlamento.

A decisão foi considerada crucial, pois analistas acreditam que Edelstein teria recebido mais votos em um cenário de anonimato.

Familiares de reféns reclamam de Netanyahu

Familiares de reféns mantidos pelo Hamas desde os ataques de 7 de outubro também protestaram nos corredores do Knesset, com críticas ao governo por priorizar a nomeação política em vez de debater ações concretas para a libertação dos sequestrados.

Yael Adar, mãe de Tamir Adar, morto no ataque e cujo corpo permanece em Gaza, desabafou depois de presenciar a reunião do partido:

“Queremos um acordo de reféns que ponha fim à guerra e traga todos de volta de uma só vez.”Ela também condenou o fato de Netanyahu ter passado por eles sem sequer os cumprimentar.

Depois de ser confirmado no cargo, Bismuth afirmou que assume a função como uma responsabilidade de valor nacional. Em discurso emocionado, destacou os laços entre religião e serviço militar em sua própria família:

“A Torá [livro sagrado do judaísmo] me trouxe até aqui e o exército me mantém aqui”, destacou. “A lei do alistamento vive dentro da minha casa, minha filha é soldado, com a boina vermelha, e meu filho usa tzitzit [fios rituais], kipá [solidéu] e estuda na yeshivá [escola religiosa]. Tenho orgulho dos dois. Exército e Torá, essa combinação é linda.”

“É possível integrar os dois, como uma mão que segura a outra”, disse o novo líder indicado pelo primeiro-ministro. “Cada uma fortalece a outra. A lei do alistamento é uma questão nacional, não política. Todo o povo de Israel, pelo bem de todo o povo de Israel.”

Apesar do tom conciliador, a escolha foi fortemente contestada pela oposição. O ex-primeiro-ministro Yair Lapid, do partido Yesh Atid (Há um futuro) criticou duramente a nomeação:

“Isso é um tapa na cara dos soldados, dos reservistas e de suas famílias”, afirmou Lapid. “Também é um dia negro para o Likud, que virou uma filial dos haredim e dos que fogem do alistamento.”

O ex-ministro da Defesa, Benny Gantz, outro opositor, também se manifestou por vídeo, no qual acusa o governo de sacrificar interesses de segurança nacional por ganhos políticos:

“Há poucos minutos, os membros do Likud decidiram abandonar nossos combatentes heroicos e fechar os olhos para os desafios e interesses de segurança do Estado de Israel, tudo por ganho político” acusou Gantz, do Kahol Lavan (Azul e Branco), que já perdeu três disputas para Netanyahu.

“Em plena guerra, os membros do Likud, liderados por Netanyahu, decidiram transformar uma das comissões mais importantes do Knesset em uma encenação, com um único objetivo: isentar os haredim do serviço militar.”

Gantz finalizou com um apelo à consciência dos membros da base governista:

“Aos membros do Likud, digo hoje: vocês perderam o contato com o povo e perderam o rumo. Este não é o Likud de Menachem Begin”, disse, citando o primeiro-ministro de 1977, que iniciou na atividade política no grupo paramilitar Irgun, nos anos 1940. “

“Definitivamente não é o legado de Ze’ev Jabotinsky [líder nacionalista nos tempos da fundação de Israel]. Quem pensa que a luta terminou, que a lei de isenção vai passar, está enganado. Continuaremos lutando, não desistiremos. Quem serve não se renderá aos corruptos. Levará o tempo que for necessário.”

Edelstein, por sua vez, fez referência à repressão soviética que enfrentou em sua juventude ao comentar sua saída:”Desde os tempos da União Soviética comunista, sempre paguei um preço pela minha ideologia.”

O futuro da proposta sobre o alistamento obrigatório dos haredim permanece incerto. Segundo fontes da coalizão, ao menos sete deputados já se opõem a qualquer versão branda do projeto, o que levanta dúvidas sobre a viabilidade de aprovação, inclusive depois da troca de comando na comissão.

Fonte: revistaoeste

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidária que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.